MUITOS INIMIGOS: Entre desafetos, site alemão diz que Rafaat teria atentado até contra um senador

Por Edmondo Tazza – Ponta Porã e Nélio Brandão

jorge-rafaat-toumani-_316_464_1373851Jorge Rafaat Toumani, 56, o “rei da fronteira” pelo crescimento de seus negócios e pelo envolvimento evidente no narcotráfico de drogas colecionou muito mais de que fortuna, fortalezas, carrões e poder.

Colecionou inimigos, e todos eles mortais.

Ainda mais numa fronteira onde o Brasil é incompetente em sua atuação e o Paraguai, por razões óbvias, deixa meia dúzia de policiais contaminados pela corrupção e despreparados sem condições de agir.

“Padrinho”, como era conhecido, repeliu várias tentativas de traficantes brasileiros de domínio do tráfico local.

Rafaat havia escapado de dois atentados, o último deles há três meses.

Desta vez, os pistoleiros cercaram o jipe Hummer dirigido por Rafaat e romperam a blindagem com armamento militar de calibre.50 acoplado na parte traseira de uma Toyota Hilux SW4. Ele foi atingido por 16 projéteis na última quarta-feira, 15/06.

SENADOR ROBERT ACEVEDO

acevedo-hospitalSenador O site alemão Wonchenblatt.cc revela que o  agora presidente do senado paraguaio, Robert Acevedo, que escapou de uma tentativa de assassinato há 6 anos e teria sido feita por integrantes do PCC em Pedro Juan Caballero seria um dos desafetos de Rafaat.

Acevedo afirmou para os alemães o seguinte:  “O atentado contra a minha vida nunca teria sido realizado sem a permissão do Jorge Rafaat”.

https://wochenblatt.cc/nachrichten/paraguay-drogenkrieg-in-pedro-juan-caballero/46018

O site continua ainda dizendo que Jorge Rafaat Toumani é considerado pelo DEA dos EUA como uma figura-chave entre os barões da droga no Paraguai. Em agosto 2014, encontraram 847 kg de cocaína em um recipiente cheio de arroz com destino a Alemanha, que levava o logotipo de sua organização. Esta é a quarta maior entrega que poderia ser apreendido pela polícia anti-drogas no Paraguai.

Ele também participou da criação de uma rede que recrutou paraguaios Mulheres na Europa para serviços sexuais. Finaliza os alemães.

PCC 

Traficantes brasileiros, que buscam o domínio da fronteira com o Mato Grosso do Sul para comandar suas operações, vêm protagonizando um combate franco, com inúmeras vítimas até agora desde 2007, quando a fronteira foi “invadida” por integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC) vindos principalmente do Complexo do Alemão e da Favela da Rocinha no Rio de Janeiro, depois das operações de pacificação deflagradas pelas instituições de segurança.Atuaram agora notadamente no assassinato de Jorge Rafaat.

As cenas de violência ligadas ao narcotráfico e ao contrabando na região há décadas não são mais motivos de surpresa para a população, acostumada com o rótulo que a região recebeu de ser uma das principais rotas do tráfico internacional, ficaram mais frequentes e com características e “modus operandi” diferentes dos habituais atentados registrados nos dois lados da linha internacional [o modo tradicional é a execução por duplas, ocupando motos sem identificação] depois das ações contra o tráfico de drogas imposto pelas autoridades do Rio de Janeiro. A operação policial no Complexo do Alemão e na Favela da Rocinha foram deflagradas em junho de 2007, no Rio de Janeiro, e reuniu 1.350 policiais, entre civis, militares e soldados da Força Nacional, do Exército e da Marinha.

Os comandantes da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) escolheram a fronteira Ponta Porã/Pedro Juan para se instalar. Teriam sido 23 os chefões do tráfico que se mudaram na época para a “terraza del norte”, onde, depois disso, mansões e bunkers se multiplicaram por toda a cidade e passou a ser comum encontrar casas velhas e mal conservadas ocupadas por dezenas de homens fortemente armados e conduzindo utilitários de última geração.

Os rumores dão conta de que, ao “ocupar” Pedro Juan, os chefes das quadrilhas impuseram uma regra geral para a bandidagem já instalada na região: “daqui para frente, quem mandar para fora da fronteira carregamentos de drogas, pneus, cigarros, uísque e armas, deve pagar uma “comissão” de 30% para os “comandantes””.

Com isso, o número de mortes em circunstâncias violentas e com requintes de selvageria foi potencializado.

FAHAD JAMIL

fahd-jamil-georgesUma dessas supostas vítimas de Rafaat seria o empresário Luis Henrique Georges, também conhecido por “Tulú”, que foi assassinado a tiros na tarde de 4 de outubro de 2012 em Ponta Porã.Na hora do atentado Tulú dirigia um veículo Mitsubishi de cor preta, placas HTO- 2807 de Ponta Porã (MS) e tinha em sua companhia dois seguranças, um homem identificado por “Gordo Véras”, que também morreu no local e Ananias Duarte, que ficou ferido e foi socorrido pela unidade do Corpo de Bombeiros para um hospital de Ponta Porã, depois transferido para uma clínica em PJC e finalmente, de madrugada, levado para Assunção, de onde desapareceu.

Tulu é sobrinho de Fahd Jamil, empresário que já foi apontado diversas vezes como chefe do crime organizado na região, mas permanece livre.

As informações repassadas pela polícia dão conta que o veículo que o empresário viajava foi alvejado por inúmeros tiros de fuzil M-16, disparados do interior de outra caminhonete – no mesmo estilo praticado desde então.

Tulú era um dos proprietários do Jornal da Praça, um dos periódicos mais tradicionais da cidade fronteiriça.

JARVIS CHIMENES PAVÃO
rafaat5Outro inimigo declarado de Rafaat  é o narcotraficante Jarvis Chimenes Pavão, que está preso desde 2010 no Centro Penitenciario de Tacumbú, localizado do bairro que lhe empresta o nome, no oeste da capital paraguaia, Assunção.
Pavão, tido pela polícia como barão da droga, desafiou a polícia por mais de 15 anos durante sua atuação no tráfico internacional. A história do brasileiro que se refugiou no Paraguai revela o caminho de bandidos que conquistam poder, desprezam leis e, mesmo a distância, mantém o domínio sobre criminosos envolvidos com a distribuição e o consumo de entorpecentes. Investigações indicam que Jarvis Pavão teria contratado o CV (Comando Vermelho) para eliminar Rafaat.
Além de ser um dos grandes produtores de drogas, principalmente maconha, já que é apenas entreposto da cocaína originária da Colômbia e da Bolívia, o Paraguai tem cidades que costumam abrigar foragidos do Brasil. Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, foi um deles. Assim como Beira-Mar, Pavão escolheu Pedro Juan Caballero, cidade vizinha a Ponta Porã, sua cidade natal, para se refugiar, uma vez perseguido até pela Polícia Internacional (Interpol).A polícia descobriu que Pavão criou uma empresa de importação e exportação de cervejas. Mas, a operação seria fachada para o tráfico. Em Pedro Juan Caballero,  suspeitou-se que fez parceria com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) no esquema de troca de armas por cocaína.

PINGO

Rafaat7(1)As instituições policiais, tanto do Brasil como do Paraguai apontam ainda para outro suspeito em potencial. Trata-se do gaúcho Irineu Domingo Soligo, o Pingo, condenado no Brasil a 40 anos de prisão.

A Polícia Federal desbaratou, em 2010, uma das principais quadrilhas responsáveis pelo abastecimento de cocaína no Vale do Sinos, no RS, e na Região Metropolitana. O grupo, com tentáculos na Bolívia e no Paraguai, era liderado por Pingo, ex-parceiro de Fernandinho Beira-Mar, e um dos filho dele.

A Operação Grumatã (peixe de grande porte e de difícil captura), desencadeada pela PF, prendeu também Jonathan Winck Soligo, o Pinguinho, filho de Soligo, em Aral Moreira (MS), onde a família mantinha três fazendas supostamente dedicadas à produção de soja. O pai dele foi retirado pelos agentes de uma prisão agrícola em Piraquara, no Paraná, onde cumpria pena em regime semiaberto e encaminhado ao Presídio Federal de Segurança Máxima de Catanduvas (PR).

FICHA

Rafaat –que dizia ter nascido no Paraguai, mas era registrado no Brasil–, foi condenado em primeira instância pela Justiça federal brasileira em abril de 2014 por tráfico internacional de drogas.

As penas somadas chegam a 47 anos de prisão em regime fechado, mais multa de R$ 403,8 mil. O irmão dele, Joseph Rafaat Toumani, foi condenado a 15 anos de prisão. A Justiça confiscou aviões, carros e imóveis da família.

Depois disso, Rafaat cruzou a fronteira e ostentava uma vida de luxo como empresário em Pedro Juan Caballero. Tinha comércios de pneus e de materiais de construção, mas atuava mesmo no tráfico de drogas.

Vivia livre no Paraguai porque as autoridades do país não dispunham de provas para incriminá-lo, embora a Senad (secretaria nacional paraguaia de políticas antidrogas) acompanhasse os movimentos dele havia anos.

Rafaat tentou ocupar o vazio deixado na fronteira após a prisão de Fernandinho Beira Mar, em 2002. Ele já tinha ligações com o crime organizado desde os anos 1990, tendo começado contrabandeando café. Envolveu-se ainda com tráfico de armas e drogas.

Em 1996, o Banco Central brasileiro identificou uma remessa de R$ 520 mil para o Uruguai, por meio de uma conta da Gabarito Materiais de Construções no Banco de Crédito Nacional (BCN). Registrou ainda R$ 5,5 milhões movimentados entre 1996 e 1998 nesta conta e na de outra empresa de Rafaat.

Ele usava laranjas para a movimentação financeira em duas empresas. Condenado a dez anos de prisão por lavagem de dinheiro, cumpriu parte da pena e conseguiu anular o restante no STJ (Superior Tribunal de Justiça).

Desde a década de 1990 ele vinha se articulando para assumir o controle do tráfico de drogas na fronteira.

Em maio de 2001, pistoleiros atacaram com metralhadoras as instalações da empresa de Rafaat em Pedro Juan Caballero. À época, investigações da Senad concluíram que ele queria herdar os negócios de Beira Mar a partir de contatos que mantinha com cartéis colombianos.

A prisão de Rafaat foi decretada pela primeira vez em 2003, e ele ficou preso por três anos. Em 2004, a Polícia Federal apreendeu em São José do Rio Preto (SP) 492 kg de cocaína despachados por ele.
Em março deste ano, Rafaat sofreu novo atentado, desta vez planejado supostamente pelo PCC.

Os pistoleiros foram perseguidos pelos seguranças de Rafaat e abandonaram um caminhão com várias metralhadoras no lado brasileiro da fronteira.

As investigações do atentado levaram a polícia paraguaia a descobrir, uma semana depois, um arsenal escondido em uma casa num bairro da periferia de Assunção.

ANOS 1990

A atuação de Jorge Rafaat Toumani no tráfico de drogas é conhecido pela Polícia Civil de São Paulo desde a década de 1990.

Em 1993, equipes do Denarc (narcóticos) apreenderam duas toneladas de maconha e 70 kg de haxixe escondidos em meio a uma carga de madeira.

Os policiais partiram em diligência para um endereço em Ponta Porã (MS) que constava na nota fiscal da carga transportada.

Lá, só encontraram uma casa onde estavam instalados equipamentos de rádio (tecnologia de última geração) que enviavam para o lado paraguaio, em Pedro Juan Caballero, os telefonemas recebidos naquele endereço.

Descobriram, também, que tudo pertencia a pessoas ligadas Toumani e, desde então, acompanham notícias dele.