Ele está voltando! Hacker contratado para rastrear PM volta para MS. Será que tem mais coisas pra contar?

O hacker Eurico dos Santos Mota, de 28 anos, apontado pela “Operação Omertà” contratado para rastrear e repassar informações sobre a rotina do capitão PM Paulo Roberto Teixeira Xavier à milícia armada alvo das investigações, foi transferido ontem (21) de Joinville (SC) para Campo Grande (MS). Ele tinha sido preso na quarta-feira (20) pela Polícia Civil de Santa Catarina com base informações da Polícia Civil de Mato Grosso do Sul.

O hacker chegou a ser ouvido pela DEH (Delegacia Especializada de Homicídios) durante as apurações de execuções em Campo Grande, meses antes de deflagração da operação. Ele contou que foi procurado por José Moreira Freires, o Zezinho, e Juanil Miranda Lima, pistoleiros da milícia, segundo a força-tarefa. A missão de Eurico seria levantar “em tempo real, por meio de atividades de informática (hackeamento), a localização (rastreamento) de Paulo Roberto Xavier, que era o alvo da organização criminosa”, foi registrado nas páginas do procedimento de investigação criminal contra o grupo de extermínio.

O filho do capitão da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul, o estudante Matheus Coutinho Xavier, 20 anos, foi executado em 9 de abril deste ano. O pai logo disse que o crime foi por engano e que ele era o alvo. Também no depoimento, Eurico contou que foi contrato depois de publicar um anúncio oferecendo serviços de formatação de computadores e também de detetive. Como não sabia um jeito de rastrear a vítima em tempo real, pediu em um grupo de hackers e recebeu ajuda e outro Estado.

A solução encontrada por ele foi se passar por mulher e tentar marcar um encontro com Xavier para coletar o maior número possível de informações. O capitão, no entanto, não apareceu e acabou descobrindo pelo próprio hacker a verdade sobre o contato e a tentativa de emboscada. Caso tivesse aparecido, morreria cerca de um mês antes da execução do filho.

De acordo com a polícia de Santa Catarina, após receberem informações da Polícia Civil de Mato Grosso do Sul, Eurico foi localizado por policiais da Core (Coordenadoria de Recursos Especiais), da DIC (Divisão de Investigação Criminal) de Joinville e da Diretoria de Inteligência da Polícia Civil. Ele tentou fugir do local onde estava escondido, mas foi pego.

A Operação

A existência de uma milícia armada passou a ser considerada em maio deste ano, quando o guarda municipal Marcelo Rios foi preso com um arsenal de armas de grosso calibre, em uma casa que seria de propriedade dos empresários Jamil Name e Jamil Name Filho. No dia 27 de setembro, o Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), órgão de investigação ligado ao Ministério Público do Estado de Mato Grosso do Sul (MPMS), e a Delegacia Especializada em Repressão a Roubos a Banco, Assaltos e Sequestros (Garras) deflagraram a “Operação Omertà” e prendeu Jamil Name e Jamil Name Filho, além de outras 17 pessoas, entre funcionários da família, policiais civis e guardas municipais.

Só não foram presos na ação policial o ex-guarda municipal guarda municipal José Moreira Freire e o auxiliar Juanil Miranda Lima – apontados como os executores dos assassinatos investigados pela força-tarefa e foragidos desde abril, quando as investigações começaram a avançar –, além do advogado Alexandre Fransolozo, cujo mandado de prisão temporária (suspenso pelo Tribunal de Justiça) nem chegou a ser cumprido.

Os três policiais civis da ativa foram afastados em 2 de outubro, tendo a arma recolhida, bem como a carteira funcional e demais pertences do patrimônio público destinado aos policiais, além da suspensão de senhas e login de acesso aos bancos de dados da instituição policial, suspensão de férias e de avaliação para fins de promoção. Os quatro guardas municipais também foram afastados, e dois deles tiveram os armamentos recolhidos na mesma data.

Os assassinatos de pelo menos três pessoas estão relacionados com o grupo de extermínio sob investigação: do policial militar reformado Ilson Martins Figueiredo, ocorrido em 11 de junho do ano passado; do ex-segurança Orlando da Silva Fernandes, em 26 de outubro de 2018; e do estudante de Direito Matheus Xavier, em abril deste ano.