Meleca no ventilador! Odilon vendia sentenças e ajudava traficantes, diz assessor. Veja a delação.

Jedeão, Carvalho que foi assassinado e Odilon de Oliveira

A “máscara” do juiz federal aposentado Odilon de Oliveira, candidato a governador pelo PDT nas eleições deste ano, começou a cair e a figura de “paladino da Justiça” está sendo desconntruída pouco a pouco, ou melhor, página por página.

Documento registrado em cartório e entregue ao MPF (Ministério Público Federal) pelo ex-assessor do juiz, o bacharel em Direito Jedeão de Oliveira, primo do candidato, como proposta de um acordo de delação premiada, traz, em suas 23 páginas, o “modus operandi” do magistrado à frente da 3ª Vara Federal de Campo Grande.

De combatente solitário do crime organizado que chamava os réus da 3ª Vara Federal de Campo Grande de “sebosos”, Odilon é retratado na delação de Jedeão como exibicionista e autoritário que passava por cima da lei para investigar a quem quisesse através de uma agência própria de espionagem e de escutas clandestinas.

O bombástico documento assinado por Jedeão de Oliveira traz revelações detalhadas da atuação de Odilon nos 22 anos em que o primo do juiz foi diretor da 3ª Vara Federal da Capital. Acusado de desviar R$ 11 milhões da Justiça Federal, Jedeão foi demitido em 2016 e alvo de uma investigação, segundo ele, patrocinada pelo ex-chefe.

 

VENDA DE SENTENÇAS

“O juiz federal Odilon de Oliveira, ao mesmo tempo em que criava a imagem de homem probo e de combatente solitário do crime organizado, mantinha agenciadores para promover a venda de suas decisões”, transcreveu Jedeão em sua delação.

O ex-assessor afirma ter percebido pela primeira vez o indício de venda de decisões durante uma operação para combater crimes contra o sistema financeiro nacional, com mandados cumpridos em casas de câmbio clandestinas de Campo Grande.

“Nessa operação foram apreendidos muitos documentos e valores em moedas estrangeiras de cinco ou seis casas de câmbio, dentre elas a Casa de Câmbio de Márcio Tonin França, que era colega de faculdade de Adriano Magno de Oliveira, filho do juiz Odilon”, afirmou Jedeão.

Segundo ele, foram feitos vários pedidos de restituição dos valores apreendidos, mas só os valores da casa de câmbio do amigo do filho do juiz foram restituídos, por decisão de Odilon. Jedeão afirma que estava de férias na casa de amigos em Ouro Preto (MG) e teve de antecipar o retorno a Campo Grande, para restituir os valores.

“O filho do chefe estava exigindo que fosse feito com urgência”, disse diz Jedeão, citando comentários de funcionários da 3ª Vara Federal. Segundo ele, a pessoa que o substituía nas férias se recusou a fazer a restituição dos valores apreendidos, “pois se tratava de operação suspeita”.

FERRARI

Jedeão de Oliveira cita ainda a liberação do carro superesportivo da montadora italiana Ferrari, pertencente a Márcio Irala, da empresa TecMac, preso em 2005 na Operação Breakdown, desencadeada pela Polícia Federal contra um grande esquema de contrabando.

Segundo o ex-assessor, Odilon de Oliveira mandou restituir a Ferrari de Marcio Irala após receber a visita de outro colega de faculdade do filho, Fábio Andreazi, que chamava o juiz de “tio”.

Jedeão afirma que naquele dia, já no final do expediente, assim que Fábio deixou o gabinete, Odilon mandou chamar uma servidora da Justiça Federal que trabalhava no caso e determinou que a Ferrari de Marcio Irala fosse restituída.

Alegando ter passado horas trabalhando no despacho que seria contrário à devolução, a servidora teria pedido para o juiz rascunhar os termos da devolução. Ela guardou o manuscrito que o juiz fez com uma caneta vermelha, segundo Jedeão.

TRAFICANTE

O bacharel em direito Jedeão de Oliveira, 49, ex-diretor da 3ª Vara Federal de Campo Grande, acusa o candidato do PDT ao governo de Mato Grosso do Sul, o juiz aposentado Odilon de Oliveira, de negociata para liberar bens de um dos lendários traficantes da fronteira com o Paraguai, Luiz Henrique Rodrigues Georges, o Tulú.

Executado por pistoleiros em outubro de 2012, em Ponta Porã, Tulú teria chegado ao juiz através do ex-policial militar Eduardo Carvalho, dono do jornal eletrônico Última Hora News, também morto por pistoleiros, em novembro do mesmo ano, em Campo Grande. Carvalho era amigo de Odilon e chegava a frequentar churrascos na casa do magistrado, segundo Jedeão.

R$ 30 mil – No documento de 23 páginas registrado em cartório e entregue ao Ministério Público Federal como proposta de um acordo de delação premiada, o ex-braço-direito afirma ter sido alertado por ligações anônimas de um número restrito que Eduardo Carvalho estaria comercializando, por R$ 30 mil, a decisão que seria tomada por Odilon liberando os bens de Tulú.

Para a surpresa geral, segundo Jedeão, dias após ele próprio ter alertado o juiz sobre as denúncias anônimas envolvendo o amigo de Odilon, o magistrado mandou liberar os bens, “exatamente igual aquela pessoa tinha descrito ao telefone, ou seja, estava evidente que o juiz participava daquelas negociações”.

IMÓVEIS

Segundo o documento assinado por Jedeão, a atuação de Eduardo Carvalho – que mantinha grande amizade com o juiz, conforme imagens que circulam até hoje nas redes sociais – foi além de negociar decisões na fronteira. Chegou até à administração dos bens apreendidos na 3ª Vara Federal.

Jedeão afirma que após a recusa de várias imobiliárias da Capital, uma advogada e uma corretora de imóveis se candidataram a administrar os bens imóveis apreendidos. A advogada da parceria, segundo o ex-diretor da Vara Federal, era a filha de Eduardo Carvalho.

As duas atuavam na locação dos imóveis e arrendamento de áreas rurais, mas não demorou para os problemas aparecerem. “No começo eram as prestações de contas mensais que não eram feitas. Depois a bagunça com as contas judiciais onde eram depositados os valores e o sumiço dos valores e a constatação de que os inquilinos pagavam o aluguel, mas não tinha prestação de contas”, diz trecho da denúncia.

Com tantos problemas, segundo Jedeão, Odilon de Oliveira descontava nos servidores da Vara Federal, exigindo rigor na fiscalização. “Tudo não passava de mais uma farsa”, segundo o ex-assessor do candidato do PDT. A administradora só foi descredenciada muito tempo depois, conforme a denúncia.

Operação Nevada – Mesmo depois de ser demitido, Jedeão afirma ter recebido informações comprometedoras contra Odilon de Oliveira, inclusive cobrança de R$ 1 milhão para liberação de presos na Operação Nevada, que desmantelou uma quadrilha de traficantes de drogas em 2016.

O dinheiro, segundo Jedeão, seria para a campanha de Odilon de Oliveira Junior, filho do juiz e vereador eleito em Campo Grande, há dois anos. Odilon Junior foi um dos mais bem votados na Capital, mas Jedeão afirma que ninguém da Operação Nevada foi solto.

Odilon – Em nota publicada hoje no site oficial da campanha, Odilon afirma não ter dúvidas de que as declarações de seu ex-braço-direito têm motivação política.

“Sem credibilidade, por ser réu confesso, e por ter sido exonerado a pedido do juiz Odilon, o ex-servidor Jedeão, nada mais tendo a perder, procura, agora, lançar suspeitas sobre os juízes e servidores da vara e acusar, de modo criminoso, o Ministério Público Federal, a Polícia Federal e a Justiça Federal por grampos telefônicos supostamente ilegais”, afirma a nota.

“Em sua carreira na Justiça Federal, Odilon jamais sofreu processo e seu passado limpo incomoda os adversários, que veem nele um candidato forte para vencer a disputa ao governo de Mato Grosso do Sul”, diz o site oficial do candidato.

Outro lado

Em nota publicada no site oficial da campanha, Odilon de Oliveira disse “não ter dúvidas” de que as declarações de Jedeão têm motivação política por sua candidatura representar “ameaça para quem deseja se manter no poder”.

Odilon afirma que o inquérito policial instaurado pela Polícia Federal contra Jedeão foi a pedido dele. “O juiz Odilon apurou todos os fatos e encaminhou o resultado ao Tribunal Regional Federal, em São Paulo, que abriu processo disciplinar e o exonerou por solicitação do magistrado”, afirma a nota.

O candidato do PDT trata as denúncias de Jedeão como “acusações falsas e sem credibilidade, como mera estratégia de defesa e, também, para atender, ao mesmo tempo, interesses de adversários políticos”. Fonte: CGNews

 

delação do jedão contra o juiz Odilon de Oliveira