Clínica interditada após relatos de tortura volta a ser fechada na Capital

A “Comunidade Terapêutica Filhos de Maria”, situada na Chácara dos Poderes, em Campo Grande (MS), que tinha sido interditada em outubro do ano passado por supostas práticas de tortura, maus-tratos e ainda supermedicação dos 95 pacientes, trocou de nome para “Renascer”, reabriu as portas, mas, após denúncia, foi novamente fechada ontem (12) pela Decon (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Contra as Relações de Consumo).

Segundo o delegado de Polícia Civil Reginaldo Salomão, durante fiscalização realizada ontem, os policiais civis encontraram três pacientes no prédio da antiga clínica de reabilitação “Filhos de Maria”, que agora se chama “Renascer”. Diante do flagrante, o estabelecimento foi novamente fechado pela Decon com aval da DPMS (Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul).

Os proprietários da clínica que cuida de pessoas afetadas por doenças mentais, dependência química e alcoólicos ignoraram decisão judicial, trocaram de nome e voltaram a operar normalmente no mesmo endereço. “Vamos verificar a situação de cada um aqui porque um deles, na abordagem, foi possível verificar que tem algum problema de saúde mental”, disse o delegado.

Reginaldo Salomão disse ainda que vai tentar descobrir quem reabriu a clínica de forma clandestina, desobedecendo à ordem judicial. “Já temos certeza aí do crime de fraude, que é inserir em documento público informação inexata e falsa. Os eventuais donos da clínica praticam outro crime, além dos apurados casos de maus-tratos. Uma das características dessas clínicas é que eles [proprietários] não têm empregados. É um trabalho escravo. Não paga. Ele [interno, paciente] acorda 4 ou 5 horas da manhã, trabalha até a noite. Fazem acolhimento [ficam internados] em troca de teto e de comida. Não há um tratamento terapêutico sério, não há um médico, não há nada”, afirmou.

Já quanto aos três homens que prestaram depoimento, o delegado afirmou que um deles estava com mandado de prisão em aberto. “Quando fazemos fiscalizações, a gente toma todo cuidado para não constranger quem está buscando o tratamento. Mas um dos pacientes tentou fugir e nós conseguimos detê-lo. Ao bater a identificação dele no sistema, descobrimos que está com um mandado de prisão em aberto”, revelou.

A Defensoria Pública acompanhou a operação policial que, pela segunda vez, interditou a clínica de recuperação. Eni Maria Diniz, defensora pública, disse que em outubro passado, junto ao mecanismo nacional de combate e prevenção à tortura, flagrou sérias violações no local chamado Filhos de Maria.

“Nós entramos com a ação judicial e o local foi interditado. Então houve uma decisão de interdição e de determinar que todas as pessoas que estivessem ali fossem realocadas aos familiares ou encaminhadas pra rede de saúde porque ali não havia o atendimento médico adequado. Essa decisão foi tomada pelo juiz e em fevereiro desse ano houve uma audiência judicial na qual os proprietários dessa comunidade não se dispuseram a corrigir os problemas e resolveram fechar. Eles fizeram uma informação processual de que o local teria sido fechado, que não haveria mais nenhum tipo de acolhimento, nenhum tipo de atividade”, declarou. Com informações do site Midiamax