Depoimentos começam a descortinar a morte do jovem Matheus, mas cadê os dois atiradores?

Dois dias de depoimentos na audiência sobre a execução do estudante Matheus Coutinho Xavier, 20 anos, começam a “descortinar” a morte do acadêmico de Direito ocorrida no dia 9 de abril de 2019. O primeiro dia foi marcado pela denúncia feita pelo capitão PM reformado Paulo Roberto Teixeira Xavier, de 42 anos, pai de Matheus Xavier, contra o ex-presidente do TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul), desembargador aposentado Joenildo de Souza Chaves, enquanto o segundo dia teve depoimentos de quatro pessoas, três delas diretamente ligadas às investigações da Operação Omertà, contra grupo de extermínio atuante em Campo Grande (MS) sob o comando dos empresários Jamil Name, 83 anos, e Jamil Name Filho, 42 anos.

Segundo o policial militar reformado, o desembargador teria oferecido R$ 2 milhões para ele esquecer a história e deixar Mato Grosso do Sul em agosto do ano passado, um mês antes da deflagração da Operação Omertà. De acordo com matéria do site Campo Grande News, Joenildo Chaves teria procurado o Capitão Xavier a pedido do empresário Jamil Name, 83 anos, acusado de ser o mandante do assassinato por engano do acadêmico de Direito.

Diante do juiz Aluizio Pereira dos Santos, da 2ª Vara do Tribunal do Júri, dos promotores de Justiça, dos advogados e dos presentes no Tribunal do Júri, Paulo Xavier contou que foi procurado pelo desembargador no lava-jato, próximo da residência onde ocorreu o assassinato. Na ocasião, Chaves perguntou ao capitão da PM quanto ele exigia para resolver o assunto.

De acordo com o Campo Grande News, o magistrado teria proposto “R$ 500 mil, R$ 1 milhão, R$ 2 milhões”, para o policial esquecer a investigação sobre o assassinato do filho e ir embora do Estado. Xavier disse, na condição de informante, que lhe dispensou de jurar dizer somente a verdade, que aconselhou Joenildo de Souza Chaves a não se envolver com o assunto.

Conforme o depoimento, esta foi a segunda vez que Jamil Name tentou abortar a investigação da execução de Matheus Coutinho Xavier. Em abril do ano passado, o policial Vladenilson Olmedo Daniel levou o capitão até a casa de Jamil Name. Na reunião, o policial, o empresário, Jamil Name Filho e o guarda municipal Marcelo Rios o teriam aconselhado a deixar Campo Grande.

A investigação do assassinato de Matheus levou a descoberta do arsenal de guerra em poder de Rios e a deflagração da Operação Omertà, que prendeu os supostos integrantes do grupo de extermínio. O desembargador Joenildo de Souza Chaves foi procurado pelo Campo Grande News, mas não se manifestou porque está relacionado no processo sobre o assassinato de Matheus. Ele vai depor como testemunha de defesa de Jamil Name.

Durante a Operação Omertà, no fim de setembro do ano passado, o Gaeco (Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado) apreendeu cheque de R$ 100 mil de Joenido Chaves em poder de Jamil Name. De acordo com a assessoria do Tribunal de Justiça, a corte não se manifestará sobre o depoimento de Paulo Xavier porque se trata de caso em julgamento. Já em relação ao cheque, como o ex-presidente já se aposentou, o órgão não abriu nenhuma investigação.

“Por se tratar de caso que está sendo julgado, o Tribunal de Justiça não se manifestará por expressa vedação legal. Além disso, tratando-se de magistrado aposentado, não há medida administrativa a ser tomada pelo TJMS”, resumiu a assessoria. O MPE denunciou pelo assassinato de Matheus os empresários Jamil Name e Jamil Name Filho, 42, Marcelo Rios, o policial civil Vladenison Daniel Olmedo, o guarda municipal Marcelo Rios, os ex-guardas José Moreira Freires, o Zezinho, e Juanil Miranda Lima, e o Eurico dos Santos Mota.

2º dia

No segundo dia de audiência, as testemunhas revelaram ao juiz da 2ª Vara do Tribunal do Júri detalhes sobre o crime. Assim como ontem, a audiência foi presidida pelo juiz Aluízio Pereira dos Santos, contou com três promotores do Ministério Público de Mato Grosso do Sul e uma banca de defesa formada por nove advogados. Seis pessoas deveriam prestar depoimento, mas duas delas faltaram, o delegado de Polícia Civil João Paulo Sartori e Lidiane Paula Mendonça, dona da casa que era frequentada por réus do crime.

Por isso, foi preciso marcar nova audiência para concluir os depoimentos, no dia 25 de março pela manhã. No mesmo dia, à tarde, e no dia 26, o dia todo, foi agendada a audiência para depoimento das 18 testemunhas de defesa dos sete réus. Nesta terça-feira, a primeira a ser ouvida foi a guarda civil municipal Liliane Caminha De Oliveira, que teve um relacionamento amoroso com o ex-guarda Marcelo Rios – preso em maio do ano passado com arsenal de guerra.

Ela foi ouvida como informante e diante do juiz afirmou que na época da morte de Matheus morava com ex-guarda municipal, apontado pela polícia como o responsável por contratar os pistoleiros que executaram o rapaz. Liliane negou conhecer todos os envolvidos no caso, mas reforçou a ligação de Marcelo com Jamil Name. Afirmou que o ex trabalhava como “motorista e talvez segurança” do empresário. Lembrou ao promotor Douglas Oldegardo Cavalheiro dos Santos que foi duas vezes à casa em que o arsenal estava, mas nunca viu nada de diferente em nenhum dos cômodos.

Os outros três depoimentos da tarde foram de policiais da força-tarefa responsável pela investigação do caso. Escrivão do Garras (Delegacia Especializada Repressão a Roubos a Banco, Assaltos e Sequestros), William Melgarejo relatou que as investigações que levaram a equipe a Marcelo Rios começaram a partir de denúncias.

A informação, segundo o policial, era que o então guarda-municipal escondia as armas de grosso calibre usadas do assassinado de Matheus e pelos menos outras duas pessoas em Campo Grande. Em depoimento, o escrivão relatou que todo o material apreendido foi submetido a exames de confronto balístico, mas o fuzil usado para matar o estudante não foi encontrado.

O delegado Fábio Peró, titular do Garras e alvo de ameaças de morte após as prisões da operação Ormetá, também prestou depoimento como informante. Revelou que em 9 de abril, dia do crime, estava de plantão como supervisor da Polícia Civil e foi até a casa de Paulo Roberto Teixeira Xavier, o verdadeiro alvo da encomenda, onde a vítima foi baleada ao manobrar uma caminhonete da garagem.

Detalhou que depois do crime, equipes da DEH (Delegacia Especializada de Repressão aos Crime de Homicídio) identificaram em imagens de câmeras de segurança da região um Chevrolet Onix, branco, usado pelos bandidos durante o atentado. No dia seguinte, o mesmo veículo foi encontrado incendiado na região da MS-040. “Área que o José Moreira Freires, o Zezinho, conhecia como a palma da mão. Ele tinha uma chácara na região e morava lá na época em que foi julgado pelo assassinado do delegado Paulo Magalhães”.

O delegado reafirmou que o carro era furtado de Suzano, interior de São Paulo, mas estava com placas clonadas de veículo com mesmo modelo e cor. Conforme Peró, era “característica da organização criminosa” usar carros roubados e depois atear fogo neles, para apagar qualquer tipo de prova. Reforçou que o mesmo esquema foi “seguido à risca” em outros dois homicídios em Campo Grande, o do policial militar Ilson Martins de Figueiredo e de Orlando da Silva Fernandes, o Bomba, crimes também investigados pela força-tarefa.

Carlos Delano, delegado titular da DEH e responsável pelas primeiras investigações sobre a morte de Matheus, relatou ao promotor Douglas Oldegardo que pela experiência com os outros assassinatos, a equipe imediatamente suspeitou se tratar do mesmo grupo e por isso, o veículo usado pelos bandidos também seria incendiado. “Como de fato aconteceu”. Aos advogados, o delegado lembrou que o pai de Matheus viu o mesmo Onix branco passar em frente à casa da família dias antes dos assassinatos e que reconheceu Juanil Miranda Lima como motorista, por isso a suspeita é que o veículo também foi usado para “levantar informações sobre o alvo”, que na verdade era Paulo Roberto Xavier.

Além disso, lembrou que as imagens do Onix próximo à cena do crime foram captadas segundos antes dos disparos, mas que as câmeras não registrar o “clarão” dos tiros como as defesas insistiram em perguntar para ele durante o depoimento. Os delegados ainda falaram do envolvimento de Eurico dos Santos Mota, contratado para localizar Paulo Roberto Xavier em tempo real para a quadrilha, mas que precisou recorrer a um grupo de hackers para conseguir “entregar o serviço” e da intenção de Marcelo Rios em fazer delegação premiada.

Peró explicou que no tempo em que passou nas celas do Garras, o ex-guarda municipal demonstrou interesse em ajuda várias vezes e chegou a revelar que vendeu duas armas usadas pela organização para “pessoas comuns”, uma delas um professor de uma escola particular de Campo Grande. Mas que mudou de opinião após conversar com seu advogado na época, Alexandre Franzoloso. “Era comum a organização revender as armas depois que usavam”. Com informações do site Campo Grande News.