“Gestão do Vale Tudo”: prefeita avisa que servidores vão continuar sem reajuste por mais 2 anos

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A prefeita de Campo Grande, Adriane Lopes (PP), comunicou, ontem (11), que os servidores municipais vão continuar sem reajuste salarial por mais dois anos, completando assim cinco anos sem aumento, enquanto o primeiro escalão ostenta remunerações altíssimas.

A explicação de Adriane Lopes para o descaso com o funcionalismo público de Campo Grande é o ajuste fiscal aprovado pela Câmara Municipal para que a gestão municipal possa conseguir a liberação de recursos do governo federal.

No chamado PEF (Plano de Promoção do Equilíbrio Fiscal), entre outras exigências, está previsto que o déficit previdenciário seja computado como despesa com pessoal. Até agora, era computado como outras despesas. E, com essa manobra contábil, a Prefeitura tende a ficar por vários anos com a folha de pessoal acima do limite prudencial.

Com cerca de quatro servidores da ativa para cada aposentado ou pensionista, o déficit do sistema previdenciário da Prefeitura de Campo Grande aumentou em 515% nos últimos dois anos. Em 2024, o déficit foi de R$ 125,5 milhões e a tendência é que supere este valor em 2025 e este valor será computado como gastos com pessoal.

Ao longo dos 12 meses de 2024, o Instituto Municipal de Previdência de Campo Grande (IMPCG) teve receita de R$ 515,3 milhões, resultado das contribuições dos cerca de 28 mil servidores da ativa (14%) e da contribuição patronal (28%, da prefeitura).

No período, porém, os cerca de 7 mil aposentados e pensionistas custaram R$ 640,8 milhões. E, para garantir o pagamento dos salários em dia, o Executivo municipal está sendo obrigado a desembolsar quase R$ 10,5 milhões mensalmente.

Para efeito de comparação, em 2022 o déficit do IMPCG foi de R$ 20,4 milhões. No ano seguinte saltou para R$ 89,8 milhões e, no ano passado, alcançou os R$ 125,5 milhões. No período, o faturamento ficou praticamente estagnado. Há dois anos a receita foi de R$ 514,1 milhões. No ano passado, entraram R$ 515,3 milhões.

Além da inclusão deste déficit previdenciário na rubrica folha de pagamento, o PEF também acaba com a possibilidade de os servidores recuperarem o direito às chamadas progressões horizontais e verticais, que a cada cinco anos garantem algum acréscimo nos vencimentos.

Ao ser indagada na manhã desta sexta-feira (11) sobre a influência deste “arrocho” fiscal no bolso dos servidores, Adriane Lopes reafirmou que para este ano está descartada a possibilidade de reajuste.

Na sequência, declarou que “para o ano que vem eu não tenho como dizer, porque esse plano de reequilíbrio fiscal é até a gente recuperar a capacidade de investimento do município. Pode durar um ano, mas pode durar dois anos. Então, vai depender muito dos avanços que nós vamos implementar nesse tempo”. Ou seja, o congelamento vale por tempo indeterminado.

Por outro lado, deixou claro que o principal objetivo do pacote fiscal é recuperar a capacidade de contrair empréstimos com o aval do Governo Federal. E, embora ainda não tenha conseguido cortar os gastos, já prevê investimentos anuais de R$ 154 milhões a partir do próximo ano e o principal destino destes recursos é para obras de asfalto, afirmou Adriane.

Desde que assumiu o cargo, em abril de 2022, Adriane Lopes concedeu reajustes salariais individualizados, mas nenhuma reposição linear. Desde então, a inflação se aproxima dos 15%. Entre as categorias que conseguiram alguma melhora estão os professores, cujos custos estão atrelados ao Fundeb.

Além disso, a elite do funcionalismo como procuradores, auditores fiscais, médicos e parte dos dentistas, também conseguiram reposição salarial. E este aumento beneficiou a própria prefeita e todo o primeiro escalão.

Em abril o salário da prefeita passou de R$ 22,1 mil para R$ 26,9 mil. Em fevereiro do próximo ano deve subir para R$ 31,9 mil. No mesmo mês do ano seguinte, para R$ 35,46 mil. Com isso, ela, o primeiro escalão e a elite do funcionalismo terão garantido aumento de da ordem de 66% nos salários em três anos.

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