Quadrilha mantinha faxineira e servidor como “laranjas” que movimentaram R$ 50 milhões

Com apoio do DRACCO (Departamento de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado), da Polícia Civil de Mato Grosso do Sul, a Polícia Civil do Rio Grande do Sul deflagrou, nesta terça-feira (10/08), a “Operação Tríade”, que investiga um complexo sistema de lavagem de dinheiro do organização criminosa sediada na fronteira com o Uruguai. Ao todo, foram cumpridas mais de 120 ordens judiciais de busca e apreensão, bloqueio de contas bancárias e sequestro de bens e valores nos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul.

Segundo o DRACCO, os criminosos, com a ajuda de outras duas organizações criminosas, criaram filiais na Região do Vale dos Sinos e outra em São Paulo e movimentaram mais de R$ 78 milhões em operações financeiras fraudulentas desde o ano de 2020. Em um dos casos mais curiosos, uma mulher que trabalha em uma empresa de limpeza em Mato Grosso do Sul movimentou mais de R$ 15 milhões na conta bancária da sua pessoa jurídica, que não existe, pois no endereço há apenas uma casa abandonada.

Em outro caso, um homem de 45 anos, funcionário público municipal de Campo Grande, movimentou mais de R$ 35 milhões em operações suspeitas, sendo que, em ambos os casos, os envolvidos foram identificados e prestarão depoimentos sobre sua participação nos crimes de lavagem de dinheiro e organização criminosa. As investigações começaram em 2020, quando a Delegacia da Polícia Civil de Bagé (RS) realizou uma grande apreensão de drogas em Porto Alegre (RS) – cerca de 12 quilos de cocaína.

Durante as investigações, em ações integradas com o setor de Inteligência da Brigada Militar e da Polícia Rodoviária Federal (PRF), ainda foram apreendidos aproximadamente 31 quilos de cocaína, 57 quilos de maconha e 5 quilos de crack em diversas ações. No último dia 30 de julho, a Polícia Civil do Rio Grande do Sul desarticulou um laboratório de refino de cocaína e crack em Bagé, onde três pessoas foram presas em flagrante.

Desde o início do acompanhamento sistêmico das organizações, 20 pessoas foram presas em flagrante e 22 indiciadas pelos crimes de tráfico de drogas, associação para o tráfico e posse de instrumentos para produção de drogas. O líder da organização criminosa da fronteira está recolhido na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas, onde cumpre mais de 120 anos de prisão, e de lá comanda a distribuição de drogas para diversas cidades do Rio Grande do Sul.

Os investigadores da unidade especializada identificaram movimentações financeiras suspeitas realizadas, por meio de contas de “laranjas”, em cidades da fronteira, cujo destino eram contas bancárias de empresas e pessoas em diversas cidades do país (especialmente nos Estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul). As contas eram usadas para gerenciamento e contabilidade do fluxo de dinheiro decorrente do tráfico de drogas.

O delegado Cristiano Ritta, da Polícia Civil de Bagé, destacou que a “Operação Tríade” é mais um duro golpe no sistema financeiro do crime organizado nacional, evidenciando que essas três organizações criminosas estão operando de modo sincronizado para abastecer o tráfico de drogas do Rio Grande do Sul e Uruguai, e promover a lavagem de dinheiro a partir de centenas de operações no país inteiro.

Outro ponto relevante evidenciou que as Organizações Criminosas investigadas pela Delegacia de Lavagem de Dinheiro do DENARC no âmbito da “Operação Irmandade” (deflagrada em julho/2021), também operava o fornecimento de droga e de lavagem de dinheiro para a Organização Criminosa da Fronteira. Em Mato Grosso do Sul, a Operação Tríade contou com o apoio da equipe policial do DRACCO, que participou efetivamente das buscas nos locais referendados, materializando a utilização de locais e empresas fachadas, do tipo “laranjas”, visto que inclusive, os locais encontravam-se desocupados, mesmo sendo apontados como local de grande movimentação financeira.

Outro ponto relevante evidenciou que as empresas alvo da operação em Mato Grosso do Sul foram constituídas por intermédio de um profissional contabilista, recentemente preso pelo DRACCO – Departamento de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado da Polícia Civil de Mato Grosso do Sul.

Trata-se portanto de uma robusta evidência de que o contador retirado de circulação pelos operacionais do DRACCO se especializou e se dedicava à criação de empresas de fachada, mediante emprego de falsidades documentais diversas, para lastrear os recursos monetários auferidos com as atividades criminosas.

Dada a sofisticação dos meios empregados, a engenharia criminosa contábil desenvolvida pelo profissional contabilista irradiava seus tentáculos a organizações criminosas até mesmo de outros estados da federação, como Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo.
Em Mato Grosso do Sul, a Operação Tríade contou com o apoio dos investigadores do DRACCO – Departamento de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado. Também fizeram parte equipes da Delegacia Regional e Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas de Canoas, a Delegacia de Charqueadas, a 2ª Delegacia de Pelotas e a Polícia Civil de São Paulo.
Mapa do caminho do dinheiro a partir de Bagé, onde foi iniciada a investigação