Amigona do peito: Justiça começa ouvir testemunhas e quer saber qual o segredo do sutiã

A prefeita eleita de Fátima do Sul, Ilda Machado, esposa do ex-presidente da Assembleia Legislativa, Londres Machado, e que foi flagrada tirando dinheiro do sutiã para comprar voto, pode ter a eleição anulada.

Nesta semana, a juíza da 4ª Zona Eleitoral de Fátima do Sul, Rosângela Alves Fávero de Lima, começa a ouvir testemunhas de duas ações que podem culminar em novas eleições no município pela robustez das provas que constam nos autos contra a coligação da prefeita eleita.

Em eleição bastante disputada ela venceu em 2 de outubro o atual prefeito Júnior Vasconcelos, do PSDB. A republicana obteve 6.882 (51,67%) e tucano 6.438 votos (48,33%). Ilda Machado é acusada de abuso de poder econômico com a distribuição de combustíveis para eleitores em plena campanha eleitoral e de compra de votos. O MPE acatou representações apresentadas pela coligação de Júnior Vasconcelos.

Provavelmente valendo-se do poderio político e econômico do esposo da candidata, o ex-deputado estadual Londres Machado, recordista brasileiro de legislaturas consecutivas (11), correligionários e coordenadores de Ilda Machado “aprontaram” durante a campanha eleitoral afrontando o MPE e a Justiça Eleitoral.

 Durante a campanha e a pedido do MPE, a juíza Rosângela Lima autorizou com a participação de uma equipe do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (GAECO), de Dourados, buscas domiciliares em casas de diversos apoiadores da campanha de Ilda Machado, além de conduções coercitivas. Provas foram coletadas e depoimentos comprometedores foram tomados. Três das testemunhas vivem hoje sobre proteção policial.

 Nos autos estão anexadas declarações, requisições, imagens de motocicletas e carros abastecendo com adesivos da candidata para participarem de carreatas e “motocadas”.

Além de distribuir para quem quisesse requisições de combustíveis, principalmente em um posto no centro da cidade, apoiadores de Ilda Machado são suspeitos de abordar, até mesmo nas ruas, eleitores contrários propondo compra de votos, cujos valores iam de R$ 200,00 a R$ 3.000,00 para populares e a partir de R$ 10 mil para lideranças. O MPE ainda apura essas denúncias.

 Não foram, contudo, correligionários e coordenadores que provocaram a maior celeuma das eleições municipais de Fátima do Sul neste ano. A ex-prefeita e agora prefeita eleita Ilda Machado foi flagrada, em vídeo, entregando R$ 200,00 a um eleitor, embora as imagens não revelem a entrega de outros R$ 500,00, segundo consta nos autos. O vídeo virilizou nas redes sociais e transformou a vida de quem gravou (o denunciante) num inferno.

 A então candidata, na verdade, escorregou no próprio veneno. Um eleitor de Júnior Vasconcelos indignado com a abordagem de gente da coligação encabeçada pelo PR a vizinhos, familiares e amigos oferecendo dinheiro para votar nela armou uma armadilha. Através de um bilhete atraiu Ilda Machado em sua residência e gravou o vídeo onde ela aparece tirando notas de R$ 50,00 supostamente escondidas no sutiã, num diálogo comprometedor.

 Quando as imagens foram reveladas nas redes sociais o denunciante passou a ser pressionado para negar que a entrega do dinheiro fosse compra de votos e, sim, pagamento de “serviços eleitorais”. Convicto de que fizera a coisa certa, mas temendo a própria vida procurou amigos que o levaram para fora da cidade, onde ficou escondido.

 Com o sumiço do denunciante, pessoas ligadas a Ilda e Londres Machado passaram a pressionar familiares para que revelassem seu paradeiro, segundo consta nos autos, com ameaças de morte, de queima da casa, propostas de R$ 50 mil, R$ 200 mil e automóvel. A gravidade dos fatos e as provas contundentes arroladas nos processos levaram a Justiça a determinar proteção policial ao denunciante, à esposa e a um enteado.

 Testemunhas no caso da distribuição de requisição de combustíveis serão ouvidas nesta quinta-feira. A oitiva sobre a compra de votos tendo como pano de fundo o vídeo está marcada para 20 de outubro.

 Por outro lado, a defesa da prefeita eleita Ilda Machado alega que o vídeo não fora autorizado pela Justiça e que é uma montagem. Afirma que as requisições de combustível foram entregues para pessoal contratado para a campanha, cujas despesas seriam declaradas à Justiça Eleitoral.

Caso a candidatura de Ilda Machado seja cassada, ou perder o mandato se tomar posse, ocorrerá novas eleições em Fátima do Sul, já que apenas dois candidatos disputaram a Prefeitura e nesse caso a legislação eleitoral não permite que o segundo colocado assuma.