Demorou mais saiu: Presidente da Omep é presa pelo Gaeco na Operação Urutau

Foto Campo Grande News/Marcos Ermínio

Após se arrastar desde a época em que Gilmar Olarte estava à frente da Prefeitura de Campo Grande, a farra entre o Executivo municipal e a Omep (Organização Mundial para Educação Pré-Escolar) e Seleta (Sociedade Caritativa e Humanitária – S.S.C.H) parece estar chegando ao fim.

Pelo menos essa é a impressão que dá a Operação Urutau, deflagrada pelo Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), em trabalho conjunto com a 29ª e a 49ª Promotorias de Justiça do Patrimônio Público e Social de Campo Grande, com o apoio da Polícia Militar, deflagrou, na manhã desta terça-feira (13/12), para o cumprimento de 14 mandados de busca e apreensão de documentos, três prisões temporárias e sete conduções coercitivas na Capital.

Desencadeada para apurar a prática de improbidade administrativa e crimes de falsidade ideológica, peculato, lavagem de dinheiro e associação criminosa em convênios mantidos pelo Município de Campo Grande com as duas entidades, a Operação resultou na prisão da presidente da Omep (Organização Mundial para Educação Pré-Escolar), Maria Aparecida Salmaze, bem como de Ana Claudia Pereira da Silva, que atuaria como chefe do departamento pessoal na Seleta Sociedade Caritativa e Humanitária, e Kelly Ribeiro Pereira, coordenadora da creche Nossa Senhora do Perpétuo Socorro.

Essas são as três pessoas que tiveram a prisão temporária decretada a pedido do Gaeco nesta terça-feira (13). Elas são alvos da Operação Urutau, que investiga desvios de recursos dos cofres municipais, por meio das entidades, que chegam à casa dos milhões. Consta no pedido dos três mandados de prisão, sete de condução coercitiva e 14 de busca e apreensão, que os investigados fariam parte, direta ou indiretamente, de associação criminosa com a finalidade de lucrar em cima das terceirizações oferecidas pelas duas instituições.

O Gaeco argumentou para obter os mandados que “descobriu-se nas investigações que muitos servidores contratados não prestam serviços em atividades ligadas ao convênio e outros vários sequer trabalham para a Seleta, tratando-se de funcionários ‘fantasmas’”, por exemplo. Além disso, uma das entidades usada notas fiscais frias para justificar o pagamento por serviços variados, alguns com valores elevados, que teriam sido prestados nos Ceinfs (Centros de Educação Infantil) da Capital. “A outra entidade reforçava a conduta duradoura e orquestrada de um grupo criminoso”, completou o Gaeco.

Segundo o Grupo de Combate ao Crime Organizado, entre 2011 e 2015 – período em que Campo Grande teve três prefeitos –, só a Seleta “procedeu vultuosos saques de dinheiro para pagamento de pessoal e fornecedores, que chegariam ao montante de R$ 26,5 milhões”, o que para os investigadores da “tropa de elite” do MPE (Ministério Público Estadual), indicam “a possibilidade de desvio de valores”.

Promotores alegaram ainda que alguns dos investigados tinham padrão de vida incompatível com os rendimentos e que faziam viagens internacionais com frequência, o que seria mais uma evidência dos desvios. “No curso das investigações, descobriu-se que as práticas abominadas persistem”, continuou o MPE.

Para o Gaeco, em resumo, a Seleta e a Omep “são utilizadas para desvios de dinheiro público, com a contratação fictícia de empresas e pessoas”. Duas das pessoas investigadas são da família um “integrante da Câmara Municipal” e “eram beneficiadas com os desvios do dinheiro público, mesmo sendo empresárias”, apontou o Gaeco em mais um trecho da petição feita à Justiça.

Além dessa, outras relações de parentescos foram descobertas pelos investigadores e, em todos os casos, “‘os fantasmas’ recebiam dinheiro público indevidamente”. Crimes de improbidade administrativa, peculato, associação criminosa, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica foram elencados como motivos para a expedição dos mandados.

A Operação

O trabalho das equipes comandadas pelo Gaeco começou no início da manhã. Além de quatro promotores, 36 policiais militares que auxiliaram na ação, estiveram nas sedes da Seleta e da Omep, no gabinete da vereadora Magali Picarelli (PSDB), na creche Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, em uma empresa, um instituto de formação e na casa do presidente da Seleta, dentre outros locais.

Foram alvos dos mandados de condução coercitiva o presidente da Seleta, Gilbraz Marques, a vereadora Magali Picarelli, além de Elcio Paes da Silva, Wenrril Pereira Rodrigues, Eder Tulio Bezerra Pereira, Aliny Aparecida de Souza, tesoureira da Omep, e Rodrigo Messa, genro da presidente da Omep e que já ocupou o comando da entidade.

Os mandados foram expedidos pelo juiz Mario José Esbalqueiro Junior, quando ele estava vinculado à 1ª Vara das Execuções Penais de Campo Grande. As presas seriam encaminhadas para o Presídio Feminino Irmã Irma Zorzi, na Capital.

A Prefeitura de Campo Grande não se manifestou sobre o assunto. Por meio da assessoria de imprensa, a administração municipal informou que não foi alvo da operação e que só comentaria quando conseguisse saber do que se tratava a ação.