Sumiu!o busto de José Antônio Pereira, fundador de Campo Grande, que estava cravado no canteiro central na avenida Afonso Pena esquina com a avenida Celógeras, junto com uma placa de identificação foram furtados. A estátua foi um presente da Colônia libanesa.
Em conversa com o Correio do Estado, o presidente da Federação Nacional das Entidades Líbano-Brasileiras em Mato Grosso do Sul, Munir Sayegh, lamentou o ocorrido, destacando a tristeza da comunidade libanesa, que mantém mais de 130 anos de relação com o Brasil.
“Quando você vem para um país, o que você deixa nesse país? O trabalho, a contribuição, você monta uma empresa, cria seus filhos. Mas, quando quer deixar um marco, quando quer deixar alguma coisa, ou você escreve um livro ou ergue um monumento para mostrar que naquele local estiveram pessoas vindas do longínquo Oriente”, explicou Munir, que também é diretor social da Associação das Nações Amigas (Japão, Portugal, Itália, Paraguai, Bolívia, Espanha e Líbano).
Segundo ele, muito mais que um símbolo, o busto representa o papel dos libaneses na formação de Campo Grande.
“Estiveram nas encruzilhadas desde antes da divisão do Estado, construindo pousadas para tropeiros e abrindo comércio. Os monumentos e praças são a marca da presença desse povo no local”, explicou Munir e completou:
“Então, quando uma colônia cria uma homenagem, mostrando que estamos homenageando o fundador de Campo Grande, que nos recebeu de braços abertos , queremos deixar um marco que cause no visitante a sensação de ‘puxa vida, olha isso aqui”.
Munir contou ainda que, durante o City Tour, serviço que percorre os monumentos da Cidade Morena, ficou tocado pela reação dos turistas. “À medida que o ônibus seguia, a guia ia explicando cada monumento e, mesmo antes do furto, após ela explicar o que a comunidade libanesa fez, a reação dos turistas chamou atenção. Me deu uma tristeza quando eu passei e o pessoal falou: ‘Mas está tudo destruído’. Isso entristece.”
Ele também recordou a visita do embaixador do Líbano à Capital, ocasião em que foi questionado sobre o que a comunidade libanesa tinha feito para marcar sua presença.
“Tivemos que explicar que, no momento, são cinco parques que estão destruídos e que o monumento, que agora foi levado, estava vandalizado”, disse.
Histórico do busto
Munir relembrou que, na época em que o cônsul do Líbano em Mato Grosso do Sul era Assaf Trad, a colônia organizou uma arrecadação junto aos comerciantes para confeccionar o busto.
“O que aconteceu foi que o meu pai e o tio Assaf, que eu chamo de tio por carinho, saíram arrecadando dinheiro para fazer o busto de José Antônio Pereira. Escolheram o lugar, pediram autorização da prefeitura e fizeram a inauguração, provavelmente na década de 1970, com uma placa e o busto de cobre”, relatou.
Cerca de um ano e meio após a inauguração, o monumento sofreu o primeiro ato de vandalismo, tendo a cabeça furtada.
“Diferente de hoje, naquele período o cobre não tinha utilidade, ninguém pegava para vender como está acontecendo agora, não apenas em Campo Grande”, observou Munir.
O comerciante Georges el Sayegh voltou a arrecadar recursos junto à colônia para restaurar o monumento, que foi danificado em mais de uma ocasião. No total, ele foi depredado quatro vezes desde sua inauguração até o desaparecimento definitivo, fato que chamou a atenção de quem passa pela via com frequência.