Depois que o PCC contaminou toda a fronteira, autoridades da Segurança de MS traçam planos

A velha prática de reforçar a fechadura só depois que a porta foi arrobada se encaixa como uma luva para a decisão da Sejusp (Secretaria Estadual de Justiça e Segurança Pública) de autorizar o DOF (Departamento de Operações de Fronteira) a arregimentar aproximadamente 25 policiais do Batalhão de Choque da Polícia Militar, com sede em Campo Grande, para fortalecer o combate ao crime organizado na fronteira com o Paraguai.

Do que adianta enviar a debilitada “cavalaria” depois que as facções criminosas PCC (Primeiro Comanda da Capital), em maior escala, e CV (Comando Vermelho), em menor proporção, dominaram o tráfico de drogas, de armas e de munições nas cidades brasileiras e paraguaias localizadas na faixa de fronteira? Uma prova de que o crime organizado, tanto lá na fronteira, quanto aqui em Campo Grande, já assumiu o controle faz tempo são as execuções que estão sendo verificadas com armas de grosso calibre desde a metade do ano passado para cá.

E olha que o atual titular da Sejusp (Secretaria Estadual de Justiça e Segurança Pública), Antonio Carlos Videira, é de Dourados e tem uma larga experiência na região de fronteira e só agora acorda para a situação que todo mundo já sabia. Afinal, Videira começou como escrivão e passou a delegado, atuando na Delegacia de Polícia de Jateí, Departamento de Operações de Fronteira (DOF), Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes de Fronteira (Defron) e Delegacia Regional de Dourados.

Porém, somente agora que a fechadura já foi arrobada, Antonio Carlos Videira deu carta branca para que o coronel PM Marcos Paulo, que já comandou o Choque e assumiu o DOF, monte a equipe que quiser, com servidores de sua confiança, incluindo de outras unidades da PM. “Ele está livre para escolher quem quiser, desde policiais do Choque a policiais que estão em outras funções. No caso do Choque, é importante porque são policiais que têm conhecimento de polícia especializada e que, com os servidores do DOF, que são especialistas em policiamento de fronteira, vão trocar experiências e fortalecer nossa segurança pública”, disse o secretário, depois que o leite já foi derramado.

A medida “emergencial” teve início ontem (18), por Ponta Porã, na fronteira com o município paraguaio de Pedro Juan Caballero, com uma operação realizada por policiais do DOF, Polícia Civil e Polícia Militar, com o objetivo de impedir que ataques do crime organizado, como o que vitimou o ex-candidato a prefeito de Ponta Porã, Francisco Chimenez, tio do narcotraficante brasileiro Jarvis Chimenez Pavão, na madrugada de quinta-feira (17).

O secretário Antônio Videira disse que o objetivo é “sitiar” a região por tempo indeterminado, até que o risco de ataques no lado brasileiro da fronteira diminua, aumentando a segurança. “Além dos policiais, também temos servidores da inteligência da Sejusp para auxiliar nas ações, com apoio do helicóptero. Isso ocorre sem comprometer o policiamento que foi reforçado em Paranhos, Sete Quedas e Coronel Sapucaia”.

Chimenez foi morto na quinta-feira, dentro de casa, na Rua Calógeras quase com a Guia López, em Ponta Porã. Mais de dez homens armados invadiram a residência e dispararam cerca de 190 vezes. Ele é a quarta pessoa ligada a Pavão que é morta em menos de três meses. Traficante internacional identificado como Zacarias, chefe do Bando do Zacarias e um dos principais distribuidores de drogas da fronteira, foi alvo de ataque de guerra com bombas e granadas na madrugada do dia 19 de dezembro, em Ypehú, cidade paraguaia vizinha do município sul-mato-grossense de Paranhos.