“Tem caroço no angu”: Celular some e ninguém viu! Áudios da advogada incriminam cúpula policial

A promotora de Justiça Alicia Sapriza negou que a advogada Laura Marcela Casuso, 54 anos, que fazia a defesa dos narcotraficantes brasileiros Jarvis Chimenes Pavão e Marcelo Fernando Pinheiro Veiga, mais conhecido como “Marcelo Piloto”, estaria com um aparelho de telefone celular no momento em que foi executada por pistoleiros a tiros de pistola calibre 9 mm na noite de segunda-feira (12), em Pedro Juan Caballero, cidade paraguaia que faz fronteira com Ponta Porã (MS).

Alicia Sapriza, que faz parte da força-tarefa de promotores de Justiça destinados para investigar o crime, reforça que não procede a informação de que o aparelho teria sido “furtado” pelos investigadores que fizeram a atendimento da ocorrência. Além disso, ela revela que declarações das pessoas que estavam com a advogada momentos antes da execução dão conta que Laura não recebeu nenhuma ligação antes de ser morta. “O que ela tinha nas mãos era um monte de chaves e não um celular”, garantiu.

A promotora de Justiça acrescenta que as imagens das câmeras de segurança que capturaram o ataque dos assassinos não permitem ver claramente que a advogada estava carregando um celular na mão. Quatro telefones de sua propriedade já estão nas mãos do Ministério Público, que serão examinados por especialistas para determinar se foram alertados ou se há arquivos que foram excluídos. Ela explicou que esses telefones são de alta qualidade e muito difíceis de desbloquear, já que a advogada tinha uma série de medidas de segurança para suas comunicações.

Quanto ao crime, Alicia Sapriza mencionou que “pode ser” que alguns dos grupos criminosos da região “tenham colocado preço” pela cabeça da advogada, mas ela ainda não tem dados sobre isso. Comentou que, em 2017, o Ministério Público soube que tinha uma ameaça latente contra Laura Casuso por parte de uma organização criminosa que opera em Pedro Juan Caballero e em Assunção, para o qual foi advertida a tomar precauções nesse sentido.

 

Áudios comprometedores

Áudios entregues à imprensa pela advogada antes de ser executada a tiros expõem a corrupção na alta cúpula da Polícia Nacional do Paraguai e a ligação com o crime organizado. Nas gravações, Laura detalha a cumplicidade dos altos chefes policiais, políticos e funcionários do Estado com o crime organizado e revela que sabia que seria executada, pois teria sido levada a bordo de uma aeronave onde o general Piñanez a teria advertido que era para fechar a boca pelo amor de Deus.

No áudio, a advogada deixa claro que Horácio Galeano Perrone teria pegado muito dinheiro para realizar jogadas sujas, os áudios comprometem os principais assessores políticos e apoiadores do atual presidente Mário Abdo Benitez e do ex-presidente Horacio Cartes. Ela manifesta que as autoridades paraguaias e a alta cúpula policial protegiam o foragido da justiça brasileira Sergio de Arruda Quintiliano Neto, mais conhecido como “Minotauro”, que teria o apoio das autoridades policiais para controlar a cidade de Pedro Juan Caballero.

Essa situação levou o atual diretor da Senad (Secretaria Nacional Antidrogas do Paraguai), Arnaldo Giuzzio, a manifestar que a advogada teria sido executada como queima de arquivo ou em vingança. “A advogada sabia muito e tinha muita informação, pois estava ligada aos líderes e cabeças do narcotráfico”, disse.

Os áudios ainda evidenciam que o apoio das autoridades paraguaias e da cúpula da Polícia Nacional do Paraguai era devido o interesse nas propriedades e bens de Jarvis Chimenez Pavão e pelo controle do crime organizado e do narcotráfico na fronteira, que era chefiada pelo comissário Abel Cañete, da Polícia Nacional do Paraguai, que atualmente ocupa o cargo de diretor da Direção de Investigação Criminal de Delitos e Casos Puníveis.

Segundo os áudios, ele teria ligação direta com “Minotauro” de quem receberia grandes quantias em dinheiro supostamente para a cúpula da Polícia paraguaia em troca de proteção, trânsito livre e apoio para controlar a região de fronteira com Mato Grosso do Sul.