Local abandonado: Subprefeito de Anhanduí ressuscita o “coronelismo”, não trabalha e ganha R$ 8,5 mil por mês

No período de 1889 a 1930 floresceu no Brasil uma prática de cunho político-social, própria do meio rural e das pequenas cidades do interior, chamada de “coronelismo”, que configurava em uma forma de a elite, encarnada emblematicamente pelos proprietários rurais, controlar os meios de produção, detendo o poder econômico, social e político local.

Eis que em pleno século 21, mais precisamente no ano de 2017, o prefeito de Campo Grande, Marquito Trad, fez ressuscitar essa velha prática há muito esquecida pelos lados do município ao nomear como subprefeito do Distrito de Anhanduí o senhor Ernesto Francisco dos Santos, mais conhecido como “Professor Ernesto” e que foi candidato a vereador pelo PSD nas Eleições 2016 e fracassou nas urnas com menos de 200 votos.

Marquito, Ernesto e Lacerda

Os mandos e desmandos do “coronelzinho” no Distrito de Anhanduí já revoltaram os moradores, que se mobilizaram e, em menos de três dias, fizeram um abaixo assinado com mais de 500 assinaturas, solicitando a saída imediata do Professor Ernesto do cargo de subprefeito.

Segundo denúncias encaminhadas ao Blog do Nélio pelos moradores do Distrito de Anhanduí, além da costumeira falta de educação com a população, o digníssimo subprefeito virou dono do Proinc – Programa de Inclusão Profissional da Prefeitura de Campo Grande -, colocando parentes e deixando quem mais necessita de fora e, ainda pior, renovando contrato de quem já tem mais de dois anos de benefício.

Para quem não sabe, o Proinc foi criado pela Prefeitura de Campo Grande para cadastrar e convocar trabalhadores desempregados que aceitem executar diversos trabalhos, tais como limpeza e consertos diversos em praças, capina, varrição e conservação de logradouros públicos, entre outros, recebendo, em troca, bolsa-auxílio mensal, no valor de um salário mínimo, uma cesta básica por mês e meio de transporte para o local de trabalho, quando necessário.

O “coronelzinho” de Anhanduí não parou por aí, pois, ainda de acordo com as denúncias, ele solicitou ao prefeito Marquito Trad a retirada da Guarda Municipal do Distrito e solicitou que a Vigilância Sanitária multasse a maior fonte de renda do local que são as barracas que comercializam produtos artesanais, bem como pimentas e doces caseiros, às margens da rodovia BR-163.

Sem falar no pedido de fechamento da Associação de Moradores de Anhanduí e do Ginásio da Escola Municipal do Distrito pelo Corpo de Bombeiros por risco à segurança das pessoas em decorrência da falta de manutenção mínima. Além de não usar os recursos enviados pela Prefeitura para a conservação desses locais, o Professor Ernesto também não está pagando o aluguel do prédio onde funciona a sede da Subprefeitura.

Talvez o subprefeito esteja usando o dinheiro para pagar a conta de telefone fixo da Subprefeitura, que seria um exagero, tendo em vista as ligações para celulares fora do horário de expediente. O que não é de se estranhar, afinal, o Professor Ernesto tem usado o prédio da Subprefeitura para tomar banho e até dormir, como se o local fosse a sua nova residência.

As denúncias não param por aí, pois o “coronelzinho” usou todo o seu poder chancelado pelo próprio prefeito Marquito Trad para mandar arrombar as portas das casas da Emha (Empresa Municipal de Habitação) construídas no Distrito para colocar os seus compinchas para morar.

Além disso, o Professor Ernesto chegou ao ponto de mandar os convocados do Proinc irem para a capela do Distrito para velar os corpos de pessoas próximas a ele que faleceram recentemente. A façanha obrigou a Prefeitura a enviar dois secretários municipais para dialogar com os moradores e chegaram a prometer que, no dia seguinte, o subprefeito seria substituído, porém não cumpriram o combinado.

A saída para os moradores foi buscar a ajuda da vice-prefeita Adriane Lopes, levando um dos convocados do Proinc para relatar o que se passava sob o comando do “coronelzinho”. No outro dia, sabendo da reunião, o subprefeito humilhou o trabalhador das piores formas possíveis.

A situação ficou insustentável e o prefeito Marquito Trad teve de ir até o Distrito e conversar com os líderes comunitários, combinando uma reunião no seu gabinete para a segunda-feira (04). Porém, mais uma vez, as lideranças foram enganadas pelo prefeito que comunicou ser impossível exonerar o Professor Ernesto do cargo porque, pasmem, ele teria comprado um sofá para a mãe e o salário estaria todo comprometido com essa dívida.

Entretanto, conforme pode ser consultado no Portal da Transparência da Prefeitura de Campo Grande, o Professor Ernesto tem como salário mensal o valor de R$ 8.415,92 relativo ao símbolo DCA-1, ou seja, de diretor-executivo, e, portanto, daria para comprar o tal sofá até a vista se fosse o caso e não precisaria “empenhar” todo o vencimento no móvel.

Para quem não sabe, esse gordo salário foi instituído pelo prefeito Marquito Trad durante a reforma administrativa feita no início deste ano que inclui a implantação de duas subprefeituras para os distritos de Anhanduí e Rochedinho. As subprefeituras foram listadas pelo Poder Executivo como órgãos da administração direta.

De acordo com a Lei Municipal nº 5.793, sancionada pelo prefeito Marquito Trad (PSD), as subprefeituras, vinculadas diretamente ao prefeito, têm competências como supervisão, controle e acompanhamento da execução de ações locais de programas aprovados pelo prefeito, encaminhamento aos órgãos municipais, de acordo com as respectivas áreas de atuação, de demandas identificadas com os interesses dos munícipes residentes no distrito, e manutenção de mecanismos para facilitar o acesso e imprimir transparência aos serviços públicos locais.

No caso de Anhanduí, o escolhido foi Ernesto Francisco dos Santos por ele ser do mesmo partido do prefeito, obviamente. Dessa forma, o Professor Ernesto administra, sob mãos de ferro e com ares do velho coronelismo, o Distrito, que foi criado em 17 de novembro de 1948 pela Lei Municipal nº 1.131. Atualmente, a região tem aproximadamente 5 mil habitantes nas zonas urbana e rural e a principal atividade econômica é a agropecuária, sendo que, ao longo da BR-163, pequenos produtores rurais comercializam produtos como pimenta, doces caseiros e objetos artesanais.