JBS e a política de MS: Nossa André! R$ 30 mi em espécie R$ 60 mi em doleiros e nada de pagar fiança?

 

Segundo o empresário Wesley Batista, um dos donos da JBS, que revelou um esquema de pagamento de propina em Mato Grosso do Sul, em troca de benefícios fiscais, o pecuarista Ivanildo Miranda era o ‘operador’ do ex-governador André Puccinelli.

“O Joesley (Batista) tratava com pessoa do Ivanildo Miranda, fazia interloucao acerto das contas, recebimento. Ele era o operador do então governador André Puccinelli”, contou Wesley em delação na PGR (Procuradoria-Geral da República), já homologada pelo ministro Luiz Edson Fachin, do STF (Supremo Tribunal Federal).

O empresário, que junto com o irmão Joesley, foram responsáveis pelas delações que abalaram a estrutura política e institucional do país, contou que a propina paga a Puccinelli, por intermédio de Ivanildo, era entregue por meio do pagamento de notas fiscais frias, doleiros e até retiradas milionárias em espécie.

Na delação, Batista cita notas fiscais que seriam frias de empresas investigadas também na Operação Lama Asfáltica, como a Proteco Construção, Gráfica Alvorada e Instituto Ícone de Ensino Jurídico,

“Fora essas notas fiscais, foram pagos adicionalmente a isso, ao redor de R$ 30 milhões dinheiro em espécie e mais R$ 60 milhões via doleiro para terceiros. O Ivanildo trazia a lista (de beneficiários)”, disse Wesley aos procuradores.

Ivanildo, delatou Wesley, foi o operador do esquema de recebimento de propina do ex-governador Puccinelli por cerca de sete anos, até o último ano de sua gestão (2014). “Acho que o André, o governador, e o Ivanildo se desentenderam, eu acho, e ele tirou o Ivanildo e pôs esse André Luiz Cance”, frisou o empresário.

A reportagem tentou contato com pelo menos três advogados que já atuaram na defesa do pecuarista, nenhum pôde falar em nome do citado. Na última quinta-feira (11), quando a Operação Máquinas de Lama foi deflagrada, o governador Reinaldo Azambuja (PSDB) revelou ser amigo de Ivanildo.

“É uma pessoa amiga nossa, como tem amizade com o governo anterior. Não vejo que isso tenha a ver com o nosso governo”, disse o tucano. De acordo com Wesley Batista, o esquema de pagamento de propina em troca da redução de ICMS, entre a JBS e o governo estadual, existe desde a gestão de Zeca do PT.

A assessoria de Puccinelli disse que o ex-governador não iria se pronunciar sobre o caso, já a assessoria de Reinaldo afirmou que ele está em Brasília, e ainda não se manifestou oficialmente sobre a delação.

Nos vídeos de delação premiada da Operação Lava Jato, cujo sigilo foi quebrado na tarde desta sexta-feira (19) pelo STF (Supremo Tribunal Federal), o empresário Wesley Batista, sócio da JBS, revela uma lista de empresas que teriam dado notas frias durante as gestões de André Puccinelli (PMDB) e Reinaldo Azambuja (PSDB), além de repasses em dinheiro também para Zeca (PT), que ultrapassam R$ 100 milhões.

Ivanildo Miranda e André Cance operaram propina para Puccinelli, diz delator

Incluído na delação da JBS, Reinaldo Azambuja está em Brasília nesta sexta

Somente André Puccinelli, segundo Wesley, teria levado R$ 90 milhões em propina, sendo supostamente R$ 30 milhões em dinheiro e R$ 60 milhões por meio de um doleiro. O empresário afirma que Joesley teria negociado os repasses com os ‘operadores’ do ex-governador, o empresário Ivanildo Miranda e André Luiz Cance.

Wesley revela na delação que que o esquema era operado por Joesley na época do governo Zeca, que cobrava 20% do valor do benefício de redução do ICMS, tendo como contrapartida o pagamento de propina. “Como este fato é de 2003, não temos mais o registro de quanto foi pago, nem a forma como foi pago”, diz.

Entretanto, o empresário cita que em 2010, enquanto candidato a deputado, Zeca teria pego R$ 3 milhões de Joesley para campanha, sendo R$ 1 milhão em doação oficial e R$ 2 milhões em espécie, no escritório da empresa em São Paulo.

“Foram pagos por várias modalidades: notas frias, notas fiscais, doleiros e a terceiros no período do Puccinelli”. O delator apresentou uma tabela com as doações, mas apenas algumas empresas são citadas no áudio, como R$ 5 milhões ao Ivanildo, R$ 9,5 milhões para a Proteco Construções, R$ 980 mil para a Gráfica do Mirched Jafar, MP Produções Cinematográficas, Art Propaganda, Ibope Pesquisa e Consultoria (com nota de R$ 2,8 milhões), Amapil Táxi Aéreo, Instituto Ícone, cujo filho de Puccinelli é sócio, de R$ 1,2 milhão e R$ 2,9 milhões para Gráfica Alvorada.

Wesley detalha uma nota de R$ 12,9 milhões da empresa Buriti durante a gestão de Reinaldo Azambuja (PSDB) e outros R$ 10 milhões em espécie. “O pagamento em espécie de R$ 10 milhões foi tratado diretamente comigo. O Boni foi ao palácio do governo lá em Campo Grande e pegou em mãos as notas frias e processou o pagamento”, diz.

Lama Asfáltica

Das nove empresas citadas em depoimento do delator Wesley Batista, dono do grupo JBS, à Procuradoria-Geral da República no início deste mês, pelo menos duas delas já são investigadas em Mato Grosso do Sul pela Polícia Federal no âmbito da Operação Lama Asfáltica, deflagrada em 2015. Nesta sexta-feira (19), o STF (Supremo Tribunal Federal) liberou acesso ao conteúdo da delação premiada dos donos da JBS, em um trecho do depoimento, o delator fala especificamente sobre suposto esquema operado no Estado desde 1999.

De acordo com Wesley, milhões foram pagos aos governadores Zeca do PT, André Puccinelli (PMDB) e Reinaldo Azambuja (PSDB) em propina para que o Estado concedesse benefícios fiscais ao gigante frigorífico.

O pagamento dos valores ilícitos era feito por meio de operadores do suposto esquema, indicados pelos governadores. Para que a propina fosse repassada aos políticos de forma aparentemente legal, empresas eram indicadas pelos ex-governadores e o atual governador, segundo o delator Wesley, para que valores fossem depositados em suas contas. As empresas, por sua vez, repassavam notas frias para a JBS para justificar o recebimento dos valores.

No depoimento, o dono da JBS entrega ao integrante da PGR uma lista com todas as empresas que emitiram notas supostamente frias. Nomes de algumas empresas são citados em voz alta por Batista. São elas: Proteco Construções, Gráfica Alvorada, MP Produções Cinematrográficas, Art Propaganda, Ibope Pesquisa e Consultoria, Amapil Táxi Aéreo, Instituto Ícone de Ensino Jurídico, ST Pesquisa de Mercado e Buriti.

De todas essas, a Proteco e a Gráfica Alvorada já são nomes conhecidos em Mato Grosso do Sul por até hoje serem alvos da Polícia Federal que investiga detalhes da Operação Lama Asfáltica. No Estado, elas são investigadas por envolvimento em esquema que supostamente desviava recursos públicos. A Proteco, inclusive, é uma das protagonistas do impasse envolvendo a conclusão da obra do Aquário do Pantanal.

Ivanildo Miranda e André Cance operaram propina para Puccinelli, diz delator

Incluído na delação da JBS, Reinaldo Azambuja está em Brasília nesta sexta

A reportagem também apurou que a Proteco Construções e a Instituto Ícone também fizeram doações a campanhas eleitorais nas últimas duas eleições, de 2010 e 2014.

A delação

No termo de declaração, Wesley Batista revela que o suposto esquema de pagamento de propina em troca de incentivos fiscais em Mato Grosso do Sul começou no governo Zeca do PT e esteve vigente até o final do ano passado, já na gestão de Reinaldo Azambuja (PSDB). Em espécie, Puccinelli teria recebido R$ 30 milhões, e levado mais R$ 60 milhões via ‘doleiro’.

Wesley revela na delação que que o esquema era operado por Joesley na época do governo Zeca, que cobrava 20% do valor do benefício de redução do ICMS, tendo como contrapartida o pagamento de propina. “Como este fato é de 2003, não temos mais o registro de quanto foi pago, nem a forma como foi pago”, diz.

Entretanto, o empresário cita que em 2010, enquanto candidato a deputado, Zeca teria pego R$ 3 milhões de Joesley para campanha, sendo R$ 1 milhão em doação oficial e R$ 2 milhões em espécie, no escritório da empresa em São Paulo.