Após a morte de Matheus Santana Falcão, de 21 anos, na noite de quinta-feira (2) em Campo Grande (MS) por suspeita de ingestão de bebida alcoólica contaminada com metanol, os frequentadores dos principais bares da Capital estão trocando as bebidas destiladas pela cerveja ou chope.
O temor é justificado, afinal, o jovem Matheus Falcão pode ter falecido com intoxicação por metanol, hipótese que será confirmada ou descartada somente após a conclusão dos exames laboratoriais.
De acordo com nota divulgada pelo Governo do Estado, o corpo do jovem foi encaminhado ao Imol (Instituto de Medicina e Odontologia Legal), onde passou por exame necroscópico. Além disso, amostras foram coletadas e encaminhadas para análise toxicológica, sendo que o laudo definitivo deve ser concluído em até 30 dias.
Segundo registros da UPA Universitário, Matheus Falcão chegou à unidade por volta das 18h20 de quinta-feira, levado pelo SAMU. No momento da chegada, estava consciente, orientado, comunicativo e sem dificuldade respiratória, embora relatasse mal-estar gástrico, náuseas e um episódio de vômito escurecido.
O jovem informou que havia consumido whisky no sábado passado e cachaça no domingo anterior, adquirida na Conveniência Nashbeer, no Bairro Nashiville, após pedido feito ao irmão, Thiago Santana Falcão.
Em entrevista, o proprietário da loja, Sidney, afirmou não se recordar da venda da bebida para o jovem, mas se dispôs a verificar as câmeras de segurança para confirmar. Ele garantiu que todas as bebidas comercializadas na loja têm procedência comprovada por notas fiscais.
O empresário ainda afirmou que a bebida consumida pelo jovem se trata da cachaça Camelinho, produzida em Mato Grosso do Sul. Ele completou que está tranquilo e colaborando com as investigações porque todos os seus produtos foram adquiridos com nota fiscal.
Agravamento do quadro
Na UPA Universitário, ao passar por triagem, o rapaz foi classificado na cor amarela e aguardava atendimento no saguão quando, após cerca de 15 minutos, apresentou quadro sugestivo de crise convulsiva.
Ele foi levado à área vermelha, já inconsciente, e evoluiu para uma parada cardiorrespiratória (PCR). Equipes médicas iniciaram manobras de reanimação, realizaram intubação orotraqueal e aplicaram protocolos de ressuscitação por mais de 30 minutos, conseguindo reverter temporariamente o quadro.
Contudo, Matheus Falcão sofreu uma nova PCR minutos depois, desta vez sem resposta às tentativas de reanimação, sendo que o óbito foi declarado às 19h53 pelo médico plantonista.
O prontuário do paciente também aponta histórico de etilismo há nove anos, com uso frequente de bebida alcoólica desde os 12 anos. A mãe relatou ainda que ele recorria ao consumo de álcool desde os 19 anos para conseguir dormir.
A Polícia Civil, por meio da Decon (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Contra as Relações de Consumo), conduz as investigações. O inquérito apura possíveis crimes de perigo comum qualificado (artigo 258 do Código Penal), falsificação ou adulteração de bebidas (artigo 272) e morte decorrente de fato atípico.
O delegado plantonista da Depac Cepol, Willian Oliveira, determinou diligências na UPA Universitário para recolhimento do frasco da bebida consumida por Matheus. No entanto, a equipe de saúde informou que o recipiente havia sido retido pela Unidade de Resposta Rápida (URR) e seria encaminhado à Vigilância Sanitária.
Amostras de sangue e urina da vítima já foram enviadas para análise no Laboratório Central do Município. Além disso, policiais recolheram outros frascos de bebidas encontrados na residência do jovem, localizada no bairro Jardim Colibri, que também serão submetidos a perícia.
Mudança de hábito
Com medo de serem a próxima possível vítima por intoxicação causada por metanol, os frequentadores dos bares de Campo Grande decidiram mudar de hábito, migrando de bebidas destiladas para cerveja ou chope.
“Graças a Deus ninguém questionou a veracidade e a procedência dos nossos produtos, ninguém tem entrado no assunto do metanol”, afirmou Ana Jéssica Marioti, 31 anos, gerente do Boteco Juanita, localizado na Rua 7 de Setembro, região central.
Ela explicou que o bar faz pedidos diretamente com distribuidoras e orientou funcionários a checar lacres e selos de certificação. “A gente trabalha bastante com cerveja e chope, mas recebemos também whisky e tequila. Tudo com selo certinho”, complementou.
O mesmo tom aparece no Maracutaia Bar, onde a gerente Jennifer Tabosa, 35 anos, admite o impacto da notícia, mas minimiza riscos para a casa com capacidade para 300 pessoas. “No momento, acreditamos que a suspeita de uso do metanol até atinja o movimento, mas o nosso forte é o chope. Além disso, trabalhamos com fornecedores certificados, então estamos tranquilos”, disse.
Ela reforça que os colaboradores foram orientados sobre cuidados, embora reconheça que parte do público jovem gosta de misturar vodca com refrigerante. “A galera sai daqui e vai tomar outra, mas pelo menos aqui a gente garante a procedência”, complementou.
Com 13 anos de casa, Ivan Rodrigues Pedreira, gerente do Bar Mercearia, na Rua 15 de Novembro, diz que as piadas dos clientes mostram que o assunto já circula na mesa de boteco. “O pessoal às vezes brinca: ‘olha, essa não está batizada com metanol, né?’. A gente sorri, mas sabe que o pessoal acompanha o noticiário também”.
Segundo ele, o espaço está de portas abertas para atender 200 clientes simultâneos, já que o espaço confia nos mesmos fornecedores há duas décadas, principal blindagem contra riscos, afirma.
Entre os clientes, o receio é claro. Christian Lopes, técnico em administração de 25 anos, garante que, pelo menos por enquanto, não arrisca nos destilados. “Com essa informação de suspeita de metanol nas bebidas, nem pensar que eu vou arriscar. Fica perigoso, e a gente fica em dúvida sobre consumir destilado”, afirmou junto de três amigas, uma delas, optou por drink sem álcool, enquanto as demais tomavam cerveja. Com informações do Correio do Estado

