Os deputados federais sul-mato-grossenses Carlos Marun (PMDB), Dagoberto Nogueira (PDT), Geraldo Resende (PSDB), Tereza Cristina (PSB), Vander Loubet (PT) e Zeca do PT integraram o grupo de parlamentares que votou, na calada da noite, para aprovar o pacote com dez medidas contra a corrupção, apoiado por dois milhões de assinaturas, desfigurando-o a tal ponto que quase nada restou do texto original.
Com exceção do deputado federal Mandetta (DEM), que votou não, e do deputado federal Elizeu Dionizio (PSDB), que não estava presente à sessão na hora da votação, todos os outros seis integrantes da bancada federal de MS na Câmara de Deputados deram mais um duro golpe nos eleitores que votaram para reconduzi-los à Câmara.
Aproveitando-se do fato de o Brasil ainda estar comovido com a tragédia da queda do avião que levava o time da Chapecoense à Colômbia, com 71 mortos, a quase totalidade dos partidos, começando pela oposição do PT, não esperou nem o fim do luto para aprovar, deformando-o, um texto de tamanha importância.
Não só o documento ficou aguado e quase irreconhecível como também foi introduzida, na surdina, uma medida polêmica neste momento em que a Lava Jato está processando políticos e empresários acusados de corrupção: castigos a juízes e procuradores, incluindo a prisão, por crimes de abuso de responsabilidade.
Uma medida que em si parece justa, já que nenhuma instituição está acima da lei, mas que neste momento, e aprovada na calada da noite, e com dezenas de deputados investigados por corrupção, soa a provocação.
Não é a primeira vez que a Câmara dos Deputados aproveita um momento de distração da sociedade e, sempre a altas horas da noite, para aprovar medidas polêmicas, invariavelmente em benefício próprio e sem dar tempo para que a sociedade, à qual devem responder, possa reagir.
A impressão que oferecem é que, uma vez votados nas urnas, os congressistas adquirem uma espécie de onipotência que lhes permite atuar como se não devessem prestar contas a quem os colocou ali. Tudo isso faz com que a opinião pública brasileira demonstre a cada dia uma distância maior dos seus governantes, criando um fosso entre ambos.
Que a política está doente e que sofre neste momento uma forte crise de aceitação popular é algo que já foi dito até pelo presidente do Senado, Renan Calheiros, para quem o atual modelo é “patético e fracassado”. O que ocorre é que ele mesmo é alvo de 11 processos de suposta corrupção perante o Supremo Tribunal Federal.
A votação desta madrugada no Congresso, considerada nas redes sociais como uma “bofetada nas pessoas”, terá agora que ser ratificada pelo Senado. Será outro teste para avaliar o grau de respeito que o Senado da República manifestará pela opinião pública.
A última palavra terá o presidente Temer, se também o Senado ratificar o texto, já que ele tem poder de veto. Será outro teste importante para saber se é verdade, como disse Temer dias atrás, dirigindo-se à nação, que antes de mais nada os governantes precisam “escutar a voz da rua”.
A sociedade despertou incrédula ao saber que as dez medidas contra a corrupção, nas quais depositava tantas esperanças para purificar a política, morreram na praia. Os analistas comentam que o ocorrido no Congresso demonstra com força a necessidade urgente de uma reforma política que ninguém ainda se atreveu a fazer.
Uma reforma que seja capaz de devolver à sociedade a confiança em seus governantes, já que ninguém oculta, pelo menos na teoria, que fora da política a democracia se debilita dando lugar a perigosas experiências autoritárias.