Chefe do PCC, foragido há 20 anos, é preso em Moçambique com ajuda da PF e DEA

Uma operação que envolveu a Polícia Federal (PF), o Itamaraty, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos (DEA) e o Departamento de Polícia de Moçambique, na África, resultou na prisão de um chefe do PCC (Primeiro Comando da Capital) foragido há 20 anos. Trata-se de Gilberto Aparecido dos Santos, mais conhecido como “Fuminho”, que é considerado o maior fornecedor de cocaína a um grupo que atua no Brasil, além de ser responsável pelo envio de toneladas da droga para diversos países do mundo.

O traficante foi detido nesta segunda-feira (13) na cidade Maputo, em Moçambique. De acordo com a Polícia Federal, a prisão “foi fruto de cooperação internacional e troca de informações de inteligência entre diversas agências policiais”. Conforme a investigação, “Fuminho” financiaria o plano de resgate do chefe da facção criminosa, que está no Sistema Penitenciário Federal. “A descoberta do suposto plano culminou com a decretação de GLO – Garantia da Lei e da Ordem, no perímetro da Penitenciária Federal de Brasília, em fevereiro de 2020”, disseram os investigadores.

Em fevereiro, o ministro da Justiça, Sérgio Moro, prorrogou o uso da Força Nacional de Segurança Pública na área da Penitenciária Federal de Brasília. O novo prazo, que começou no dia 9 de março, vale até 4 de setembro. As tropas federais atuam no presídio desde fevereiro de 2019. O envio dos agentes de segurança ocorreu semanas antes de o Executivo transferir quatro condenados de chefiar uma facção criminosa paulista para a penitenciária federal, em Brasília.

A penitenciária, considerada de segurança máxima, possui 208 celas em 12,3 mil m² de área construída. Em março do ano passado, logo após a transferência de Marco Willians Herbas Camacho, conhecido como Marcola, e outros três presos para o prédio, o governador Ibaneis Rocha (MDB) criticou a medida. “Esses bandidos precisam de isolamento. Não é a seis quilômetros do Palácio do Planalto que vamos ter esse isolamento. Brasília é a capital da República e é assim que deve ser tratada”, afirmou Ibaneis, à época.

O governador chegou a pedir ao Supremo Tribunal Federal (STF) a transferência dos presos perigosos para presídios fora do DF. Na ação, disse que o governo federal estava “colocando em risco a população do DF”. No entanto, o pedido foi negado pelo ministro do STF Luís Roberto Barroso. Barroso considerou que os riscos seriam maiores com a transferência. Após a divulgação da decisão, o governador Ibaneis Rocha disse que respeitaria o entendimento do Supremo.

Momento da prisão

O traficante foi preso, sem oferecer resistência, quando chegava no hotel de luxo onde estava hospedado, ao voltar de uma clínica médica onde fez um curativo em uma ferida em sua perna. No flat onde ele estava hospedado também foram detidos um nigeriano e um brasileiro ainda não identificado.

O ministro da Justiça, Sérgio Moro, afirmou que a prisão do traficante, que estava há 21 anos foragido, foi um “golpe poderoso” na organização criminosa que ele fazia parte. A operação da prisão de Fuminho foi uma ação de cooperação policial internacional, encabeçada pela PF (Polícia Federal), com o reforço do Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty), da DEA (Drug Enforcement Administration), órgão do Departamento de Justiça dos Estados Unidos responsável pelo combate às drogas, e do Departamento de Polícia de Moçambique.

A DEA (Drug Enforcement Administration), que ganhou popularidade pela atuação em prisão de outras grandes traficantes pelo mundo, teve um papel fundamental na prisão de Fuminho. Segundo apurou o R7, agentes da DEA já monitoravam o traficante desde que foi localizado, no ano passado, na Bolívia.

Equipes do órgão já haviam, inclusive, informado à Polícia Federal brasileira sobre a movimentação de Gilberto Aparecido e chegou a sugerir uma operação para prende-lo ainda na Bolívia, entretanto a ação foi descartada pois ele era cercado no país por um forte esquema de segurança.

A saída de Fuminho da Bolívia para Moçambique, em março, foi acompanhada por agentes do órgão americano, que notificou as autoridades do país Africano e foi fundamental para organizar a ação que resultou na sua prisão.

Trajetória no crime

Fuminho é o responsável pelo fluxo de dinheiro e da logística necessária para o tráfico internacional de drogas na região da Bolívia e Paraguai. É uma espécie de sócio de Marcola.

A carreira no crime ganhou relevância quando escapou da Casa de Detenção, no Carandiru, em São Paulo em janeiro de 1999. Desde então, era procurado pela polícia brasileira.

Em abril de 2019, Fuminho teria dado o aval para membros da facção criminosa fazer o resgate de Marcola do Presídio Federal de Brasília. Dois aviões e um helicóptero, que seriam caracterizados como da Polícia Militar de São Paulo, seriam usados no plano.

O plano foi descoberto por agentes na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, conhecida como P2 de Venceslau (a cerca de 610 km de São Paulo), que flagraram anotações de membros do PCC.

Apontado como líder máximo da facção criminosa, Marcola saiu da P2 de Venceslau no começo de 2019 para ir à penitenciária federal de Porto Velho. Um mês depois, foi novamente transferido, desta vez para a federal de Brasília.