Pandemia do Covid-19 sepulta de vez investigação sobre execução de jornalismo na fronteira

Passados 43 dias da execução a tiros do jornalista brasileiro Lourenço Veras, 54 anos, o “Léo Veras”, ocorrida no dia 12 de fevereiro deste ano dentro da casa dele no Bairro Jardim Aurora, em Pedro Juan Caballero, cidade paraguaia que faz fronteira com Ponta Porã (MS), a pandemia do novo coronavírus (Covid-19) praticamente sepultou de vez as investigações sobre o crime por parte das autoridades do Paraguai.

Mesmo com as inúmeras teorias e suspeitas que surgiram a investigação do crime, a Polícia Nacional do Paraguai não conseguiu esclarecer o homicídio e, com o avanço do Covid-19, que obrigou o Governo do país vizinho tomar várias medidas restritivas, todo o trabalho para elucidar o caso foi por água abaixo. Nem mesmo a força-tarefa do Ministério Público do Paraguai, formada por cinco promotores de Justiça de Assunção, capital do país vizinho, conseguiu concluir as investigações, que agora foram deixadas para segundo plano por tempo indeterminado.

Nesse meio tempo, além do descaso por parte das autoridades paraguaias, a viúva de Léo Veras também já enfrenta dificuldades financeiras, que se agravaram ainda mais com as restrições impostas para combater o novo coronavírus. Ela revela que, antes da paralisação das investigações sobre a execução do marido, nem tinha sido chamada para prestar depoimento e, com a suspensão das investigações, não tem mais esperança de que o caso continue, mesmo após todas as restrições serem retiradas por parte das autoridades paraguaias.

Jornalistas amigos de Léo Veras que atuam na Linha Internacional afirmam que nos meios policiais o assassinato já caiu no esquecimento, assim como as centenas de execuções ocorridas nos dois lados da fronteira nos últimos anos. “Aqui é assim. Não importa a repercussão que uma execução tenha, logo cai no esquecimento e vira apenas estatística. No Paraguai um escândalo esconde o outro. Agora é o Ronaldinho [ex-jogador Ronaldinho Gaúcho, preso no Paraguai por uso de passaporte falso]. Não se fala em outra coisa, se esquece todo o resto”, afirmou ao site Campo Grande News um repórter da fronteira amigo de Veras.

No dia 22 de fevereiro, a polícia paraguaia prendeu nove pessoas em Pedro Juan Caballero e apreendeu um Jeep Renegade branco, supostamente o carro usado pelos pistoleiros que mataram Léo Veras. Oficiais paraguaios correram para divulgar que todos estariam envolvidos na morte do jornalista. O comissário Gilberto Fleitas, chefe do departamento contra o crime organizado da Polícia Nacional, afirmou serem grandes os indícios de envolvimento da facção criminosa brasileira PCC (Primeiro Comando da Capital) na execução.

Segundo ele, a morte de Léo Veras teria sido terceirizada por chefes locais do PCC “que se passam por poderosos empresários”. Fleitas reafirmou que os supostos mandantes da execução são integrantes da estrutura criminosa liderada por Sergio de Arruda Quintiliano Neto, o “Minotauro”, Ederson Salinas Benítez, o Ryguasu, e Marcio Sanchez, o “Aguacate”. Salinas estava preso até ontem na PED (Penitenciária Estadual de Dourados) por porte ilegal de arma, mas o Tribunal de Justiça lhe concedeu habeas corpus mediante fiança de R$ 80 mil.

Minotauro está preso no Brasil desde que foi localizado em Balneário Camboriú (SC), enquanto Aguacate é considerado o chefe dos matadores de aluguel que atuam na fronteira. O comissário paraguaio disse que a ordem para execução de Léo Veras teria sido cumprida por Waldemar Pereira Rivas, o “Cachorrão”. Cintia Raquel Pereira Leite, irmã de Cachorrão, foi uma das pessoas presas no dia 22 de fevereiro. No mesmo dia, Cachorrão, fugitivo por outros crimes, deu entrevista a uma rádio de Pedro Juan e negou o crime. Afirmou que era amigo de Leo Veras.

Os nove presos por suspeita do assassinato continuam atrás das grades, mas até agora a polícia não divulgou as supostas provas que existem contra eles. Enquanto o assassinato de Léo Veras é deixado de lado pelas autoridades, a família do jornalista enfrenta dificuldades financeiras. Até uma “vaquinha” online foi lançada para arrecadar dinheiro para a família. A campanha foi criada pelo perfil do site Porã News, que pertencia ao jornalista, mas toda a quantia arrecadada será revertida integralmente à família.