Uma escrita para ser ouvida e não apenas lida

Por: Ernesto Ferreira

Meu caro leitor, minha escrita hoje é para ser ouvida, não apenas lida, quero que sua fantasia faça a orquestra que existe em ti, tocar com todos os seus instrumentos, sob sua regência, a marcar que não haverá ódios que possam calar e cegar sua consciência.

Leia com seus olhos cheios de cores esse pot-pourri literário, com um tema comum, o sofrimento a que são submetidos àqueles que não fazem parte da parte que se sente a totalidade desse nosso triste e belo país.

Tenho esperança de que possa se sensibilizar com a poesia contida nesses doloridas canções, iniciando com Geni e o Zepelim, do Chico Buarque, que foi a primeira música de MPB que ouvi, ainda criança, na Escola estadual, aula de português, professora sem medo da língua do povo, em plena ditadura civil/militar, seguida por Cálice, do Chico e do Gilberto Gil, atual em todos os sentidos, políticos e sifilíticos, a julgar pela arrogância de nossos patriotas, que se sentem herdeiros desse cálice cheio de sangue, sob a protecão de um Deus sem memória e impiedoso, crentes no poder da mentira, com direito à silêncios de cínica conveniência; a última, do rapper Criolo, demostração do que tenho escrito aqui, que a redenção da história só é possível quando escutamos as vozes do passado e, Criolo não só ouve, como se encontra com elas.

De tudo que é negro torto
Do mangue e do cais do porto
Ela já foi namorada
O seu corpo é dos errantes
Dos negros, dos retirantes
É de quem não tem mais nada

(…)

Joga pedra na Geni!
Joga pedra na Geni!
Ela é feita pra apanhar!
Ela é boa de cuspir!
Ela dá pra qualquer um!
Maldita Geni!

Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue

Como beber dessa bebida amarga
Tragar a dor, engolir a labuta
Mesmo calada a boca, resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta
De que me vale ser filho da outra
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta

(…)

Como ir pro trabalho sem levar um tiro
Voltar pra casa sem levar um tiro
Se as três da matina tem alguém que frita
E é capaz de tudo pra manter sua brisa
Os saraus tiveram que invadir os botecos
Pois Biblioteca não era lugar de poesia
Biblioteca tinha que ter silêncio
É uma gente que se acha assim muito sabida

Há preconceito com o nordestino
Há preconceito com o homem negro
Há preconceito com o analfabeto
Mas não há preconceito se um dos três for rico, pai

(…)