O brasileiro Luiz Carlos da Rocha, mais conhecido como “Cabeça Branca”, um dos maiores traficantes da América do Sul, que foi capturado no dia 1º de julho de 2017 no município de Sorriso (MT) após ser descoberto que vivia na região escondido das autoridades, sofreu mais um duro golpe. Depois que no dia 11 de junho deste ano policiais federais prenderam em Ponta Porã (MS) o traficante Carlos Roberto da Silva, 41 anos, considerado o braço direito de “Cabeça Branca”, nesta quarta-feira (25) foi a vez da Polícia do Paraguai prender em Pedro Juan Caballero o também traficante Eduardo Fernando de Oliveira Moleirinho, apontado como “braço financeiro” do narcotraficante brasileiro.
Eduardo Fernando de Oliveira Moleirinho foi preso por agentes da Senad (Secretaria Nacional Antidrogas) quando transitava pelo centro de Pedro Juan Caballero em uma caminhonete Toyota Fortuner preta, em nome da empresa Lusipar Agropecuária. Além disso, os agentes cumpriram mandados de busca na estância Lusipar e em dois escritórios em Pedro Juan Caballero, sendo que centenas de cabeças de gado foram confiscadas.
Segundo a Senad, Eduardo Moleirinho, que é natural do Paraná e mantém residência em Maringá, é o principal operador de “Cabeça Branca” para lavagem do dinheiro do tráfico por meio da compra e venda de bovinos. Durante as investigações foram descobertas remessas de dinheiro de contas brasileiras para o Paraguai, todas vinculadas a Bruno César Payão Rocha e Rafael Pigozzo Rocha, os dois filhos de “Cabeça Branca”.
Ainda em 2017, as autoridades paraguaias descobriram que ele ajudou a esconder o dinheiro enviado do Brasil por meio de operações financeiras, compra de veículos de luxo e bois através de operações de fachada. O brasileiro é acusado de ser importante membro da estrutura econômica criada para legalizar o dinheiro oriundo do tráfico internacional de drogas através da sociedade anônima comandada pelo brasileiro preso hoje na fronteira.
Quem é Cabeça Branca
O traficante Luiz Carlos da Rocha, o “Cabeça Branca”, que cumpre pena em uma cela de cerca de sete metros quadrados na Penitenciária Federal de Catanduvas (PR), foi preso na cidade de Sorriso (MT) em uma operação da Polícia Federal que poderia virar roteiro de cinema. Cercada de sigilo, a ação levou um ano e seis meses sendo planejada por um grupo restrito de apenas oito policiais federais. Tanto zelo tinha motivo: por duas décadas, o criminoso viveu como um fantasma, procurado pela Polícia do Brasil e de vários outros países como o maior traficante de drogas da América Latina, e com o nome na difusão vermelha da Interpol. Uma fama no submundo do crime que só pode ser comparada à de outro notório bandido: o colombiano Pablo Escobar, morto na cidade de Medellín, na Colômbia, em 1993.
Agindo nas sombras, ao contrário de Escobar, que gostava dos holofotes, “Cabeça Branca” comandou por mais de duas décadas um esquema de tráfico internacional de drogas responsável por abastecer mensalmente com pelo menos cinco toneladas de cocaína, com alto grau de pureza, países na Europa, na África e nos Estados Unidos. No Brasil, seria o principal fomentador da guerra travada entre quadrilhas rivais de criminosos no Rio e em São Paulo, fornecendo cocaína mais barata e sem tanta pureza para bandidos ligados às maiores facções do país. Em mais de 20 anos de atividades no crime, a Polícia Federal estima que ele tenha reunido uma fortuna em bens que chegariam a pelo menos US$ 100 milhões e movimentado uma cifra superior a R$ 1,2 bilhão. Valores que transformam Luiz Fernando da Costa, o “Fernandinho Beira-Mar”, e Marcos Willians Herbas Camacho, o “Marcola”, bandidos classificados como barões das drogas no continente, como criminosos pés-de-chinelo. Não há ninguém do nível de “Cabeça Branca” sendo procurado pela Polícia Federal no momento.
Com tanto dinheiro e longe de aplicar aos concorrentes a violência empregada por outros traficantes, incluindo o colombiano retratado nas telas do cinema, “Cabeça Branca” acumulou respeito no crime. Um caminho que foi cimentado com muita discrição, diplomacia e com o pagamento de valorosas mesadas. Segundo policiais federais, o bandido espalhou corrupção comprando o silêncio daqueles que teriam o dever de detê-lo. A PF tem informações de que o traficante teria no bolso um punhado de políticos no Paraguai, incluindo na suspeita senadores e deputados; outros tantos no Brasil, em especial na região de fronteira com o Paraguai. Teria comprado ainda, com gordas propinas, servidores públicos estaduais e federais em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e São Paulo, além de supostamente pagar pelo apoio de funcionários dos portos de Santos e Itajaí, por onde escoava sua mercadoria.
Segundo os policiais federais, a cocaína produzida na Bolívia, Colômbia e Peru atravessava a fronteira de carro, barco ou avião. Os carregamentos seguiam para fazendas no interior de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. De lá, a droga era transportada em carretas (normalmente com fundos falsos) para depósitos nos estados do Paraná e São Paulo. O material já vinha separado por destino: rótulos diferentes serviam para identificar clientes e também o grau de pureza da droga. Separada em lotes, a cocaína deixava os depósitos para os clientes. Uma parte seguia dos portos de Santos e Itajaí em navios para Europa e África. Depois, para os Estados Unidos e para a Ásia. Outra parte ficava no Brasil, entregue em São Paulo para traficantes do Primeiro Comando da Capital (PCC) e, no Rio, para criminosos do Comando Vermelho.