PMs de SP vendem escolta para contrabando de cigarro paraguaio e há envolvidos de MS e PR

Uma reportagem publicada na edição deste sábado (29) do jornal Folha de S.Paulo revela que um grupo de policiais militares do Estado de São Paulo é suspeito de comandar um esquema de venda ilegal de escoltas que garantia livre acesso de contrabandistas de cigarros do Paraguai por rodovias paulistas vindo por Mato Grosso do Sul e Paraná. Há ainda, de acordo com a matéria, participações de policiais militares e civis de Mato Grosso do Sul e Paraná, bem como de policiais federais e policiais rodoviários federais que atuam nos três Estados (SP, MS e PR).

Segundo a denúncia apresentada pelo MPE (Ministério Público Estadual) de São Paulo, estima-se que o esquema criminoso possa envolver cerca de 300 policiais militares, incluindo agentes rodoviários de MS e PR e PRFs (Policiais Rodoviários Federais) e PFs (Policiais Federais) que atuam nos três Estados. Entre os serviços vendidos pelos PMs está a escolta com batedores, que consiste em policiais miliares irem na frente dos comboios de caminhões carregados com cigarros para avisar ao bando sobre a eventual presença de patrulhas rodoviárias pelo caminho e aliciar os colegas interessados em participar do esquema para fazer vistas grossas.

Ainda de acordo com a investigação do MPE, outros integrantes da ação repassavam informações sobre a posição das equipes do tático rodoviário, conhecidos como TOR, que ofereciam mais risco de abordagem aos contrabandistas. Os policiais militares honestos chegaram a esconder nas unidades de policiamento as escalas de serviço do TOR para evitar o sucesso do esquema. Parte da quadrilha foi descoberta em investigação da Corregedoria da PM iniciada em 2017 e concluída no fim de 2019 com a prisão de seis PMs que trabalhavam nas regiões de divisas de São Paulo com Mato Grosso do Sul e Paraná.

As prisões aconteceram após uma série de interceptações telefônicas nas quais os PMs suspeitos trocavam informações sobre o crime. Durante a apuração, também teve quebra de sigilo fiscal e bancário dos policiais militares suspeitos e de familiares, o que possibilitou mapear o dinheiro obtido pelo bando. Dois deles confessaram o crime em troca de delação premiada, sendo um deles o sargento PM Hamilton Cardoso de Almeida, considerado um dos chefes do esquema. De acordo com depoimentos dos delatores, os PMs ganhavam um valor fixo de R$ 5 mil mais comissões e um dos apontados como chefe do esquema chegou a receber R$ 50 mil mais de uma vez.

As comissões, que variavam de R$ 1,5 mil a R$ 2 mil, eram pagas após episódios de facilitação de passagem dos caminhões. De acordo com depoimentos dos delatores, cada carreta vinha com produtos avaliados em R$ 800 mil, o equivalente a cerca de meio milhão de maços de cigarros. A rota do Paraguai até São Paulo incluía os Estados do Paraná e Mato Grosso do Sul e a periodicidade do contrabando era uma vez por semana. De acordo com as investigações, o sargento PM Hamilton Cardoso de Almeida chegou a ir até o Paraguai se reunir com os contrabandistas a fim de fechar acordo para outros policiais militares. Ele revelou ainda que, além de PMs, a operação conta com policiais civis, rodoviários federais e federais de Mato Grosso do Sul, Paraná e São Paulo.