Chegada do Uber à Capital atinge em cheio a “máfia dos táxis” e deve acabar com a semiescravidão

A chegada a Campo Grande do UBER – um aplicativo para dispositivos móveis que coloca os usuários em contato direto com os automóveis de passageiros com condutor – é a salvação para a classe dos taxistas (motoristas auxiliares) para acabar de uma vez por todas com a máfia que concentra a maioria dos alvarás e explora a categoria no município.

Hoje, de acordo com a Assotaxi, criada em 2010 para defender os 750 motoristas auxiliares de táxis, por Lei Municipal, Campo Grande deveria ter um taxi para cada mil habitantes. Tendo em vista que a Capital tem 490 alvarás, existe uma defasagem de 360 alvarás, já que a população passa hoje de 850 mil habitantes, conforme dados do IBGE.

Um movimento assumido e apoiado pela vereadora Luiza Ribeiro (PPS) já cobrou para que se cumprisse a lei com mais 400 táxis, sendo que o prefeito Alcides Bernal (PP) prometeu liberar mais 100 alvarás para táxis e 100 para mototáxis, mas ainda não se resolveu essa questão.

Essa situação mantém ativo um rentável mercado negro de venda dos alvarás existentes. Alvarás de pontos do centro da cidade são vendidos em média por R$ 350 mil e de ponto no aeroporto internacional por R$ 700 mil. Um único frotista, por exemplo, chega a ter 55 carros (alvarás), onde trabalham 110 taxistas, como motoristas auxiliares. Essa “máfia” já foi denunciada ao Ministério Público, mas, o assunto está inerte.

A Capital conta hoje com 73 pontos de táxi e, por isso, a classe dos taxistas (motoristas auxiliares) quer o UBER para pôr fim à reivindicação de mais alvarás e a possibilidade de oferecer qualidade de serviços à população. Os taxistas narram que é percebido pelos passageiros que o serviço de táxi em Campo Grande é “ruim” e “precário”, e isso é pontuado continuamente aos motoristas. Não existe o respeito ao usuário, nem mesmo na vestimenta e no trato.

A frota é “sucateada”, pois para os permissionários vale a premissa da “rentabilidade máxima” e isso se baseia também na idade da frota, já que amparados por lei os veículos podem rodar por até 8 anos. Em pesquisas informais feitas pelos taxistas junto aos usuários percebe-se que a aceitação ao UBER é enorme, principalmente, pela imagem de qualidade de atendimento que o aplicativo construiu.

Semiescravidão

Os taxistas (motoristas auxiliares) também são chamados de “Curiangos” por trabalharem 24 horas ininterruptas, pois essa é a única condição de conseguirem pagar as diárias dos veículos, visto que os reais proprietários de alvarás não são os que dirigem, criando uma condição análoga à semiescravidão para os motoristas auxiliares.

A diária paga por cada motorista varia entre R$ 185,00 e R$ 235,00, conforme o ponto, fora despesas de combustível, e após 24 horas o carro precisa ser devolvido lavado, abastecido e com a diária paga. Apenas o saldo das corridas é dele, se houver.  São cobrados ainda dos motoristas valores em média de R$ 50,00 para uso de máquina de cartão de crédito e R$ 5,00 para bobinas de impressão de recibo.

Geralmente entre os dias 20 e 30 de cada mês o movimento cai e impacta os taxistas e por vezes eles ficam “pendurados” em débito, que devem ser pagos até o segundo dia. Caso contrário ele fica bloqueado de pegar outro carro para fazer diárias. Para corridas que saiam da cidade, além da diária os motoristas têm que pagar km rodado, tornando-se economicamente inviável atender clientes em longas distâncias, e isso é um problema visto que Campo Grande é a porta de entrada para o turismo internacional no MS. A situação financeira destes motoristas e suas famílias (750) é dramática, diante das condições impostas para poderem trabalhar.

VIOLÊNCIA

Sobre a violência que já foi registrada contra motoristas de UBER em outras praças os taxistas afirmam que “Campo Grande é pacífica e os maiores interessados aqui são os próprios motoristas, que já são conhecidos entre si no mercado, visto que aqui não são os proprietários de alvarás que dirigem. Uma proposta de regulamentação semelhante à adotada em São Paulo já seria uma forma de apresentar a entrada do Uber na capital como uma alternativa de receita garantida ao município, derrubando resistências. A imprensa também é extremamente positiva e receptiva à chegada do UBER”.

A Assembleia Legislativa já tentou barrar o aplicativo UBER, mas o governador Reinaldo Azambuja (PSDB) vetou. Na alçada municipal também houve projeto de vereador tentando barrar, mas o assunto continua parado. O MPE Ministério Público Estadual e a OAB já se manifestaram favoráveis ao UBER. Campo Grande está vivendo a discussão do Plano Diretor para os próximos 10 anos e isso não contempla, no tópico mobilidade urbana, de forma clara nada relacionado à questão dos táxis.

Um detalhe importante é que enquanto São Paulo tem seu perímetro urbano com área de 440 km², Campo Grande tem seu perímetro urbano de 359 km². E se considerar que Campo Grande é uma cidade “espraiada” e com sérios problemas de cobertura do serviço de transporte coletivo, tem-se um cenário excelente para serviços de qualidade via aplicativo, uma vez também que se construiu uma imagem pouco atraente dos atuais serviços de táxi.