Preso desde 9 de setembro deste ano, ou seja, há 23 dias, o prefeito de Terenos, Henrique Wancura Budke (PSDB), usava como jargão para os esquemas de corrupção comandados por ele: “prega bala”.
Conforme o MPE (Ministério Público Estadual), o jargão era o “sinal verde” para o início dos atos de fraude e um exemplo foi a publicação oficial de uma licitação para reforma de uma escola em Terenos.
Ele enviou parte do edital ao empresário Sandro José Bortoloto, dono da construtora Angico, que viria a participar do certame. A troca de mensagens, revelada na investigação da Operação Velatus, culminou com uma ordem direta do prefeito: “prega bala”.
A investigação do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), detalhada na denúncia oferecida pelo MPE, expõe como o prefeito Henrique Budke, apontado como chefão da organização, atuava diretamente para direcionar licitações a um grupo de empresários.
Ao final da denúncia, o MPE pede a condenação de todos os 26 envolvidos. Além da perda dos bens e valores obtidos ilegalmente, o MPE requer a interdição do exercício de função pública para os principais réus, incluindo o prefeito e o secretário, pelo dobro do tempo da pena que vier a ser aplicada. A Procuradoria também pede que a Justiça fixe uma indenização por danos morais coletivos no valor de R$ 10 milhões.
No caso do prefeito, que está preso há quase um mês, o Ministério Público pede a condenação dele por quatro crimes diferentes, alguns deles praticados reiteradas vezes: organização criminosa, corrupção passiva, lavagem de dinheiro e fraude em licitação. Se condenado, a pena de Budke pode passar dos 260 anos de prisão.
Um dos casos mais detalhados é a Tomada de Preços nº 001/2022, para a reforma da Escola Municipal Rosa Idalina Braga Barboza. A investigação mostra que, muito antes da publicação do edital, o prefeito já tratava da obra como um negócio certo com os empresários.
A denúncia do MPE, baseada em quebras de sigilo e mensagens de WhatsApp, descreve o modus operandi do grupo, liderado pelo prefeito. Em 26 de janeiro de 2022, cinco dias antes da publicação do edital, o prefeito Henrique enviou a Sandro Bortoloto um trecho do documento com as exigências de qualificação técnica. Ao ser questionado pelo empresário se a licitação já tinha data, o prefeito respondeu: “Ainda não”.
Após a visita técnica de Sandro à obra, o prefeito o cobrou sobre a avaliação. O empresário respondeu que a obra era “tranquila” e que “dá pra tocar”. Henrique então reafirmou o acordo e, segundo o MP, “orientou o empresário a iniciar os atos de fraude”, dizendo: “Então prega bala”.
No dia do julgamento da licitação, em 18 de fevereiro de 2022, Sandro e seu sócio oculto, Cleberson José Chavoni Silva, articularam com o empresário Marcos do Nascimento Galitzki (da empresa Gomes & Azevedo) para que ele desistisse da concorrência, garantindo que apenas participasse a empresa do grupo, a GS Serviços e Construtora, de Arnaldo Santiago.
Embora a GS Serviços tenha vencido formalmente, a investigação aponta que a execução da obra foi, na verdade, assumida por Sandro e Cleberson. Em áudio, Cleberson tranquiliza Sandro sobre a informalidade do acordo: “Eu acho que ali nós tamo tranquilo. Pelo menos ele se diz (…) um cara de muita palavra né, não tem muito papel não”.