Dá pra entender? Perícia quer 372 dias para examinar celulares do caso de moto entregador

O julgamento do motoentregador Bruno César de Carvalho, de 24 anos, pela execução sumária do colega de profissão Emerson Salles da Silva, de 33 anos, ocorrida na noite de 13 de agosto deste ano na lanchonete onde ambos trabalhavam na Avenida Mato Grosso, em Campo Grande (MS), ainda vai demorar. Isso porque a perícia pediu dilação de prazo de 372 dias para entregar o laudo dos celulares apreendidos no caso porque o perito responsável alegou que existe apenas um equipamento disponível para realização de exames em todo o Mato Grosso do Sul.

O dispositivo tem uma capacidade média de extração de dados de dois celulares por dia e até então havia pelo menos 267 aparelhos na fila, todos envolvendo casos de urgência, flagrantes e com réus presos. Por isso, de acordo com ofício encaminhado pela perícia ao delegado Mikail Alessandro Gouvea Faria, da 1ª Delegacia de Polícia Civil de Campo Grande e responsável pela condução do inquérito, torna-se inviável a realização no prazo inferior ao solicitado.

No entanto, os advogados de Bruno de Carvalho demonstraram-se compreensíveis com as condições de trabalho do perito, mas acionaram a Justiça temendo prejuízo à defesa, tendo em vista que o réu está preso e que nos aparelhos a serem periciados há informações que corroboram com a excludente de ilicitude, ou seja, de que ele foi ameaçado por Emerson Salles e mensagens dos celulares poderiam comprovar tais alegações.

“Desta forma, a referida dilação de prazo para a produção da prova é desproporcional constituindo-se em verdadeiro óbice à busca da verdade real, particularmente no presente caso, onde o laudo certamente influirá sobre uma sentença de Absolvição Sumária ou a Pronúncia do Réu”, pontuou a defesa. Neste sentido, os advogados pediram indeferimento do pedido de prazo da perícia e solicitaram a revogação da prisão preventiva.

Entenda o caso

O motoentregador Bruno de Carvalho executou o colega de profissão Emerson Salles na noite de 13 de agosto em frente à lanchonete onde ambos trabalhavam na Avenida Mato Grosso, em Campo Grande (MS). De acordo com a Polícia Civil, prints de uma discussão, via WhatsApp, entre os dois motoentregadores comprovaram que a briga que culminou com a execução foi por causa da falta de Bruno de Carvalho ao serviço.

Nos prints da discussão pelo aplicativo, Emerson Salles manda um áudio para Bruno de Carvalho falando que não gostou de ter trabalhado no lugar do colega, já que o autor teria mandado arrumar a motocicleta. Em resposta, Bruno de Carvalho diz em uma das mensagens “Larga mão de ser cuzão, vai trabalhar, eu preciso arrumar minha moto”.

Em seguida outra mensagem é enviada por Emerson Salles a Bruno de Carvalho: “vamos ver se você é bravo mesmo, fodão”. Bruno de Carvalho responde: “só reclama, aqui não é Corumbá, não”. Logo depois, a vítima manda novo áudio e o autor do homicídio responde: “Então vamos ver o bandidão, se você é o brabo mesmo”. Os dois continuam trocando ofensas e no dia do crime acabam entrando em vias de fato, trocando socos na frente da lanchonete.

Eles chegam a ser separados por funcionários, mas voltam a brigar e Bruno de Carvalho vai até a mochila e retira o revólver avisando que está armado. Em seguida pelas imagens divulgadas é possível ver quando ele faz disparos contra Emerson Salles, que se agarra a pilastra da lanchonete e cai no chão, sendo que neste momento o autor se aproxima e faz um disparo contra a cabeça da vítima, que chega a ser socorrida, mas morre na Santa Casa.

Uma funcionária do local entra em desespero e pede para Bruno de Carvalho não atire contra Emerson, que ainda está vivo, mas de nada adianta. Diante dos fatos, a defesa do autor entrou com pedido da revogação da prisão preventiva, alegando que a manutenção da prisão não se sustenta pelo fato do rapaz ter bons antecedentes criminais, ter residência fixa, personalidade pacífica e trabalho fixo.

De acordo com a advogada Adriana Melo, Bruno teria agido sob violenta emoção no dia do crime e que a família do rapaz não entende como tudo aconteceu e acredita que ele tenha ficado transtornado e perdido a noção de si para cometer o assassinato. Ainda conforme ela, testemunhas teriam afirmado que a briga que terminou em crime teria sido começada por Emerson Salles, com xingamentos e socos contra Bruno de Carvalho. “Estão fazendo um movimento para acabar com a imagem do Bruno”, disse Adriana que afirmou que seu cliente é pacífico.

Para o delegado Mikail Farias, da 1ª Delegacia de Polícia Civil de Campo Grande, as provas apresentadas até o momento pela defesa são fracas e não “justificam” a execução a tiros do colega de trabalho. Em depoimento, Bruno de Carvalho disse que era ameaçado pela vítima e apresentou mensagens trocadas com Emerson dias antes do crime, no entanto, para o delegado, o motivo apresentado não explica a execução à queima-roupa.

“Justificar um homicídio é difícil, tem que ter um motivo muito forte. O que eu vi na discussão que eles tiveram pelo WhatsApp não era motivo nenhum para cometer o homicídio. Era uma discussão normal de colegas de trabalho”, afirmou o delegado. Foram dois dias de discussão por telefone até que na noite de 13 de agosto o suspeito voltou ao local de trabalho, onde foi agredido pela vítima. Imagens de câmeras de segurança mostram que após a briga, Bruno pega o revólver e atira duas vezes a curta distância na direção do colega de trabalho.

“Eu tenho que agir com os fatos e os fatos mostram que ele executou o Emerson. Está no vídeo. Agora o que levou ele a fazer isso só ele sabe. Pelo o que eu tenho hoje, para mim aquilo não é motivo”, analisou Mikail Farias. Bruno de Carvalho andava armado há pelo menos cinco meses, sob alegação de que usava o revólver calibre 32 para se defender da criminalidade, já que trabalhava à noite.

O motoentregador apresentou-se à Polícia no dia 18 de agosto e entregou a arma do crime. Ele foi ouvido e liberado, mas voltou a se entregar no dia 19 de agosto, depois de ter pedido de prisão preventiva ser decretada pelo juiz Aluízio Pereira dos Santos, da 2ª Vara do Tribunal do Júri de Campo Grande, que entendeu que ele deveria ficar preso pelo crime que cometeu.