Aprendiz de feiticeiro na política, ‘vereador da cloroquina’ já quer passear no Butantan. Pode?

O vereador Dr. Sandro Benites (Patriotas) perdeu a chance de ficar calado e de poupar a Câmara de Vereadores de Campo Grande de passar vergonha em nível nacional. O “nobre” edil, que ficou conhecido como o “Vereador da Cloroquina” durante a campanha eleitoral do ano passado, faz parte da Comissão da Casa de Leis criada para acompanhar a distribuição e aplicação das vacinas contra a Covid-9 na Capital.

Até aí tudo bem, porém, ao invés de exercer o cargo como médico que é, resolveu colocar a Câmara de Vereadores em uma situação constrangedora ao propor um tour até as instalações do Instituto Butantan, em São Paulo (SP), responsável pela produção da vacina da CoronaVac. Ainda não está claro o motivo da visita, que corre o risco de não ocorrer, mas tudo indica que a eventual “inspeção” terá resultado zero, o mesmo efeito placebo do uso da cloroquina e ivermectina no tratamento “preventivo” ao novo coronavírus.

Na campanha eleitoral, o Dr. Sandro Benites defendeu o uso dos dois medicamentos e praticamente forçou o prefeito Marquinhos Trad a torrar mais de R$ 2,4 milhões do dinheiro público com a compra do medicamento apenas para fazer média com eleitores bolsonaristas – três vezes mais do que gastou com a aquisição de kits para exames da doença.

A ideia “original” do vereador Dr. Sandro Benites foi apresentada em reunião com os demais membros da comissão, composta pelos também parlamentares Beto Avelar, Clodoilson Pires, Dr. Jamal e Professor André Luiz. Do encontro participou ainda Dinaci Ranzi, assessora da Secretaria Municipal de Saúde. Essa foi a primeira “reunião técnica” da comissão, que deliberou sobre a visita ao Instituto Butantan, que evidentemente vai ser feita com a utilização de dinheiro do contribuinte.

Segundo o site Campo Grande News, o vereador Dr. Sandro Benites candidatou-se a uma das duas vagas no tour logo após ele próprio ter apresentado a proposta. Ele justifica a viagem dizendo que vai “conhecer onde a vacina está sendo feita, para assim, trazer novas informações para Campo Grande”. É difícil imaginar quais seriam essas informações, ao menos relativas à Covid-19, que o parlamentar esperar obter na visita. No entanto, ele deu uma pista ao anunciar que vai aproveitar a viagem para aprimorar seus conhecimentos.

Na condição de médico responsável pelo Centro Integrado de Vigilância Toxicológica (Civitox) do Hospital Regional, o vereador iria discutir também com colegas do Butantan questões relativas a animais peçonhentos. Em julho do ano passado, juntamente com outros médicos, Sandro Benites esteve na Câmara dos Vereadores defendendo o uso da cloroquina, ivermectina e outros compostos em processos de prevenção à Covid-19, apesar de a Ciência já ter descartado qualquer eficácia desses medicamentos no tratamento da doença, podendo inclusive agravar o quadro de saúde dos pacientes, provocando até a morte.

Sandro Benites junta-se a vozes contra a ciência, como o presidente Jair Bolsonaro, ao defender o uso desses fármacos. Na época, Sandro Benites disse que o coquetel foi “demonizado” no Brasil. “Demonizaram uma medicação extremamente segura, usada há mais de 90 anos. Uma medicação barata. Todos os militares que são transferidos para a Amazônia recebem um kit. Não temos notícias de óbitos. Se é uma medicação segura, por que demonizar? O que tem por trás disso? Quando você demoniza uma medicação simples, você cria um medo mórbido do remédio”, destacou.

Segundo a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), a hidroxicloroquina é indicada para pessoas com artrite, lúpus, doenças fotossensíveis e malária. A ivermectina, para infecções provocadas por vermes e piolho. A azitromicina, um antibiótico, tem aval da Anvisa para tratamento de bronquite, pneumonia, sinusite e faringite, bem como de algumas doenças sexualmente transmissíveis. Já o colecalciferol e o sulfato de zinco não passam de suplementos vitamínicos.

É para se protegerem dessas doenças que os militares transferidos para a Amazônia recebem o kit. Para o tratamento ou prevenção à Covid-19, o uso desses medicamentos não é recomendado pela Organização Mundial da Saúde – OMS.

Vai vendo!!!!