Denúncia de propina paga a juiz chega até “laranjas”, mas será que vai mesmo alcançar sócio oculto?

A situação do juiz Aldo Ferreira da Silva Júnior, que já foi afastado da 5ª Vara de Sucessões e da Família de Campo Grande por transformá-la em um verdadeiro “balcão de negócios”, cada dia se complica mais na Justiça. Agora, o processo mais recente é relativo à denúncia de lavagem de dinheiro por meio de propina paga em propriedades rurais e até um “frentista fazendeiro” aparece como suspeito de ser laranja do “esquema”.

Mas parece que ainda é pouco pelo tamanho do esquema, que, segundo conta informalmente, haveria “sócio oculto” que está no mesmo patamar do magistrado e que teria agido de forma parcial em favor de Aldo em outros esquemas. Mas será que o MP vai chegar até lá?

Na denúncia do MPE (Ministério Público Estadual), protocolada em abril no TJ/MS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul), é detalhado o recebimento de terras pelo magistrado, com sequência de ações, com rede de “laranjas” para esconder a origem ilícita. Um dos episódios foi em um processo de espólio (conjunto de bens de pessoa falecida), que começou a tramitar na Justiça em 2011.

O documento afirma que em junho de 2014 o juiz afastado recorreu ao nome da sogra para ocultar 115 hectares de uma fazenda localizada em Rochedo. A propriedade estava na lista de bens a inventariar no processo e avaliada em R$ 986 mil. A denúncia informa que o juiz aceitou o bem de um herdeiro do processo de inventário em esquema de corrupção.

Na sequência, a sogra funcionou como “laranja” para ocultar o bem a título de propina, “de forma a camuflar a sua aquisição”. Na segunda fase da lavagem, a propriedade rural foi negociada e vendida pelo valor de R$ 1,4 milhão no ano de 2016. O pagamento foi pulverizado com depósito nas contas bancárias de três pessoas, incluindo o pai do juiz. Pagamentos para a sogra do magistrado, por exemplo, foram transferidos para Aldo Ferreira. O fracionamento seria para despistar controle do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras).

Também em 2014, o juiz é acusado de ter recebido 102 hectares de terra no distrito de Anhanduí, avaliados em R$ 1 milhão, objeto de um inventário que data de 1990, nascido ainda época em que a moeda corrente era o Cruzeiro. Depois, realizou transação comercial ilegal, por meio de associação criminosa com empresários. O documento cita que o lucro para magistrado na transação foi de R$ 3,8 milhões.

A situação de ocultação de propriedade também foi verificada em relação à fazenda de 56 hectares em Sidrolândia, avaliada em R$ 280 mil. Em 2014, a propriedade rural foi transferida para um frentista de posto de gasolina, com renda média de R$ 2 mil. “O qual, segundo apurado no presente inquérito judicial, tratava-se de laranja da associação criminosa, tendo recebido e mantido em sua guarda a área rural, ocultando sua origem e propriedade até 22 de setembro de 2015”.

Uma nota técnica aponta que entre 12 de maio e 2014 e 15 de julho de 2015,  frentista, que também foi denunciado, fez uma série de transferências bancárias para a esposa do juiz e um advogado, totalizando R$ 117.400. Em depoimento ao Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), frentista disse que fez os depósitos por orientação de Jesus Silva Dias, apontado como intermediador de negócios para o juiz.

Para o MPE, o frentista de posto de combustíveis “trouxe em sua fala elementos relevantes sobre a sua atuação como laranja da associação criminosa, porquanto, além de movimentar expressiva quantia em dinheiro, possuía emprego humilde e nenhuma informação sobre suas movimentações bancárias”. Na ação penal, é solicitado que o juiz perca o cargo e o pagamento de R$ 29,2 milhões por danos morais à coletividade. Com informações do site Campo Grande News.