Além de Campo Grande, outras três cidades de Mato Grosso do Sul aplicaram recursos dos fundos de previdência de servidores no Banco Master, instituição financeira que foi liquidada extrajudicialmente pelo Banco Central na semana passada. As aplicações, que somam mais de R$ 13 milhões apenas nesses quatro municípios, agora enfrentam risco real de não serem recuperadas.
O maior impacto recai sobre o Instituto de Previdência de Fátima do Sul (Iprefsul), responsável pelo maior aporte entre os municípios sul-mato-grossenses: R$ 7 milhões. Em seguida vêm os regimes próprios de Angélica, com R$ 2,2 milhões, e Jateí, com R$ 2,5 milhões aplicados. Já o IMPCG (Instituto Municipal de Previdência de Campo Grande) investiu R$ 1,3 milhão no banco, valor que representa 2,77% de sua carteira financeira.
O Banco Master tornou-se atraente para fundos públicos ao oferecer remuneração acima da inflação. Segundo o Ministério da Previdência, regimes de 17 estados e diversas prefeituras apostaram na instituição, incluindo grandes fundos como a Rioprevidência, do Rio de Janeiro, que aplicou R$ 970 milhões, e a Amprev, do Amapá, com R$ 400 milhões. O colapso do banco, portanto, tem repercussões nacionais.
Com a liquidação, o Banco Central estima um rombo de, no mínimo, R$ 12 bilhões, valor que levou a Justiça a determinar bloqueios e desencadeou uma operação da Polícia Federal. O banqueiro Daniel Vorcaro, que comandava o Master e ostentava padrão de vida milionário, foi preso durante as investigações.
Apesar de o Fundo Garantidor de Créditos (FGC) prever ressarcimento de até R$ 250 mil para investidores individuais, fundos de previdência públicos não são cobertos, o que os coloca na condição de credores comuns durante a fase de liquidação — um processo que pode durar anos e não garante devolução integral dos valores.
Em Jateí, onde o fundo movimenta R$ 42 milhões e paga benefícios a 71 aposentados e pensionistas, o diretor Luciano Francisco da Silva afirma que o investimento foi feito pela gestão anterior e que ainda busca esclarecer os critérios que levaram à escolha do Master. A nova administração analisa a situação e pretende comunicar os servidores assim que houver informações mais concretas.
Em Fátima do Sul, os balanços mais recentes são de 2023 e não mencionam investimentos no Banco Master, embora indiquem um total de R$ 39,7 milhões distribuídos em 23 aplicações — a maioria em instituições como Caixa Econômica, Banco do Brasil, Sicredi e Daycoval.
Já em Angélica, o investimento no banco aparece de forma explícita, embora sem indicação de data de resgate. O patrimônio do instituto era de R$ 46,3 milhões até julho deste ano, conforme a última atualização disponível.
Em Campo Grande, o IMPCG afirma que o título adquirido tinha previsão de resgate apenas em 2029 e que ainda avalia quais medidas serão adotadas diante da possibilidade de prejuízo.
Com vários municípios afetados e milhões de reais comprometidos, o caso expõe fragilidades na gestão de investimentos previdenciários e reacende o debate sobre os critérios utilizados para aplicar recursos que garantem o futuro financeiro de servidores públicos.
