Preso desde março deste ano, o delegado da Polícia Civil Fernando Araújo da Cruz, 34 anos, acusado de matar o pecuarista boliviano Alfredo Rangel Weber dentro de uma ambulância em Corumbá (MS) no dia 23 de fevereiro deste ano, resolveu atirar para todos os lados, criticando até a Justiça.
Ele enviou um documento ao TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul) assinado pela advogada Elianici Gonçalves Gama, que explica falar em nome do réu. “O presente documento foi redigido nesse tom a pedido do paciente, que está ciente das consequências, mas cansou de se calar diante de tantas violências e humilhações praticadas contra ele e sua família”, afirmou.
O habeas corpus aponta que a prisão preventiva não pode ser decretada por fetiche, cisma ou tampouco rancor de alguém, o que é muito comum em comarcas menores. “Se um policial prendeu um servidor do judiciário local ou ainda investigou alguém do círculo de amizade do juiz, não pode este último, na primeira oportunidade que encontre, trancar esse policial e ‘jogar a chave fora’”, reclamou.
Ele cita que o novo pedido de habeas corpus é contra o juiz da 1ª Vara Criminal de Corumbá. “O que acontece é que estamos diante de um magistrado deliberadamente cego, exatamente daquele tipo que motivou a criação do tipo ‘juiz de garantias’, pois encerrou-se em uma infeliz convicção de que o paciente praticou o crime”, declarou.
Ainda conforme o Fernando da Cruz, os delegados do caso criaram um monstro. “Levado a essa falsa ideia por delegados que ao longo da investigação (como é praxe) criaram um ‘monstro’ para conseguir medidas cautelares em desfavor daquele que escolhem para serem suas vítimas e agora impossível aceitar a ideia de que possa ter cometido um erro ou se deixado enganar”, disparou.
O delegado preso afirma que até aqui a única beneficiada foi a organização criminosa que antes era liderada por Alfredo Rangel Weber, conhecido no meio criminoso por “Ganso”. “Não consegue o paciente entender como pessoas perversas, que provocaram sua prisão por um crime que não cometeu (por Deus, basta ler o processo com atenção!), conseguem abraçar seus filhos e beijar suas esposas e maridos, sabendo que estão destruindo outra família”, atacou.
Entenda o caso
Segundo as investigações, o delegado esfaqueou e matou a tiros Alfredo Rangel no dia 23 de fevereiro. A desavença entre os dois começou durante as eleições para presidente da associação de agropecuaristas na Bolívia. O sogro de Fernando, Asis Aguilera Petzold (o atual prefeito da cidade de El Carmen), concorria ao cargo.
Durante uma briga, o delegado teria dado três facadas no boliviano. Alfredo foi socorrido e seria transferido para hospital de Corumbá, mas já em território sul-mato-grossense, a ambulância em que estava foi fechada por uma caminhonete preta.
O motorista desse veículo desceu, abriu a porta da viatura de resgate e atirou quatro vezes. Três tiros atingiram a cabeça da vítima, um deles o tórax. Sem ter o que fazer, o motorista voltou com o corpo para o país vizinho.
Ao decorrer das apurações, a Polícia Civil conseguiu interceptar conversas entre Fernando e Emmanuel. Nas mensagens o delegado pede opinião sobre mudanças feitas na caminhonete usada no crime, pede para o investigador levar a arma para uma terceira pessoa na Bolívia e ainda combina maneiras de atrapalhar as investigações sobre o assassinato.
Além de ameaçar testemunhas do crime, a dupla trabalhou na criação e divulgação de montagens com fotos de várias pessoas e os dizeres “Os assassinos de Ganso”, apelido da vítima. A intenção era “culpar” outras pessoas e desviar o foco do delegado.
As conversas entre o investigador e Fernando trouxeram até ameaças aos policiais da DEH (Delegacia de Repressão aos Crimes de Homicídio) e da Corregedoria da Policia Civil, que foram a Corumbá para investigar o caso. Nas mensagens Emmanuel sugere “metralhar” o hotel em que os investigadores estavam hospedados e também a 1 Delegacia de Polícia da cidade.