Disputa por uma cadeira na Câmara tem desde acusado por desvio de verba a réu por falso atentado

Dos 480 candidatos a vereador em Campo Grande, uma média de 16,5 concorrentes para cada uma das 29 vagas, o eleitor poderá escolher o nome de sua preferência de uma lista contendo perfis variados.

Conforme levantamento do site MS em Brasília, são políticos conhecidos, uns reprovados pelas urnas, outros que querem voltar a ter uma “boquinha”, além daqueles que vão disputar eleição pela primeira vez.

Entre eles, estão o ex-prefeito de Campo Grande Marquinhos Trad (PDT), o ex-deputado federal Loester Trutis (PL) e o juiz aposentado Odilon de Oliveira (PP), que sai da condição de candidato a senador em 2022 para vereador em 2024.

Os três têm em comum o fato de terem sido rejeitados pelas urnas em 2022. Trad ficou em sexto lugar na disputa para governador, enquanto Tio Trutis não conseguiu se reeleger e Odilon foi derrotado na tentativa de virar senador, na chapa de Marquinhos ao Governo.

Marquinhos Trad conseguiu arquivar os processos que corriam contra ele na justiça de Campo Grande por crimes sexuais, o que não apaga da memória das pessoas os fatos chocantes divulgados à época.

O político é acusado também de ter sido o principal beneficiário de um esquema que desviou milhões em dinheiro público de obras na capital, investigado na Operação Cascalhos de Areia.

Já Tio Trutis é réu por suspeita de ter forjado o próprio atentado, em fevereiro de 2020. O processo tramita no Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul em segredo de justiça (ver aqui).

O ex-deputado também responde a processo por posse irregular de armas e munições, como duas pistolas e um fuzil. É ainda réu em processo movido pelo delegado de Polícia Federal Glauber Fonseca de Carvalho Araújo, com base na Lei de Imprensa, por ofensas graves a sua honra.

Nas redes sociais, Marquinhos diz que “gente é a prioridade dele” e que ele faz parte das mudanças que o povo quer. O histórico dele como prefeito de Campo Grande por cinco anos, contudo, desmente tais frases.

Entregou a prefeitura, em abril de 2022, a Adriane Lopes com as contas públicas em frangalhos: limite de gastos com a folha de pessoal estourado, caos na saúde, obras paralisadas e denúncias sobre o uso de programa social para acomodar cabos eleitorais.

Além disso, foi responsável pela criação da chamada “folha secreta”, que teria causado rombo de R$ 386 milhões aos cofres do município, com o pagamento de supersalários a um grupo privilegiado de servidores.

Trutis, por sua vez, afirma ser o “candidato a vereador mais corajoso do Brasil”, mas não explica por que chegou a essa conclusão, uma vez que o político passou quatro anos envolvido em irregularidades no mandato em Brasília. Usou mal recursos públicos, como pagar aluguel de casa de luxo, onde morava com a mulher e três filhos com a Cota para Exercício da Atividade Parlamentar.

Já entre ex-vereadores que querem voltar estão André Salineiro (PL), Athayde Nery (PSDB), Eduardo Romero (Solidariedade), Enfermeira Cida Amaral (Republicanos), Marcelo Bluma (PV), Maurício Picarelli (União), Miltinho Viana (PSD), Poppi (PSB), entre outros.

Também disputará uma das 29 vagas a ex-vereadora Grazielle Machado (PSDB), filha do deputado estadual Londres Machado (PP), com 13 mandatos seguidos, e da prefeita de Fátima do Sul, Ilda Machado (PP). Constam ainda Airton Saraiva, Youssif Domingos (MDB) e Vinicius Siqueira (MDB), candidato a prefeito em 2020.

Outro que deseja seguir a carreira do pai é Flávio Cabo Almi, filho do deputado estadual Cabo Almi, que morreu de Covid-19 em 2021. Ele disputará a eleição de vereador pelo PSDB e não pelo PT, o partido do pai.

Há nomes desconhecidos do público, mas atuante nos bastidores da política campo-grandense. Trata-se de Elenilton Dutra (Avante), ex-assessor de Marquinhos Trad e autor de falsa denúncia sobre o episódio de crimes sexuais de que o então prefeito foi acusado.

Dutra acusou o então secretário de Administração na gestão Reinaldo Azambuja e atual diretor-presidente da Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos, Carlos Alberto Assis, de ter pagado as mulheres para denunciar Marquinhos, o que não ficou comprovado (ver aqui).

Na lista dos 480 candidatos aptos a disputar as eleições para vereador, estão assessores políticos, como Juliana Gaioso (PP), ex-assessora da senadora Soraya Thronicke (Pode) e que trabalhava na gestão de Adriane Lopes (PP), assim como Maicon Nogueira (PP). Dois nomes aparecem como inaptos: Wilton Acosta (Republicanos) e Paulo Pedra (União).

Vivi Tobias (PL) é outra ex-assessora na disputa por uma cadeira na Câmara da capital. Ela foi candidata a deputada federal em 2022, quando teve 5.239 votos pelo PRTB, partido do ex-candidato a governador Capitão Contar. Ela foi assessora parlamentar do deputado estadual Rafael Tavares, também candidato a vereador, que teve o mandato cassado por irregularidades no registro de candidaturas na cota para mulher no PRTB.

Caso o eleitor entenda que não vale a pena repetir votos de eleições anteriores, há diversos novatos dispostos a fazer a diferença. Entre eles, duas mulheres que pretendem aumentar a representação feminina na Câmara de Vereadores.

Uma delas é Thaisa Lucena (MDB), secretária-geral da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura em Brasília e coordenadora de cursos na periferia de Campo Grande. Ela chegou a ser cotada para vice na chapa de Beto Pereira (PSDB).

Engajada nos movimentos sociais desde os 14 anos, Thaisa é também uma das coordenadoras da Marcha das Margaridas, movimento que leva todo ano milhares de mulheres do campo para as ruas de Brasília.

A petista Mara Dalila Teixeira, a Mara do Bairro, é outra que disputará as eleições pela primeira vez. Ela tem usado a criatividade para fazer campanha. Sem dinheiro próprio ou do partido, Mara tem feito seus adesivos à mão.

“Até agora só tenho santinhos. Adesivos são por nossa conta, mas não tenho dinheiro. As mulheres candidatas são discriminadas na distribuição de recursos do fundo partidário, em todos os partidos”, reclama a candidata, cujo partido, o PT, é o segundo do país que mais receberá recursos do fundo eleitoral.