Delegado “xerifão” de Corumbá que matou boliviano é acusado de planejar morte de colegas. Medonho!

Preso desde março de 2019, o delegado da Polícia Civil Fernando Araújo da Cruz, 34 anos, acusado de matar o pecuarista boliviano Alfredo Rangel Weber, 48 anos, dentro de uma ambulância em Corumbá (MS) no dia 23 de fevereiro de 2019, agora é acusado também de ameaça. O fato teria ocorrido em meados de setembro de 2020 e a acusação aponta que ele estaria arquitetando a execução de colegas de profissão.

No dia 24 de setembro de 2020, um investigador registrou boletim de ocorrência contra Fernando. No relato, ele contou que conversou com um conhecido em Corumbá, que o alertou, dizendo que ele corria risco de morte. Esta testemunha teria dito na conversa que recebeu uma ligação do delegado Fernando, de dentro da cela da 3ª Delegacia em Campo Grande, onde está detido atualmente.

Na ligação, o delegado teria pedido para ‘dar guarida’, dar abrigo a dois pistoleiros que iriam de Ponta Porã até o município. Ele então teria revelado que arquitetava a morte do investigador e também de um delegado de Mato Grosso do Sul (as vítimas não terão os nomes informados).

Ainda segundo o investigador, a testemunha teria dito que não aceitou o pedido do delegado Fernando e que ele então afirmou que “daria outro jeito”. Pouco tempo depois, um outro conhecido teria alertado a mesma situação para o investigador, dizendo que ele corria risco de execução, bem como o delegado e as respectivas famílias.

Por fim, o investigador contou que recebeu ligação de um informante, confirmando que o delegado Fernando tinha colocado “a cabeça dele e do delegado a prêmio”, contratando pistoleiros para executarem o crime. Isso porque o delegado Fernando estaria alegando que eles estavam envolvidos na prisão.

Foi elaborado um TCO (Termo Circunstanciado de Ocorrência) e após as partes envolvidas prestarem depoimento, o delegado Fernando foi ouvido na 3ª DP. Ele foi informado sobre o TCO e negou os fatos, dizendo que nunca planejou ou teve interesse na morte das vítimas. Além disso, disse querer instaurar procedimento por denunciação caluniosa.

Durante o procedimento, o delegado que teria sido ameaçado de morte chegou a fazer pedido de providências para a Diretoria da Polícia Civil. Ele revelou que a esposa relatou durante uma ligação que percebeu que foi seguida por um veículo, pouco tempo após o registro do boletim de ocorrência pelo investigador.

Ainda em 2019, durante as investigações do homicídio e antes da prisão do delegado Fernando, ele já havia cogitado a execução de policiais. Fernando é acusado de exercício arbitrário das próprias razões, favorecimento pessoal e homicídio por motivo torpe e mediante traição ou emboscada ou recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido. Ele deve ser julgado até o dia 30 de abril.

Entenda o caso

O delegado da Polícia Civil Fernando Araújo da Cruz, 34 anos, é acusado de matar o pecuarista boliviano Alfredo Rangel Weber dentro de uma ambulância em Corumbá (MS) no dia 23 de fevereiro de 2019. Ele é acusado por homicídio doloso qualificado por motivo torpe e por emboscada depois de uma briga nas eleições para presidente da associação de agropecuaristas na Bolívia.

O sogro de Fernando da Cruz, Asis Aguilera Petzold, que é o atual prefeito da cidade de El Carmen, na Bolívia, concorria ao cargo e a vítima, Alfredo Weber, foi até o local de votação, onde encontrou Sílvia Aguilera, que foi casada com um ex-sócio dele, mas já tinha um relacionamento com o delegado de Polícia Civil há algum tempo.

Segundo testemunhas, ao notar a presença de Sílvia Aguilera, o pecuarista boliviano, que também teria envolvimento com o tráfico de cocaína da Bolívia para o Brasil, teria cobrando dívidas do ex-marido e ameaçado os filhos dela com o delegado. Os dois discutiram e a confusão foi separada por Asis Petzold, que, ao lado de Fernando da Cruz, sentou-se em uma mesa para conversar com Alfredo Weber.

Aproveitando o momento de distração, o delegado esfaqueou as costas do boliviano, que foi socorrido e levado para um hospital local, mas devido à gravidade, teve de ser transferido para Corumbá. Já no município a ambulância foi fechada por uma caminhonete preta, cabine simples, mesmo veículo que Fernando da Cruz dirigia na época.

Ele desceu do veículo, foi até a ambulância, abriu a porta e atirou quatro vezes, sendo que três tiros atingiram a cabeça da vítima, um deles o tórax. Sem ter o que fazer, o motorista voltou com o corpo para o país vizinho. Para o juiz André Luiz Monteiro, há provas materiais juntadas pela acusação e, embora o delegado negue ter cometido o crime, há “indícios suficientes” de ter sido o autor dos disparos que mataram o pecuarista boliviano.

Fernando da Cruz está em cela da 3ª DP (Delegacia de Polícia), em Campo Grande (MS), sendo que já tentou a liberdade algumas vezes, sem sucesso. Na sentença de pronúncia, o magistrado também indeferiu pedido da defesa do delegado para que ele respondesse ao processo em liberdade. O investigador de Polícia Civil Emmanuel Nicolas Contis Leite será julgado como cúmplice do crime e por ter ajudado Fernando da Cruz a atrapalhar as investigações.