A Santa Casa de Campo Grande encerrou 2024 com forte desequilíbrio financeiro e afirma que, apenas com internações de média e alta complexidade, gastou mensalmente quase R$ 1 milhão além do que recebeu do poder público. O desequilíbrio nesses dois serviços somou R$ 10,6 milhões ao longo do ano e contribuiu para o déficit global de R$ 98,3 milhões registrado pela instituição.
Documentos internos mostram que o hospital tinha autorização para gastar até R$ 46,9 milhões no ano com procedimentos de alta complexidade. Na prática, entretanto, os custos chegaram a R$ 49,4 milhões — um excesso de R$ 2,5 milhões.
Setembro foi o único mês em que as despesas ficaram dentro do limite. Já outubro registrou o pior cenário, com gastos de R$ 4,6 milhões, quase R$ 700 mil acima do teto. Na média, a Santa Casa estourou o limite mensal em R$ 214,7 mil.
O maior rombo, porém, está na média complexidade — categoria que inclui consultas especializadas, exames e atendimentos que exigem maior suporte técnico. Embora tivesse um limite anual de R$ 62,5 milhões, o hospital afirma ter operado R$ 70,6 milhões, acumulando R$ 8 milhões acima do autorizado.
Diferentemente da alta complexidade, o excesso ocorreu todos os meses, com outubro novamente em destaque: R$ 6,2 milhões gastos, frente aos R$ 5,2 milhões repassados para esse tipo de serviço.
Somando os dois grupos, o hospital ultrapassou o teto em R$ 887 mil por mês.
O documento obtido mostra que o Governo do Estado destinou R$ 1 bilhão para internações hospitalares em 2024 — o equivalente a 42,5% de todo o orçamento da saúde.
Desse total, R$ 108,9 milhões foram repassados exclusivamente à Santa Casa, que concentra a maior parte dos procedimentos de alta complexidade do Mato Grosso do Sul.
Para 2025, o valor estadual para internações caiu para R$ 919 milhões. Apesar disso, o montante destinado ao hospital foi mantido.
Somados os resultados negativos acumulados, a Santa Casa já acumula R$ 514,8 milhões em déficits ao longo dos anos. Um dos fatores que ampliam a dívida é a dependência de empréstimos bancários.
O mais alto deles foi contraído em janeiro de 2024, quando a instituição obteve R$ 248 milhões na Caixa Econômica Federal, com juros de 1,36% ao mês. O objetivo foi quitar financiamentos anteriores e reduzir encargos.
A operação mais recente, de R$ 5 milhões, foi usada para pagar parte das cinco folhas salariais em atraso de cerca de 400 médicos — dívida que soma R$ 30 milhões.
Atualmente, a Santa Casa recebe R$ 392,4 milhões ao ano — cerca de R$ 32,7 milhões mensais — resultado do convênio tripartite entre União, Estado e Município. Segundo a administração, esse valor não cobre a demanda atual do SUS e não é reajustado desde 2023.
Por isso, a entidade recorreu à Justiça pedindo:
- reajuste mensal para R$ 45,9 milhões (ou R$ 550,8 milhões/ano);
- recomposição retroativa dos últimos dois anos sem aumento.
O contrato emergencial venceu no mês passado, mas foi prorrogado judicialmente até o final de novembro enquanto as partes negociam novos valores.
Hoje, a divisão do convênio funciona assim:
- 56% – União (R$ 18,3 milhões/mês)
- 27% – Governo do Estado (R$ 9 milhões/mês)
- 16% – Município (R$ 5,2 milhões/mês)
A situação evidencia a pressão crescente sobre o maior hospital filantrópico do Estado, que atende casos de alta complexidade para todo o Mato Grosso do Sul. A instituição afirma que, sem reajuste imediato, o desequilíbrio financeiro continuará se agravando.
