Para que servem? Pesquisas eleitorais erraram feio na Capital e subestimaram poder da escolha do eleitor

As eleições de Campo Grande apresentaram um resultado muito diferente da maioria das pesquisas eleitorais publicadas nas últimas semanas. Enquanto a maioria dos institutos indicavam um segundo turno entre Beto Pereira (PSDB) e Rose Modesto (União), a prefeita Adriane Lopes (PP), conquistou a primeira colocação com 31,67% dos votos válidos, o equivalente a 140.913 votos.

As únicas exceções estão entre os levantamentos  dos institutos AtlasIntel e London que conseguiram prever o resultado com maior proximidade da realidade. A maioria dos outros institutos, no entanto, falhou em captar a tendência de crescimento da candidatura de Adriane, o que levanta questionamentos sobre as amostragens utilizadas e o possível impacto desses erros nas campanhas eleitorais.

Para o cientista político Airton Souza, as pesquisas são apenas um “retrato momentâneo” das intenções de voto, e sua precisão depende de fatores como a metodologia aplicada, o tamanho da amostra e, especialmente, as áreas abrangidas pelo levantamento. “As pesquisas tentam captar um sentimento de momento, mas a verdadeira pesquisa é a que acontece no dia da eleição, quando o eleitor faz a sua escolha definitiva nas urnas. No caso de Campo Grande, a discrepância pode ter ocorrido por uma falha na captação de eleitores de áreas específicas, como bairros periféricos, que podem não ter sido incluídos de forma representativa nas amostras”, explicou Souza.

O especialista também reforça que as urnas revelam o “termômetro real” da eleição, especialmente em casos onde as amostras não conseguem capturar a totalidade da diversidade de eleitores. “Há segmentos que acabam ficando fora das pesquisas, o que leva a erros nas previsões. Em Campo Grande, vimos uma inversão nas posições que foram divulgadas pelos institutos: Beto e Rose caíram, enquanto Adriane cresceu. Isso pode ocorrer quando determinados eleitores não são representados nas amostras.”

Além das falhas metodológicas, houve também relatos de problemas durante a coleta de dados. Eleitores de Campo Grande afirmaram ter recebido várias ligações de telemarketing de diferentes institutos ao longo da semana, questionando suas intenções de voto. O volume de chamadas gerou críticas, sugerindo que a repetição e a abordagem invasiva podem distorcer os resultados das pesquisas. Em alguns casos, até moradores do interior do estado foram consultados sobre a disputa na Capital, o que reforça a desconfiança sobre a precisão das amostragens.

A credibilidade das pesquisas eleitorais fica ainda mais em xeque quando se considera que esses levantamentos são frequentemente usados para influenciar eleitores indecisos, criando uma espécie de “efeito manada”, onde as pessoas tendem a seguir os candidatos que aparentam ter maior chance de vitória. Esse fenômeno, conhecido como voto estratégico, pode ser prejudicial à democracia, uma vez que coloca em segundo plano a avaliação crítica dos projetos e da integridade dos candidatos.

No entanto, o eleitorado de Campo Grande que levou Adriane Lopes à liderança parece ter feito uma escolha mais consciente, focando não apenas nas pesquisas, mas em sua gestão como prefeita e nas propostas que apresentou para temas cruciais como educação, infraestrutura e desenvolvimento sustentável. Além disso, o histórico de Adriane como uma candidata ficha limpa foi um diferencial importante na decisão de muitos eleitores.

O erro grosseiro nas pesquisas desta eleição serve como um alerta para o eleitorado, que deve sempre basear suas escolhas em uma análise cuidadosa e não em tendências momentâneas ou projeções incertas. O resultado em Campo Grande mostrou que, ao final, o voto consciente é o que realmente faz a diferença, refletindo as expectativas e as demandas reais da população.

De acordo com o cientista político Airton Souza, o erro nas pesquisas eleitorais pode ser atribuído a vários fatores, desde a metodologia empregada até a amostragem utilizada. “As pesquisas representam um momento específico e, muitas vezes, falham em captar a totalidade do eleitorado. A amostragem, as regiões pesquisadas, e até o meio utilizado para a coleta de dados são determinantes para o resultado final, mas nem sempre refletem a realidade do dia da votação. Por isso, a pesquisa mais precisa seria aquela feita nas urnas, onde o eleitor toma sua decisão final, mas essa prática é proibida no Brasil”, pondera Souza.

Ele também aponta que as amostras podem não ter incluído segmentos importantes da população, como eleitores de bairros periféricos, o que compromete a representatividade. “Muitas vezes, pesquisas não captam eleitores que não caíram nas amostragens, especialmente em áreas mais afastadas ou em segmentos menos acessados pelos meios tradicionais de pesquisa, como o telemarketing. Isso explica, em parte, os erros e as inversões de posições que vimos em Campo Grande”, acrescenta.

O caso de Campo Grande é emblemático. Eleitores relataram terem recebido múltiplas ligações de telemarketing de diferentes institutos de pesquisa, algumas vezes na mesma semana, o que gerou desconfiança quanto à precisão dos levantamentos. Além disso, houve relatos de moradores do interior do estado sendo questionados sobre candidatos da Capital, o que reforça as críticas sobre a eficiência das amostragens.

Diante desse cenário, a credibilidade das pesquisas eleitorais tem sido cada vez mais questionada. Historicamente, esses levantamentos influenciam a decisão de eleitores indecisos, que muitas vezes preferem “seguir a onda” dos candidatos que estão em destaque. Contudo, os erros recorrentes em Campo Grande reforçam a importância de um voto mais crítico e consciente.

“A dica de ouro é que o cidadão pratique o voto consciente, baseado em uma análise profunda das propostas e da integridade dos candidatos, e não se deixe levar apenas pelas pesquisas. Só assim se garantem escolhas que realmente refletem as necessidades da cidade”, ressalta Souza.

Adriane Lopes, ao conquistar a liderança no primeiro turno, mostrou que sua gestão e propostas para áreas cruciais, como educação, infraestrutura e desenvolvimento sustentável, foram decisivas para os eleitores. Sua trajetória limpa e comprometida com a transparência também se destacou no cenário político local, contrastando com o desgaste de outros candidatos.

Essa reviravolta no primeiro turno de Campo Grande destaca a necessidade de que pesquisas eleitorais sejam vistas com cautela, reforçando a importância de o eleitorado confiar mais no próprio julgamento do que nas projeções. O desempenho de Adriane Lopes demonstra que, na política, o trabalho consistente e o alinhamento com as demandas reais da população ainda são os fatores mais determinantes na hora de conquistar votos.