Riqueza ostentação: Polícia desarticula rede de traficantes comandada pelo “Pablo Escobar” do Paraguai

Uma rede de tráfico de drogas e lavagem de dinheiro foi desarticulada ontem (07) durante operação realizada pela Senad (Secretaria Nacional Antidrogas do Paraguai) em Ciudad del Este, cidade localizada na fronteira do Paraguai com o Brasil. Durante a ação policial, foi preso o “chefão” da quadrilha, que está sendo chamado do “Pablo Escobar” do Paraguai em razão da admiração que ele tem em relação ao famoso narcotraficante colombiano.

Trata-se de Reinaldo Javier Cabin Santacruz, mais conhecido como “Cucho”, 33 anos, que foi preso na “Operação Berilo”, que ainda apreendeu, em dinheiro, US$ 800 mil, R$ 130 mil e G$ 60 milhões, mais 12 veículos de luxo – incluindo uma Lamborghini e uma caminhonete Tundra -, uma motocicleta Ducati, armas, munição e documentos, distribuídos por vários imóveis na cidade.

A ação, que é maior do gênero na história do Paraguai, foi comandada pelos promotores de Justiça Marco Alcaraz, Lorena Ledesma, Carlos Alcaraz, Zully Figueredo, Elva Cáceres, Isaac Ferreira, Manuel Rojas e Ariel González. Além do “Pablo Escobar” do Paraguai, também foram presos a sua esposa, Gloria Rossana López Ramírez, 33 anos, seu irmão mais novo, Marcelo Ricardo Cabaña Santacruz, 26 anos, e seu principal “sócio”, Hugo Martín Ríos, 38 anos.

Da mesma forma, ainda forma presos Carlos Higinio Pinto Apostolaqui, 48 anos, Lucas Uziel Vera Duarte, 20 anos, e Yisela Noemi Ramirez, 26 anos. De acordo com o promotor de Justiça contra o narcotráfico, Hugo Volpe, “Cucho” será acusado de tráfico de drogas, fornecimento de meios de transporte para tráfico de drogas, associação criminosa, comercialização e lavagem de dinheiro e deve receber uma sentença de 10 a 25 anos de prisão.

Ainda conforme as investigações, a cocaína fornecida pelo “Pablo Escobar” do Paraguai é de origem boliviana, colombiana e peruana e é vendido ao mercado brasileiro. “Ele estaria fornecendo cocaína para o mercado brasileiro, especialmente no Estado de Santa Catarina. Ele teria contato com diferentes grupos, principalmente com PCC (Primeiro Comando da Capital) e facções locais do Paraná”, disse o promotor antidrogas.

 

Um assistente do MP

Simultaneamente com os ataques mencionados, foi capturado o assistente do Ministério Público Luis Ricardo Yegros Fariña, 29 anos, da unidade antidrogas local liderada por Manuel Rojas, um dos oito procuradores que legitimou as operações dos agentes especiais da Diretoria de Inteligência Técnica (DIT) e das Forças Especiais (FF.EE.) da Senad neste caso.

Yegros Fariña, que tem um salário mensal líquido de G$ 3,6 milhões estava dirigindo uma van Nissan Murano avaliada em US$ 40 mil. O assistente supostamente vendia informações para os narcotraficantes, sendo que várias de suas conversas telefônicas estão gravadas.

A implantação também atingiu a sede do Escritório de Ciudad del Este, do promotor da unidade criminosa Gustavo Ramon Yegros, 45 anos, que não foi preso porque tem privilégios, mas foram apreendidos dois telefones celulares e documentos relevantes. Ele aparece em várias conversas telefônicas com membros da organização criminosa, sendo que a promotora geral de Justiça Sandra Quiñónez já anunciou a demissão do funcionário.

 

Deputado colorado

Os promotores intervenientes explicado que a primeira fase desta operação envolveu a identificação de todas as propriedades, veículos e de outros bens da rede criminosa, que lavava o dinheiro da droga a partir do sistema financeiro. Por isso, foram invadidas casas de câmbio, hotéis, motéis, lojas de vendas de veículos, vans e carros de luxo, a maioria delas em nome do traficante.

Um dos automóveis comprados com dinheiro arrecadado pela venda de cocaína é uma Toyota Land Cruiser, registrada com a placa JJX 009, que não foi encontrado nas residências invadidas, mas com o deputado do Partido Colorado Ulises Rolando Quintana Maldonado, 39 anos.

 

Presidente do Paraguai

O presidente da República do Paraguai, Mario Abdo Benítez, foi até a Ciudad del Este após a operação e ressaltou que ninguém é intocável no Paraguai, nem ele próprio. Ele visitou a base regional da Senad, onde elogiou os agentes especiais e os oito procuradores pela prisão de Reinaldo Javier Cabin Santacruz e sete membros de sua organização criminosa, incluindo membros diretos da família e até mesmo um assistente do Ministério Público.

Ainda estão sob investigação por tráfico de drogas e lavagem de dinheiro, o promotor de Justiça Gustavo Yegros e o deputado Colorado Ulises Quintana. O parlamentar afirmou que nunca recebeu financiamento do mafioso, a quem descreveu apenas como um conhecido que lhe emprestou veículos durante a campanha política.

Depois de parabenizar os agentes, o presidente da República dirigiu uma coletiva de imprensa na qual outras autoridades estavam presentes e dinheiro, armas e outras provas apreendidas foram devolvidas. “Caia quem cair. Ninguém é intocável. Do presidente da República para baixo. Que seja investigado desde o presidente da República até abaixo. Ninguém é intocável na luta contra o crime organizado”, garantiu.

“A impunidade é o maior câncer que a nossa democracia tem. E a impunidade terminará no Paraguai. Esse foi o nosso compromisso”, acrescentou Marito. Mais tarde, ele exigiu “que o Judiciário ponha suas calças para lutar firmemente contra o crime organizado e nos dê as ferramentas para continuar avançando nessa luta e que não daremos uma trégua nos próximos cinco anos”.

A respeito da fotografia que mostra o atual presidente da República e o traficante “Cucho” e que já está circulando em todas as redes sociais, Mario Abdo Benitez disse que a imagem foi tirada na varanda de sua casa, que era onde fazia reuniões políticas.

“Não sei dizer se é falso ou verdadeiro, o que posso dizer é que não identifico a pessoa. Eu tirei fotos com muitas pessoas. Eu conhecia essa pessoa até que ela foi presa pela Senad”, disse. Ele também negou ter recebido recursos de Cucho para sua campanha, argumentando que mantinha um registro limpo.

 

Nápoles

Javier Cabaña Santacruz, também conhecido como “Cucho”, tinha uma mansão semelhante à “Fazenda Nápoles”, do conhecido traficante colombiano Pablo Escobar, onde tinha uma praia particular, uma grande piscina, parque infantil e um iate. Na propriedade, Cucho, aparentemente, procurava imitar a conhecida fazenda, tanto que o imóvel ainda tinha um enorme retrato do líder do Cartel de Medellín, Pablo Escobar.

Tanto quanto se pode ver, Cucho tem Pablo Escobar como seu principal ídolo. Ele ainda tem uma foto tirada em frente à fazenda original Napoles, localizada na cidade de Doratal, departamento de Antioquia (Colômbia).