Era o mínimo e demorou! Delegado que matou boliviano a tiros dentro de ambulância é afastado do cargo

Delegado foi preso durante operação do Garras (Foto: Anderson Gallo/Diário Corumbaense)

O delegado da Polícia Civil Fernando Araújo da Cruz Júnior, titular da Deaji (Delegacia de Atendimento a Infância, Juventude e do Idoso) de Corumbá (MS), preso na sexta-feira (29) pelo assassinato do pecuarista boliviano Alfredo Rangel Weber, 48 anos, dentro de uma ambulância no dia 23 de fevereiro deste ano quando já tinha havia sido esfaqueado por Fernando, foi afastado do seu cargo em decisão publicada no Diário Oficial desta quinta-feira (4).

Ele está preso no Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubos a Bancos, Assaltos e Sequestros) depois da operação deflagrada em Corumbá, em que um policial civil também foi preso. A decisão foi da Corregedoria Geral da Polícia Civil de Mato Grosso do Sul, e pela decisão o delegado deverá entregar sua carteira funcional, suspensão de senhas para acesso a banco de dados da administração pública, além de sua arma também ser recolhida.

O delegado foi preso na casa onde vivia com a família, localizada no cruzamento das ruas Dom Aquino e 15 de Novembro, no Centro de Corumbá, onde também foram apreendidos vários objetos. Além de Fernando, a sua esposa foi detida no local e colocada na viatura durante cumprimento de mandado de busca e apreensão. Ela ainda tentou fugir.Teria sido contida pelo delegado do Garras, Fábio Peró, que teve a mão mordida por ela. O caso foi registrado no 1º Distrito Policial.

Em outro imóvel, no cruzamento das ruas Cabral com a Firmo de Matos, a equipe fez busca e apreensão. O morador da residência, também policial civil, foi levado para prestar depoimento, depois que foram realizadas buscas no imóvel e também no comércio dele, que fica em frente à casa. O nome dele ainda não foi divulgado. A ação foi deflagrada pela Corregedoria da Polícia Civil com apoio da DEH (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes de Homicídio) e do Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubo a Banco e Resgate a Assaltos e Sequestros).

Entenda o caso

Segundo as investigações, o delegado não foi apenas o autor dos disparos que mataram Alfredo dentro da ambulância, mas também foi o responsável pelas facadas horas antes. A história começou durante às eleições para presidente da associação de agropecuaristas na Bolívia, onde o sogro de Fernando, Asis Aguilera Petzold (o atual prefeito da cidade de El Carmen), concorria ao cargo.

Alfredo, que apesar do envolvimento com o narcotráfico, é conhecido como pecuarista na região, participou das eleições e foi para a festa de um amigo. No entanto, ao fim do dia, voltou ao local em que as votações aconteciam. Lá, encontrou a esposa de Fernando e a filha de Assis, Sílvia Aguilera, 31 anos. Conforme as investigações, a mulher já foi casada com Odacir Santos Corrêa, ex-sócio de Alfredo, preso pela Policia Federal durante a Operação Nevada, em 2016.

Ao ver a mulher, Assis teria cobrado dívidas do ex-marido e ameaçado os filhos dela de morte. Os dois discutiram e a confusão foi separada por Assis, que ao lado de Fernando, sentou-se em uma mesa para conversar com Alfredo. Se aproveitando do momento, o delegado teria levantado, se armado com uma faca e desferido pelo menos três golpes nas costas de Alfredo. O homem foi levado para um hospital local, mas devido a gravidade transferido para Corumbá.

A ambulância, então, saiu da cidade boliviana em sentido a fronteira brasileira. Já em território sul-mato-grossense foi fechada por uma caminhonete preta, cabine simples. O motorista desceu do veículo, foi até a ambulância, abriu a porta e atirou quatro vezes. Três tiros atingiram a cabeça da vítima, um deles o tórax. Sem ter o que fazer, o motorista voltou com o corpo para o país vizinho. Principal suspeito do crime na Bolívia, Fernando também se tornou alvo da polícia brasileira.

Detalhes como o veículo usado pelo pistoleiro, do mesmo modelo do carro de Fernando, e até a arma, foram ligando as investigações ao delegado. Ele chegou a ser ouvido, mas afirmou ter entregue sua caminhonete numa dívida e que não se lembrava o nome da própria esposa.

Coação

Durante as investigações, o motorista e o médico da ambulância também foram ouvidos. Um deles, no entanto, Sílvio Monteiro, se tornou alvo de falsas denúncias de sequestro. Convidado para prestar depoimento, Sílvio, que no dia dirigia a ambulância, levou a polícia uma carta narrando o que havia acontecido no dia do crime. No entanto, na noite do mesmo dia, voltou à delegacia pedindo para modificar o texto.

Sem ter como fazer isso, pediu para fazer um boletim de ocorrência de preservação. O caso foi registrado e no dia seguinte a defensoria pública de Puerto Suárez denunciou a Polícia Federal de Corumbá pelo sequestro de Sílvio, que nunca aconteceu. A polícia, no entanto, encontrou ligações entre o motorista e a esposa de Fernando, o que leva a acreditar que toda a situação foi montada para despistar e atrapalhar as investigações que incriminavam o delegado. Nesta manhã (29), equipes da Polícia Civil deixaram Campo Grande para cumprir mandado de prisão contra o delegado.

Na casa do delegado foram apreendidos vários materiais. Além dele, um policial civil também foi preso pelos colegas durante a operação. Informações de policiais que integram outras forças de segurança e atuam na cidade são de que o nome do delegado foi citado durante as investigações da morte do boliviano. A polícia ainda não detalhou os motivos da prisão.