É muita bala! Fim de semana violento na fronteira com mais 4 execuções. Lugar tranquilo, né prefeito?

O fim de semana foi violento na fronteira do Paraguai com Mato Grosso do Sul com o registro de quatro execuções, o que eleva para 16 o número de vítimas de pistoleiros neste ano na região, sendo que foram 8 mortes em janeiro e 8 em fevereiro.

A matança começou na sexta-feira (14), quando dois ex-policiais militares foram assassinatos a sague frio por pistoleiros em Pedro Juan Caballero, cidade paraguaia que faz fronteira com Ponta Porã (MS). As vítimas foram identificadas como Jorge Luiz Ayala, 47 anos, e Edson Borda da Silva, 50 anos, que foram executados quando deixavam um estabelecimento comercial localizada na Rua Mariscal López esquina com Mariscal Estigarribia, no centro de Pedro Juan Caballero.

Segundo testemunhas, os pistoleiros estavam em uma caminhonete S10 de cor branca e um deles desceu com o rosto coberto armado com uma pistola calibre 9 mm, disparando pelo menos 40 tiros contra os brasileiros. As vítimas chegaram a ser socorridas, mas não resistiram e faleceram na clínica San Lucas, na cidade paraguaia. A Polícia do Paraguai acredita que os ex-policiais foram vítimas do crime organizado que atua na fronteira.

Mais duas mortes

Já na madrugada de domingo (16) mais dois homens foram mortos por pistoleiros também em Pedro Juan Caballero. De acordo com as informações um grupo de amigos tinha saído de uma partida de futebol e foram para uma residência no Bairro General Dias, onde seria feito um churrasco em comemoração a um aniversário.

Várias pessoas estavam sentadas em frente da residência entre eles Sandro Daniel Lopez Godoy, 42 anos, mais conhecido como “Louquinho”. Dois homens chegaram em uma moto e passaram a atirar contra ele. Louquinho ainda tentou correr entrando na residência.

Hugo Alberto Ayala Zolabarrieta, 36 anos, o “Huguito”, que estava sentado no portão da casa com um filho no colo, levou um tiro no coração e morreu na hora. A criança não ficou ferida. No interior da casa uma pessoa levou um tiro em uma das penas e no braço esquerdo e não corre risco de morte.

A Polícia Nacional foi acionada e chegou a perseguir os pistoleiros que abandonaram a moto e entraram no Cemitério Municipal de Pedro Juan Caballero e não foram encontrados. Os investigadores acreditam que Louquinho era o alvo dos pistoleiros que estão sendo procurados.

O comissário Rodolfo Núñez, chefe da 2ª Delegacia de Polícia, explicou que foi o companheiro que desceu da bicicleta com uma arma de fogo e fez a série de tiros que acabaram com a vida desses sujeitos.

Como indicado, uma pistola de 9 mm de calibre foi aparentemente usada para perpetrar esse homicídio. No momento, não há contagem do número de balas atingidas por ele.

Depois de cometer o crime, os assassinos fugiram rapidamente, embora apenas dois quarteirões do local tenham danificado a corrente, situação que os forçou a deixar o veículo e entrar no cemitério para se refugiar. Agentes da Polícia Nacional percorreram a área e cercaram o campo sagrado para tentar localizar os autores do assassinato, embora sem alcançar nenhum resultado.

PREFEITO “CALMARIA ONDE”?

Como se fosse um conto de fadas ou a história de “Alice no País das Maravilhas”, o prefeito de Ponta Porã, Hélio Peluffo, acredita mesmo que a região de fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai vive na mais completa harmonia, sem crimes de pistolagens e sem tráfico de drogas e armas. Em entrevista ao portal UOL, que prepara uma matéria especial sobre a região, ele voltou a reintegrar que a “fronteira é harmônica”.

Ao site de notícias UOL, um dos maiores do Brasil e referência mundial em meio de comunicação, entrevistou, na manhã de quinta-feira (30), o prefeito Hélio Peluffo, que garantiu aos jornalistas que a “fronteira é harmônica e uma terra de oportunidades”. A entrevista foi concedida aos repórteres Luís Adorno e Marina Dias.

Mesmo com as mais de 100 execuções por pistoleiros na região no ano passado, as constantes apreensões de drogas e, mais recentemente, a fuga de 76 presos ligados à facção criminosa brasileira PCC (Primeiro Comando da Capital) do Presídio Regional de Pedro Juan Caballero, cidade paraguaia que faz fronteira com Ponta Porã (MS), Hélio Peluffo destacou apenas que a região precisa de um olhar diferenciado do Governo Federal na área de segurança pública.

“Temos a guarda civil, mas município e Estado não têm como controlar, fiscalizar tudo. Essa responsabilidade é do Governo Federal que ainda não tem uma política direta e com resolutibilidade”, argumentou o prefeito de uma das cidades mais violentas do Brasil. “A rotina na fronteira é tranquila e harmônica em todos os aspectos. Temos pessoas que vivem de um lado e trabalham no outro, cruzam a linha internacional todos os dias. Vocês estão aqui e viram essa tranquilidade, essa vida de uma comunidade pacífica e plenamente fronteiriça”, enfatizou.

Questionado sobre sua opinião em relação à fuga de presos recentemente registrada no presídio em Pedro Juan, o prefeito disse que, “como morador, ficamos preocupados, mas sabemos dessa fragilidade”. Ele citou que o Paraguai vive um momento de intenso crescimento econômico e social e o Brasil ainda não se atentou para tal. “O Paraguai vem crescendo a níveis da Ásia e daqui a pouco estaremos ultrapassados e o Brasil deve assumir seu papel de liderança na América do Sul e assumir responsabilidades, como a questão da segurança pública nas nossas fronteiras”, afirmou o prefeito Hélio.

A reportagem do UOL questionou o prefeito Hélio Peluffo sobre a economia fronteiriça e ele citou que a região oferece inúmeras oportunidades. “Disso não temos dúvida. Temos aqui pessoas de bem, trabalhadoras, famílias inteiras que cresceram aqui. Eu sou um exemplo. Meu pai, brasileiro, atravessou a fronteira para participar de um baile em Pedro Juan Caballero e lá conheceu uma paraguaia que veio a ser minha mãe e hoje estou aqui”, testemunhou.

Outro exemplo dado foi o de pais que residem em Pedro Juan Caballero e matriculam os filhos no lado brasileiro. “Se estivéssemos em época de aulas, você poderia registrar a travessia da fronteira de crianças que frequentam nossas escolas municipais”, citando a Escola Municipal Ramiro Noronha.

Ao final da entrevista, o prefeito Hélio Peluffo agradeceu a visita do site de notícias dando a oportunidade para apresentar um pouco da fronteira. “Vocês estão vendo que por aqui nosso dia a dia é de harmonia plena, tranquila. Atravessamos a linha internacional todos os dias e assim vivemos, criamos nossos filhos e acreditando sempre, no pleno desenvolvimento e em um futuro bom para todos nós”, ponderou o prefeito que parece não querer enxergar o caos que assola a região.