Em “guerra” declarada ao clã Fahd Jamil, PCC teria invadido e “fechado” o jogo do bicho na fronteira

Denúncia encaminhada ao Blog do Nélio na manhã deste sábado dá conta que a “guerra” declarada da facção criminosa brasileira PCC (Primeiro Comanda da Capital) ao clã do empresário ponta-poranense Fahd Jamil, mais conhecido como “Rei da Fronteira”, teria provocado o fechamento das bancas do jogo do bicho nas cidades de Pedro Juan Caballero, no Paraguai, e Ponta Porã, em Mato Grosso do Sul.

Segundo informações ainda não confirmadas pelas autoridades de segurança dos dois países, homens fortemente armados ligados ao PCC teriam invadido os locais controlados pelo jogo do bicho nas duas cidades fronteiriças e mandado fecharem as portas, suspendendo todas as apostas. Uma pessoa que trabalha para o jogo do bicho na região confirmou ao Blog do Nélio que recebeu ordens para suspender as apostas e até o sorteio da noite de ontem (8) foi cancelado.

Essa seria a 2ª ofensiva do PCC contra o clã de Fahd Jamil pelo controle total do tráfico de drogas e de armas na fronteira do Paraguai com Mato Grosso do Sul. A disputa pela região foi deflagrada no dia 26 de novembro do ano passado, quando foram encontrados em uma vala comum na zona rural de Pedro Juan Caballero os corpos dos brasileiros Riad Salem Oliveira, Muriel Moura Carneiro Correia e Felipe Bueno e do paraguaio Cristian Gustavo Torales Alarcón.

Riad Oliveira e Muriel Correia eram sobrinhos de Fahd Jamil, enquanto Felipe Bueno era guarda-costas e Cristina Alarcón era motorista do Cassino Guaraní, que pertence a Fahd Jamil. Nos últimos meses, Riad Oliveira e seu amigo inseparável Felipe Bueno estavam circulando com muita frequência por Pedro Juan Caballero, principalmente, nas festas realizadas na cidade paraguaia, ostentando armas e gabando-se de ser da família de Fahd Jamil.

Riad Oliveira teria até disparado um fuzil contra um membro do PCC, dilacerando o braço da vítima, o que provocou a ira da facção criminosa brasileira, que exigiu vingança e provocou a intervenção de Flavio Correia Jamil Georges, filho de Fahd Jamil. Flavinho, como é conhecido na região, negociou a vida do primo com o novo coordenador do PCC na fronteira, Giovanni Barbosa da Silva, mais conhecido como “Bonitão”.

Com o acordo firmado entre Flavinho e Bonitão, Riad Oliveira, de apenas 19 anos, voltou a causar outra grande confusão com o PCC ao brigar com um “soldado” da facção durante uma festa de aniversário de um dono de uma casa de câmbio. O motivo da briga seria uma mulher que ambos desejavam e, essa confusão, foi o estopim para o início da “guerra”, que, por enquanto, provocou as execuções de Riad Oliveira, Muriel Correia, Felipe Bueno e Cristian Alarcón, sendo que este último estaria no lugar errado e na hora errada. Bonitão não estaria de acordo com o assassinato de Riad Oliveira, mas a ordem de execução partiu das lideranças do PCC em São Paulo.

Sob nova direção

Caso seja confirmado esse ataque do PCC ao jogo do bicho na fronteira, esse seria mais um duro golpe na atividade em Mato Grosso do Sul. Isso porque, após ser alvo da Operação Omertá, os clãs da Fahd Jamil e Jamil Name estariam perdendo o controle sobre essa contravenção. Especula-se a “venda” do negócio para cariocas e recentes investigações mostram que um grupo do Rio de Janeiro estaria assumindo o negócio ilegal, começando por Aquidauana e São Gabriel do Oeste, operadas pela banca “Gato Preto”, que seria de propriedade de Jamil Name.

As extrações ocorrem duas vezes por dia e voltaram a ocorrer no dia 10 de outubro do ano passado, depois de ficarem paradas desde 23 de setembro, sendo que os resultados seriam divulgados, inclusive, em um site, o “Deu no Poste Hoje”. Em Campo Grande, equipes do Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubo a Banco, Assaltos e Sequestros) em conjunto com o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) lacraram pelo menos 107 bancas de jogo do bicho, que já foram até retiradas pela Prefeitura.

A investigação atribui a organização da jogatina ilegal em Campo Grande e cidades da região norte e oeste à família Name, mas conforme apurado pela reportagem, desde que as apostas voltaram a acontecer na cidade, exatos 18 dias depois da operação, a chefia do esquema está sendo transferida a grupo do Rio de Janeiro. Várias testemunhas revelaram a alteração no comando, mas ainda não se sabe como as “negociações” foram feitas.

O retorno das ações ilegais, de uma forma menos acintosa, chegou a ser anunciado em áudios pelo WhatsApp. Informações preliminares apontam também a existência de um segundo grupo envolvidos na loteria ilegal. As informações ainda são investigadas pela polícia, que de forma ininterrupta fiscalizam e lacram bancas de venda por toda a cidade.

Em nota divulgada após a Omertà, o Gaeco disse que a investida contra o jogo do bicho tem como objetivo mostrar que a organização que comanda a contravenção é perigosa e violenta. A Operação Omertà começou há um ano e já enquadrou cerca de 50 pessoas em crimes que vão de formação de milícia armada a tráfico de armas e assassinatos.

O material que está sendo apreendido com o pessoal ligado ao jogo do bicho vai ser usado como provas contra os envolvidos no bando fora da lei.  O “bicho” usa os números da Loteria Federal para definir as premiações.