Gaeco “descobre” só agora o que todos já sabiam. O jogo do bicho financia as milícias. É brincadeira!

O pior cego é aquele que não quer ver! Passados quase um ano da primeira fase da “Operação Omertà”, que levou para a prisão os envolvidos em várias execuções em Campo Grande (MS), foi somente nesta semana que o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), do MPE (Ministério Público Estadual), descobriu que o jogo do bicho financia organizações criminosas perigosas e violentas em Mato Grosso do Sul.

Mesmo com as prisões dos empresários Jamil Name, 83 anos, e do filho dele, Jamil Name Filho, 42 anos, o “Jamilzinho”, no dia 27 de setembro do ano passado, todos como os controladores do jogo do bicho em Campo Grande e região, somente agora, praticamente um ano depois, que o Gaeco chegou a brilhante conclusão de que essa contravenção era a fonte dos recursos financeiros necessários para manter o poder da milícia desmantelada pela “Operação Omertà”.

Ao longo desta semana, depois de descobrir a roda, o Gaeco realizou a quarta fase da “Operação Omertà”, denominada de “Black Cat” – que em português significa gato preto, nome adotado por Jamil Name para sua “empresa” do jogo do bicho. Mesmo com o operativo vazado, o MPE decidiu colocar nas ruas seu “braço armado” contra o jogo do bicho e lacrou bancas que operavam essa contravenção.

De acordo com o último levantamento, já foram atingidas pela ação mais de 100 pontos de apostas. O total, segundo apurado junto à força-tarefa da Polícia Civil que está nas ruas, pode chegar a 500 locais. Cinco delegacias estão envolvidas nos serviços para bloqueio das estruturas da atividade fora da lei. Não há um mapeamento preciso e esse número, assim como eventuais dados sobre movimentação financeira serão conhecidos ao fim dos trabalhos.

Como a operação vazou, em poucos lugares foram encontrados apontadores do bicho. Até ontem (24), tinham sido levadas 28 pessoas para o Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubos a Banco, Assaltos e Sequestros). Por se tratar de contravenção penal, e não crime, elas estão sendo liberadas após serem ouvidas e assinaram termo circunstancial de ocorrência.

“Considerado contravenção penal pela legislação penal brasileira, o jogo do bicho tornou-se ao longo do tempo grande financiador de organizações criminosas de alta periculosidade pela violência empregada em ações delituosas a fim de garantir a lucratividade do negócio, inclusive no Estado de Mato Grosso do Sul”, afirmou nota do Gaeco.

Para os investigadores, o foco principal da ação é juntar provas para evidenciar a ligação entre a exploração do bicho e a organização criminosa alvo das primeiras fases da Omertà. O empresário Jamil Name, preso há um ano, é apontado como chefe tanto da exploração do bicho quanto de milícia armada dedicada a eliminar inimigos por meio de execuções.

Nos relatórios de investigação e peças processuais derivadas da operação, é citado sempre que a estrutura da estrutura do escritório de pistolagem copiou a forma de atuação do jogo do bicho.

Integrantes do grupo já respondem, oficialmente por três assassinatos e são investigados e pelo menos mais uma dezena, ao longo dos últimos anos. Um dos casos mais rumorosos é a morte do delegado aposentado Paulo Magalhães, ocorrido em 2013, em Campo Grande, cujo inquérito foi desarquivado este ano.

Na nota divulgada sobre o “Black Cat”, o Gaeco confirma que a maioria das barracas do jogo do bicho está instalada em passeios públicos, o que implica também infração administrativa por ocupação irregular de espaço público, cabendo ao Poder Público a remoção imediata de todas estas estruturas.

“Restou evidenciado ainda que pontos de realização de jogo do bicho também funcionam no interior de estabelecimentos comerciais, o que configura infração de ordem penal e administrativa, acarretando aos proprietários dos respectivos locais responsabilização penal e, até mesmo, a cassação do alvará de funcionamento”, diz o texto.

O grupo especial do MPE reforça que o rompimento do lacre, para reabertura das bancas do bicho, configura o crime previsto no artigo 336 do Código Penal, “sujeitando o infrator à pena de detenção de até um ano”. Fonte e fotos: Campo Grande News