Assassino de ator teria fugido para a Bolívia via ônibus que partiu de Corumbá

Enquanto a Polícia Civil de São Paulo esteve recentemente no Paraguai na “caça” ao assassino Paulo Cupertino Matias, que matou o ator Rafael Miguel, de 22 anos, e os pais dele, João Alcisio Miguel, de 52 anos, e Miriam Selma Miguel, 50 anos, no dia 13 de junho de 2019, em São Paulo (SP), imagens obtidas com exclusividade pela Record TV mostram o criminoso no Terminal Rodoviário de Corumbá (MS), de onde pegou um veículo de aplicativo com destino à Bolívia no dia 25 de novembro.

Desde que foi descoberto em Eldorado (MS) no dia 27 de outubro, ele desapareceu e a hipótese mais provável era de que tivesse ido para o Paraguai, já que a cidade onde estava faz fronteira com o país vizinho. Porém, agora, a Polícia analisa as imagens para confirmar que o homem que aparece no registro seja mesmo Paulo Matias. Ele está mais magro e carrega, com dificuldade, duas malas. As imagens foram obtidas porque populares que estavam na rodoviária reconheceram o fugitivo e entraram em contato com as autoridades.

Investigadores acreditam que o criminoso, após deixar o Paraguai de ônibus, estava tentando chegar à Bolívia. Um motorista de aplicativo disse que atendeu uma chamado dele e que o pedido era para deixá-lo em uma cidade próxima à fronteira do país vizinho. A fuga dele rumo à Bolívia aconteceu depois que ele foi reconhecido em uma Fazenda no Paraguai, onde a Polícia Civil de São Paulo foi na semana passada.

Paulo Matias permaneceu 22 dias escondido em uma fazenda de soja na cidade de Yataity del Norte, no Paraguai. A propriedade rural fica em uma área isolada no interior do país e que pertence a outro brasileiro. Conforme as investigações, ele teria chegado ao esconderijo no Paraguai após decolar de um aeródromo a 320 quilômetros de Eldorado, em um avião pilotado por Alfonso Helfenstein, amigo e dono do sítio onde ele ficou escondido por cerca de 15 meses com identidade falsa.

O piloto também é amigo e funcionário do proprietário da fazenda no território paraguaio onde o assassino se escondeu — que negou ter conhecimento da presença de Cupertino nas suas terras. No período em que permaneceu na fazenda, Cupertino trabalhou no cultivo de soja e milho. Segundo relatos de funcionários, ele falava pouco e se mantinha sempre muito distante dos agricultores brasileiros.

“Trabalhava normal, normal. Mas, sempre prestativo, queria sempre ajudar. Era muito bonzinho, ninguém suspeitava nada, porque o homem era muito bom”, disse um dos trabalhadores, sob condição manter a identidade em sigilo. Os agricultores brasileiros também contaram que Cupertino mantinha uma aparência diferente daquela no tempo que ficou escondido no Mato Grosso do Sul. Ele já não usava mais a barba longa, mas sim apenas um cavanhaque, e passava a maior parte do tempo de máscara.

Ainda segundo os trabalhadores rurais, um policial paraguaio que visitava parentes na fazenda, teria reconhecido Cupertino. O dono da propriedade foi avisado e o assassino fugiu mais uma vez e apenas com a roupa do corpo, deixando tudo para trás. Os seus pertences teriam sido queimados por ordem do fazendeiro.

Rota de fuga

Levantamento feito a partir de informações da investigação policial mostra que, até outubro, Paulo Matias tinha passado por pelo menos sete cidades de três Estados. Após matar o ator e seus pais, em junho do ano passado, ele seguiu para outros municípios paulistas: Sorocaba, Águas de São Pedro, outra cidade não informada e Campinas.

Paulo Matias também passou por Ponta Porã (MS) e Jataizinho (PR), sendo que nesses dois últimos municípios o empresário conseguiu, respectivamente, fazer um novo Cadastro de Pessoa Física (CPF) e um novo tipo de Registro Geral (RG), ambos falsificados. Além de usar o nome falso de “Manoel Machado da Silva”, ele forneceu dados pessoais que não são dele.

Depois de falsificar os documentos, o assassino seguiu para Eldorado (MS), onde conseguiu trabalho em um sítio da cidade, de propriedade de Alfonso Helfenstein, onde cuidava do gado em um curral. Na região, o assassino era conhecido como “Sêo Manoel”, identidade falsa que adotou para despistar os policiais.

Para completar o disfarce, usava barba branca e comprida e um boné. Dias depois da fuga, a polícia paulista foi até a cidade e conseguiu fotos que mostram a fisionomia mais recente do criminoso.

O crime

Rafael e seus pais foram assassinados por Paulo Matias na tarde de 9 de junho de 2019. O crime aconteceu na frente da casa onde a namorada do ator, Isabela, morava com a mãe, na Zona Sul de São Paulo. O pai dela residia em outro imóvel. Cupertino não aceitava o relacionamento da filha com o ator. Isabela tinha 18 anos à época.

Câmeras de segurança registraram o homicídio e a fuga do assassino. As imagens mostraram o momento que Rafael e seus pais saíram do carro com Isabela. Eles tinham ido levá-la até sua residência. Em seguida, o empresário apareceu apontando uma arma e atirando no ator e na família dele. Todos caíram feridos na rua.

Ao todo, Paulo Matias atirou 13 vezes nas vítimas, que não resistiram aos ferimentos e morreram. Rafael tinha 22 anos, seu pai João Alcisio Miguel estava com 52 anos, e a mãe Miriam Selma Miguel, 50 anos. Em junho deste ano a Justiça tornou Paulo Matias réu no processo pelo qual responde pelos três homicídios.

Outras simulações com fotos de possíveis disfarces do assassino foram divulgadas. A polícia já verificou também quase 300 endereços em dez estados do Brasil e no Paraguai e Argentina sobre os possíveis paradeiros do acusado. Atualmente a polícia trabalha com a hipótese de que Paulo estaria tentando fugir para a Bolívia.

Dois amigos de Paulo Matias também se tornaram réus no processo que apura os assassinatos do ator Rafael Miguel e da família dele. Eles são: Eduardo José Machado, dono de uma pizzaria na capital paulista, e Wanderlei Antunes, motorista de aplicativo em Sorocaba. No entanto, os dois não foram acusados de homicídio. Acabaram sendo pronunciados pela Justiça para responderem por ajudar na fuga do assassino, dando dinheiro, transporte e até comida para o empresário.

Paulo Cupertino é acusado de triplo homicídio duplamente qualificado, por motivo fútil e recurso que impossibilitou a defesa das vítimas. Já os amigos do empresário respondem por favorecimento pessoal.

Rafael interpretou o personagem Paçoca na novela “Chiquititas”, do SBT, e trabalhou num famoso comercial em que uma criança pede brócolis à mãe. Ele também atuou em novelas da Globo, como “Pé na Jaca”, “Cama de Gato” e o especial de fim de ano “O Natal do menino imperador”.