A Polícia Federal descobriu que lideranças do PCC (Primeiro Comando da Capital) alugaram um arsenal que mantinham escondido no Paraguai e em Mato Grosso do Sul para ser usado nos ataques a Araçatuba (SP), na última segunda-feira (30), e em Mariluz (PR), ontem (31). De acordo com a PF, um conjunto de interesses uniu integrantes da facção criminosa com dívidas financeiras e a necessidade de a quadrilha fazer caixa para abrir novas rotas aéreas do tráfico de drogas da fronteira para o Sudeste, com a aquisição de aeronaves e contratação de pilotos.
O acordo foi descoberto inicialmente no último dia 25 de agosto, quando a PF interceptou conversas de dois integrantes da facção do PCC em Mato Grosso do Sul falando de um carregamento com 60 fuzis, dois deles de calibre ponto 50 – com capacidade de derrubar aeronaves –, que seria trazido de helicóptero e deixado em uma cidade do interior, longe da região da fronteira. Na ocasião, a fala em código usada pelos bandidos impediu a PF de descobrir a cidade onde ocorreria o desembarque.
Agora, dois dias após o ataque do “novo cangaço” em Araçatuba, com a certeza de que esse arsenal foi usado na ação que deixou três pessoas mortas e três gravemente feridas, PF, Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) do Ministério Público de São Paulo acreditam que parte do arsenal estava em Mato Grosso do Sul. De acordo com o promotor de Justiça Lincoln Gakiya, do Gaeco de São Paulo, há uma espécie de acordo em andamento e o assalto pode não ter sido cometido a mando da cúpula da facção, mas por integrantes dela. E que o PCC tenha emprestado as armas e bombas em troca de um percentual do roubo.
Mas qual seria o objetivo do PCC? Reforçar o caixa para ampliar a operação do tráfico, principalmente da região de Corumbá (MS), para ser distribuído na Grande São Paulo e também exportado pelo porto de Santos (SP). A facção está sofrendo desfalques financeiros por conta da atuação policial. Retomada recentemente, a Operação Nova Aliança, conjunta entre a PF e a polícia paraguaia, atua em depósitos de drogas no país vizinho. Somente em sete dias de atuação, foram quase R$ 70 milhões em apreensões.
A suspeita da PF e do Gaeco passa por Jorge Carlos de Mello, 38 anos. Um dos mortos na ação em Araçatuba, ele passou oito vezes pelo sistema prisional desde 2001, quando foi acusado de chefiar o tráfico e uma quadrilha de roubo a bancos em Diadema (SP). Solto desde 2017, morou pelo menos sete meses, em 2019, em Ponta Porã, auxiliando Gilberto Aparecido dos Santos, o “Fuminho”, um dos principais líderes do PCC e braço direito de Marco Willians Herbas Camacho, o “Marcola”, apontado como o principal líder da facção.
Até o momento, foram confirmadas quatro prisões: um casal capturado em Araçatuba, um suspeito baleado em confronto e um homem detido na capital paulista por suspeita de ter participado do planejamento do crime. A identidade deles não foi revelada pela Polícia Federal.
A ação em Mariluz (PR) contou com oito homens armados, que explodiram pelo menos duas agências bancárias. De acordo com o secretário de Estado de Justiça e Segurança Pública, Antônio Carlos Videira, ele reforçou o policiamento nos acessos ao Paraná. Segundo ele, o setor de inteligência trabalha para averiguar os passos dos acusados caso tentem se esconder no Estado. Com informações do jornal O Estado MS