PF, Civil e Gaeco resolvem mostrar serviço. Caem madeira ilegal, pedófilos e roubo de cargas

A Polícia Federal, a Polícia Civil e o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) decidiram sair das suas respectivas “zonas de conforto” e fazerem jus aos altos salários que recebem mensalmente. As três organizações colocaram os seus respectivos “blocos” na rua nesta quinta-feira (29/08) com a deflagração das operações “Ghostwood”, para combater um esquema de “esquentar” madeira ilegal, “Criança Segura”, para investigar crimes relacionados à pornografia infantil, e “Mercúrio”, para desbaratar uma quadrilha especializada em roubo, receptação de cargas, agiotagem e lavagem de dinheiro.

No caso da “Operação Ghostwood” ou “Madeira Fantasma”, na tradução para o português, a PF informou que oito pessoas e 12 empresas são suspeitas de fazer parte de esquema para “esquentar” madeira ilegal. A organização criminosa, que está na mira do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), tem três líderes e foi responsável por fraudar documentos para viabilizar a venda de ao menos 1,3 mil metros cúbicos de madeira, o que corresponde ao menos 30 carretas carregadas com o produto serrado.

A investigação começou depois que o Ibama fez auditoria no sistema online onde produtores, transportadores e madeireiras tem de registrar as compras e vendas do material. Conforme o superintendente do Ibama em Mato Grosso do Sul, coronel Luiz Carlos Marchetti, distribuidoras, de fachada ou não, compravam lotes de madeira inexistente para ficar com o “crédito” no sistema e depois revender a madeira ilegal com registro.

O produto comprado ilegalmente é mais barato, por não ter de enfrentar toda a burocracia exigida para a produção e comercialização, além de não ser taxada. O lucro das madeireiras, portanto, é maior. Marchetti revelou que as informações falsas quem eram inseridas no sistema chamaram a atenção da fiscalização. “Uma coisa tosca. O mesmo IP (endereço de computador) vendia e recebia o produto, entrega em curtíssimo espaço de tempo, que não condiz com a realidade e inversão de fluxo, quando, por exemplo, Caarapó vendia para Ponta Porã, sendo que Ponta Porã é uma cidade produtora de aroeira. Fraude visível”, destacou.

O delegado-regional-executivo da PF no Estado, Alex Sandro Biegas, explica que a investigação constatou que algumas das empresas eram de fachada e as que trabalhavam no ramo realmente, tinham no pátio quantidade de madeira muito inferior à registrada. “Uma das empresas investigadas foi interditada em 2018, abriu uma nova filial, com novo CNPJ para driblar o sistema de controle”, disse.

Pornografia infantil

Já a “Operação Criança Segura” resultou na prisão, em Campo Grande, de um técnico de informática de 38 anos de idade e um estudante de 24 anos de idade, em Campo Grande, por envolvimento com pornografia infantil. Um militar de 50 anos, residente na Vila Jaci, ainda está sendo procurado pela Polícia Civil.

O técnico foi detido em casa, no Bairro Vilas Boas, e o rapaz, no Portal Caiobá, sendo que ambos foram levados à Depca (Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente). Os policiais civis apreenderam notebooks, HDs externos, notebook, pen drives, cartões de memória, celulares e CPUs na casa dos suspeitos.

Segundo a delegada Marília de Brito, na casa de um dos alvos da operação foram encontrados 250 gigabites em material, como foto de crianças nuas e vídeos de estupros, também de crianças. Essas imagens vão ser periciadas para averiguar se os crimes que aparecem nas imagens foram praticados contra vítimas de qual Estado ou país. O militar está sendo procurado no interior do Estado. A Polícia ainda investiga a participação de outras pessoas nos crimes.

Os presos vão responder por crimes previstos nos artigos 240 A e B do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) – oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, distribuir, publicar ou divulgar por qualquer meio, inclusive por meio de sistema de informática ou telemático, fotografia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente e adquirir, possuir ou armazenar, por qualquer meio, fotografia, vídeo ou outra forma de registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente.

Mercúrio

Na “Operação Mercúrio”, o Gaeco cumpriu 93 mandados de prisão em dez Estados, entre eles, Mato Grosso do Sul, de pessoas suspeitas de integrar uma quadrilha especializada em roubo, receptação de cargas, agiotagem e lavagem de dinheiro. Na ação, foram apreendidos R$ 40 milhões e cerca de 200 veículos.

Do total dos mandados, 48 são de prisão temporária e 45 de prisão preventiva, além de 110 de busca e apreensão. Em Mato Grosso do Sul, segundo assessoria do Gaeco, está sendo cumprido um mandado de prisão temporária.

A operação é comandada pelo Gaeco de Uberlândia com apoio da Polícia Militar e da Secretaria de Administração Prisional (Seap). Segundo o Gaeco, a chefia da organização é instalada nas cidades de Uberlândia e Goiânia. Segundo as primeiras informações da Polícia Civil, a investigação foi iniciada há cerca de 10 meses a partir das operações Catira e Fideliza, realizadas pela Polícia Federal em 2015 e que também resultaram em outras operações do Ministério Público Estadual (MPE).

A quadrilha também falsificava notas fiscais. Por isso, participam também da ação a Receita Estadual e a Polícia Civil de Goiás. Em Uberlândia, são cumpridos 42 mandados de prisão. Conforme o Gaeco, somente em uma loja de veículos na Avenida João Naves foram apreendidos R$ 8 milhões em carros importados.

Os presos preventivamente serão encaminhados à Delegacia de Polícia Civil da cidade e, depois, ao presídio Professor Jacy de Assis. Aqueles presos temporariamente serão ouvidos nesta quinta-feira.