Clima de guerra: Forças policiais “caçam” Minotauro, traficante acusado de matar policial brasileiro

Edmondo Tazza

Ponta Porã – Do correspondente

Rota tradicional do tráfico de drogas e do contrabando de armas, munições, pneus, bebidas, cigarros e eletrônicos, palco de outra gama de crimes transfronteiriços e sede de diferentes organizações criminosas, a fronteira Brasil/Paraguai nas cidades de Ponta Porã (MS) e Pedro Juan Caballero (PY) vive um verdadeiro clima de guerra.

 

Nos últimos 10 dias, uma vez deflagrada operação conjunta das forças policiais do Mato Grosso do Sul, da Polícia Federal brasileira e da Polícia Nacional do Paraguai, que determinou rigoroso combate ao crime organizado, as apreensões de drogas, armas, veículos roubados, além da prisão de criminosos e do não raro confronto direto entre policiais e bandidos com franca troca de tiros, têm sido registrados quase que diariamente dos dois lados da linha internacional.

Nesta sexta-feira (23), em entrevista exclusiva ao Blog do Nélio, o delegado regional da Polícia Civil em Ponta Porã, Clemir Vieira Júnior, disse que a operação conjunta, que integra Polícia Civil, Polícia Militar, Polícia Militar Rodoviária, Delegacia Especializada em Homicídios, DOF, GARRAS, com o apoio de forças da União, como a Polícia Federal a Polícia Rodoviária Federal e a Receita Federal e com a colaboração da Polícia Nacional e da Secretaria Nacional Antidrogas do Paraguai, não tem data para acabar e promete abalar as estruturas das organizações criminosas sitiadas na região.

Ele revelou que a operação já estava no cronograma de ações intensivas da Secretaria de Estado de Segurança Pública há algum tempo, mas o estopim que acionou a mobilização foi o violento assassinato do policial civil Wescley Dias Vasconcelos, 37, ocorrido no último dia 6 em Ponta Porã. Integrante da equipe de investigações, Wescley foi morto com 30 tiros de fuzil. O policial estava acompanhado de uma funcionária da Justiça no momento do atentado. Ela também foi alvejada por quatro disparos, mas foi hospitalizada e sobreviveu.

Escobar

Responsável pelo comando de delegacias em oito municípios da região Sul Fronteira (Sete Quedas, Tacuru, Paranhos, Amambai, Coronel Sapucaia, Aral Moreira, Ponta Porã e Antônio João), o delegado disse que as investidas da força-tarefa têm atingido toda a região de fronteira com o Paraguai, alem de barreiras eventuais nos postos de fiscalização do Capey, do Distrito de Nova Itamarati e Copo Sujo, e já promoveram apreensões de drogas, veículos e armas, bem como prisões de criminosos nas cidades de Amambai, Aral Moreira, Coronel Sapucaia, Antonio João e Ponta Porã.

Para o delegado, a operação tem como objetivo a prisão de foragidos da Justiça e apreensão de produtos ilícitos, porém, o alvo principal é a busca por informações que possam conduzir a identificação dos pistoleiros que assassinaram o investigador do SIG bem como causar grande prejuízo econômico ao crime organizado que atua na região de fronteira.

Aguacate, chefe dos pistoleiros

Clemir Vieira Júnior fez questão de reiterar que as investigações em torno do homicídio estão em estágio avançado e que, apesar das especulações da imprensa dos dois países e das postagens descabidas nas redes sociais sobre o crime, não há ainda elementos suficientes para que a polícia possa afirmar categoricamente quais foram as causas e a autoria do atentado.

O delegado Márcio Shiro Obara, da Delegacia Especializada em Homicídios, responsável pelo inquérito que apura o crime, descartou a informação da polícia paraguaia de que Wescley teria sido executado a mando do PCC (Primeiro Comando da Capital). Vale lembrar que o investigador foi quem coletou as impressões digitais de seis criminosos integrantes da facção e deportados do Paraguai para o Brasil, momentos antes de ser morto. A imprensa paraguaia chegou a noticiar que o policial saiu da sede da Polícia Nacional em Pedro Juan em um Fiat Siena preto descaracterizado, que pertencente à frota oficial da Polícia Civil. Wescley teria sido seguido pelos pistoleiros em um Honda Civic e executado quando chegou em casa.

MINOTAURO

As forças policiais dos dois lados da fronteira estão “caçando” Sérgio de Arruda Quintiliano Neto, 32, o “Minotauro”, bandido com várias passagens pela polícia paulista, e que é apontado pela imprensa paraguaia como o mandante do assassinato do policial civil Wescley Dias Vasconcelos.

Citando fontes da Polícia Nacional, a mídia guarani revelou que Minotauro se aliou a um ex-funcionário do chefão Jorge Rafaat Toumani – morto em junho de 2016 – e tenta enfrentar o PCC (Primeiro Comando da Capital) para assumir o controle do tráfico de drogas e de armas na divisa entre Ponta Porã e Pedro Juan Caballero. “Belo”, como é conhecido o sócio de Minotauro, era braço direito de Rafaat.

Procurado no Brasil por crimes em Presidente Prudente e Bauru, no interior paulista, Sérgio Quintiliano Neto aproveitou a fronteira aberta com Mato Grosso do Sul e se refugiou no Paraguai, onde conseguiu tirar uma identidade falsa como cidadão paraguaio de nome Celso Matos Espíndola.

No documento, emitido em 21 de fevereiro de 2017, Celso Matos Espíndola aparece como natural de Ponta Porã, nascido em 27 de janeiro de 1982 e com residência em Pedro Juan Caballero.

O investigador da Polícia Civil sul-mato-grossense teria descoberto que Celso Espíndola era na verdade Sérgio Quintiliano Neto. O traficante acreditava que Vasconcelos tivesse colocado um rastreador no carro da mulher dele, para descobrir o esconderijo do bandido na fronteira e fazer sua prisão.

VEREADOR

Minotauro também é acusado de mandar matar o vereador Cristóbal Machado Vera, de Capitán Bado. Envolvido com o tráfico de drogas, o vereador foi executado no dia 9 deste mês pelo pistoleiro Carlos Armoa Escobar, 27, que já está preso.

Após perder uma carga de maconha comprada do vereador, Minotauro teria tentado receber o dinheiro de volta, mas Cristóbal se negou a ressarcir o comprador. O brasileiro acusou Cristóbal de lhe vender a droga e avisar a Senad (Secretaria Nacional Antidrogas) sobre a carga.

Por R$ 50 mil, o brasileiro teria contratado Marcio Ariel Sánchez Giménez, 29, o “Aguacate” (Abacate em Português), chefe da pistolagem na fronteira, que repassou o serviço para Escobar, por R$ 10 mil. Logo após ser preso, Escobar acusou Aguacate como contratante, mas depois mudou o depoimento e diz que foi contratado pelo traficante paulista.

Para tentar prender Minotauro, a Direção de Investigações da Polícia Nacional montou uma força-tarefa que está fazendo buscas em Pedro Juan Caballero. Entretanto, o bandido é considerado um fantasma, já que desapareceu após a morte do policial.

Ainda segundo a polícia paraguaia, Aguacate trabalha para outro traficante famoso na região, Eugenio Suárez Valiente, o “Mai Suárez”, considerado um dos maiores exportadores de maconha do Paraguai para o Brasil, juntamente com Felipe “Barón” Escurra, foragido da justiça.

LIMITAÇÕES

Diante de todas estas vertentes, o delegado regional Vieira Júnior disse não ser possível descartar qualquer das possibilidades no momento, todavia, reforça que a operação, no “conjunto da obra”, trouxe resultados muito positivos no que diz respeito às inúmeras apreensões, prisões e desbaratamento de quadrilhas de ladrões e traficantes nos últimos dias.

É de se considerar, por outro lado, que o “reforço” é temporário, já que equipes como as do GARRAS e da DEH não permanecerão definitivamente em Ponta Porã. Foram deslocadas ocasionalmente de suas bases, mas deverão retornar. O efetivo das polícias Civil e Militar ainda está aquém das necessidades, mesmo levando em conta a iminente nomeação de novos delegados, policiais civis e militares para todo o Estado. Só para se ter uma ideia da defasagem, das oito delegacias que integram a jurisdição da Regional de Ponta Porã, apenas duas possuem um delegado titular.